A revista digital BrooklynVegan publicou hoje (15 de abril) a primeira entrevista dada pelo Paramore após o fim do contrato com a gravadora Atlantic Records.

Nela, a banda falou sobre sua recém adquirida liberdade, sobre os planos para o futuro (confirmando, inclusive, o próximo álbum do Paramore!), a colaboração com David Byrne, Re: This Is Why, e sobre a relação pessoal de cada um dos membros da banda com os discos de vinil.

[Leia aqui a review da BrooklynVegan sobre a carreira da banda, em introdução à entrevista] 

Diante dos novos e emocionantes empreendimentos [do Paramore], conversamos com Hayley e Zac via Zoom – e Taylor mais tarde entrou na conversa, por e-mail.

Vocês confirmaram recentemente que estão independentes, após uma longa carreira na Atlantic e Fueled By Ramen. Quais são os sentimentos de vocês sobre isso, e o que significa para vocês serem independentes?
HAYLEY WILLIAMS: É um profundo suspiro de alívio por termos realizado algo que nem sei se, quando éramos crianças, realmente achávamos que aconteceria, sabe? É uma conquista que não vem para muitas bandas, especialmente na nossa idade… elas não chegam muito a esse ponto muitas vezes, então nos sentimos muito sortudos. Sempre pensamos que não temos realmente nenhuma limitação; podemos continuar fazendo isso pelo tempo que quisermos, ou podemos colocar o projeto na cama e ir embora. Sempre tentamos ter essa mentalidade sobre isso – que isso é uma paixão, tentamos não tratar isso como um trabalho – mas acho que o legal agora é que realmente não há prazos em jogo, não há nada realmente à nossa frente além de céu aberto, e isso é emocionante. É impressionante e também inspirador ao mesmo tempo.

Vocês estão planejando lançar/iniciar uma gravadora própria ou vocês estão procurando gravadoras independentes?
ZAC FARRO: É muito bom darmos um tempo e descobrirmos o que estamos fazendo. Acho que todos nós estamos aproveitando esse tipo de zona tranquila agora e passando tempo com nossa família, amigos e uns com os outros. Então, acho que assim que tivermos um pouco mais de ideia do que queremos fazer, provavelmente decidiremos, mas agora é muito bom estar relaxando e ter algumas coisas interessantes surgindo, [incluindo] uma turnê realmente longa no verão [Europa/Reino Unido] com Taylor Swift. Temos o suficiente acontecendo para nos sentirmos satisfeitos. Não temos uma resposta, e acho que é legal não termos, porque sempre estivemos meio ‘trancados’. Não tínhamos isso desde que éramos uma banda de garagem.

Taylor e eu estávamos conversando outro dia, quando ganhamos o Grammy, nós pensamos: “É uma loucura que 1) ganhamos, mas 2) que crescemos em nossa banda de garagem.” Começamos em nossos porões, literalmente em garagens e quartos de nossas famílias, e ainda somos amigos. O fato de ainda estarmos fazendo música é uma loucura, mas o fato de ainda sermos amigos próximos é o mais legal para mim.

Esse negócio às vezes deixa você muito ansioso – o lado da indústria musical, não a música em si. Dá vontade de se apressar e resolver as coisas, mas, você sabe, tudo vai acontecendo. Então, estamos apenas relaxando.

Vindo da cena punk – obviamente vocês assinaram com uma grande gravadora muito cedo – isso foi algo que já fez vocês hesitarem? 
HW: Ah sim. Quer dizer, éramos tão jovens, com certeza recebemos todo o ódio que você pode imaginar. AbsolutePunk.net – aqueles fóruns estavam alvoroçados sobre o Paramore nos primeiros dias, porque éramos uma história muito diferente, e acho que a ideia romântica era que poderíamos ser como todas as outras bandas. Porque na época, nossos heróis eram – quero dizer, até hoje, minha banda favorita no mundo é o mewithoutYou. Não é como se estivéssemos aqui pensando que íamos dominar o mundo; realmente tínhamos esperanças e sonhos bem doces e inocentes, e quando as grandes gravadoras começaram a se interessar… Não sei se deveria haver um livro, ou se simplesmente um documentário um dia, mas a história de como nós/eu fui assinada foi muito frustrante, porque éramos crianças e não tínhamos muito a dizer, sabe? E nossos pais não conheciam muito bem o lado da indústria – especialmente os meus. O pai do Taylor conhecia um pouco, mas era difícil.

Eu sempre soube que existia meio que essa coisa não dita de que as pessoas estão constantemente questionando se somos uma banda. As pessoas acham que não somos tão punk, ou emo, quanto essa banda aqui para a qual estamos abrindo. E isso foi difícil. Para ser bem honesta, foi um sentimento horrível surgir na cena sabendo que éramos outsiders [pessoas que não se encaixam] dessa forma. Mas acho que o legal foi que a intenção toda da banda e de onde estávamos vindo era bem simples. Acho que a Atlantic sempre ficava meio confusa sobre nossas ambições, porque adorávamos escrever músicas com sensibilidades pop, mas éramos antes de tudo uma banda que amava bandas indie e punk, e isso era meio o que nos movia, sabe? É apenas bom agora que o ponto de interrogação não precise estar lá para ninguém. Demorou 20 anos, mas agora, quando as pessoas dizem algo sobre nós soarmos de uma certa maneira, seja indie, ou pop punk – do que eu não entendo m**da nenhuma – ou emo, seja lá o que for, acho que o legal é que o lado comercial disso, com o qual as pessoas ficaram tão obcecadas, realmente não faz parte da conversa. Me sinto muito aliviada com isso.

Vocês surgiram em uma época em que as grandes gravadoras estavam realmente interessadas nesse mundo, e agora é um momento muito diferente; uma banda relacionada ao punk ou emo assinando com uma grande gravadora seria quase impensável. Como vocês comparam o que uma grande gravadora poderia fazer por uma banda naquela época em relação a hoje, e o que vocês acham possível como artista independente hoje, que talvez não fosse há 20 anos?
HW: Acho que qualquer artista novo que esteja começando tem uma tarefa enorme pela frente, porque as gravadoras também esperam que você meio que seja sua própria máquina de marketing através das redes sociais. Eu realmente sinto muito pelos jovens artistas que estão tentando aprender como estar no negócio e divulgar sua música – o que já é uma coisa assustadora – e que precisam aprender não apenas a criar conteúdo, mas toda a estratégia em torno disso. Sinto que tivemos um bom meio-termo, em que as redes sociais ainda começavam a ser meio que uma coisa. Elas estavam começando a acontecer quando começamos, e éramos jovens e interessados em tudo que era novo e popular. Então foi tipo, ah, o LiveJournal é uma coisa, e aquilo foi nossa comunidade online por um tempo. E, ah, o MySpace é uma coisa, e o PureVolume… isso parecia muito normal, mas agora, o algoritmo, lutar contra tudo isso, essa é a parte sobre a qual fico pensando, não importa se você está em uma grande gravadora ou se é um novo artista que nunca foi ouvido antes. A luta pode ser a mesma para fazer sua música ser ouvida. Acho que, no final do dia, todos sabemos que é uma questão de dinheiro. Tipo, quanto uma grande gravadora realmente vai investir em você, e por quanto tempo o interesse deles vai durar se você não estiver se apresentando ou alcançando certos números? Me sinto muito, muito sortuda pelo Paramore ter tido 20 anos para experimentar o sucesso e o fracasso de várias estratégias de marketing diferentes, e padrões da indústria, e nós levamos tudo isso numa boa – muitos triunfos e muitos fracassos. Mas agora que vamos estar potencialmente por conta própria por um tempo, realmente não sabemos onde vamos parar. Acho que isso nos ajuda a moldar quais serão nossas perguntas para qualquer pessoa que queira, tipo, ‘namorar’ conosco para saber se somos a escolha certa, ou para nós sabermos se eles são a escolha certa.

As gravadoras [são] muito poderosas em certo sentido, mas ao mesmo tempo, porque temos uma forte conexão com as pessoas que apoiaram nossa banda e meio que tivemos isso por um longo tempo agora, acho que somos sortudos porque não estamos submetidos ao poder que uma gravadora pode ou não ter.

ZF: Crescendo era tipo, “Ah, eles estão nessa gravadora, que legal!” Agora é tipo, “Ah, você está naquela gravadora? Como está indo? Como são eles?” Acho que o que é tão legal nos primeiros meses de independência é que, você sabe, obviamente o This Is Why estava na Atlantic, mas dois Grammys, e depois embaixadores do Record Store Day… coisas monumentais [estão acontecendo agora], especialmente o Record Store Day para nós, porque música física é tão… essa é a nossa geração. Não apenas vinil – quero dizer, não éramos super fãs de vinil quando crescemos, mais tarde na vida – mas CDs e fitas, essa coisa física. Esse era o mundo em que crescemos. É realmente legal que possamos entrar nessa nova fase com todo esse reconhecimento. Temos muito orgulho disso, e somos muito gratos.

Então, sobre isso, me contem como vocês se tornaram os embaixadores do Record Store Day deste ano, e o que os interessou sobre essa oportunidade.
HW: Nós somos muito próximos do nosso agente; ele é basicamente o quarto membro da nossa banda. Ele tem nos gerenciado desde a confusão toda com a gravadora nos primeiros dias, quando as pessoas tentavam me contratar e eu queria dizer, “Mas e a banda? E quanto ao fato de metade dessas músicas serem do Paramore?” Acho que ele surgiu como um defensor da banda; ele foi o primeiro defensor do Paramore. Ele é a pessoa para quem mostramos toda a nossa música primeiro. Ele nos traz essas oportunidades, e ele sabe quando nos trazer algo e quando não trazer, e isso foi algo que ele estava realmente animado para nos mostrar. E quando ele nos contou, todos nós ficamos muito animados também, porque, como o Zac disse, essa é uma maneira realmente importante com que nos conectamos com o mundo da música.

Eu ia à Grimey’s, e o Grimey estaria lá e ele diria, “Você ouviu isso? Aqui está um folheto para esse show. Pegue essa compilação de graça,” com tipo duas músicas do Brand New antes de Your Favorite Weapon ser lançado ou algo assim. Era muito mais sobre CDs para nós na época porque eram mais acessíveis para nós, mas lembro-me do primeiro vinil que comprei na Grimey’s, foi o Full Collapse do Thursday em vinil branco. Foi a experiência que pudemos ter, mas que muitas pessoas que estão descobrindo nossa banda agora não necessariamente têm, ao descobrir música. Então, nos animou poder promover essa ideia simples de tipo, se você estiver entediado, talvez apenas vá até uma loja de discos legal. Você não precisa comprar nada; eu costumava apenas ir e perguntar para as pessoas que trabalhavam no caixa o que estavam ouvindo se eu não tivesse dinheiro.

ZF: Sempre está tocando um disco legal, também. Tudo sobre isso é especial. Acho também, outra coisa legal que todos nós amamos e que pessoalmente eu amo é que [vinil é] uma das únicas formas que você ouve música sem pular. Você coloca e deixa, e é assim que a música é destinada a ser ouvida, absorvida como uma peça de arte completa, especialmente os discos. E acho que nossa geração é tipo – é louco, meus dois irmãos mais novos são tipo… eu chamo meu irmãozinho de DJ Skip, porque ele literalmente só ouve 10 segundos de uma música e pula, e eu só penso, é loucura. [Temos apenas três anos de diferença, mas] nós crescemos de maneiras tão diferentes. E eu ainda faço isso, também, mas que coisa bonita ter pessoas prestando atenção à arte como é destinada, e podendo segurá-la e não apenas andar por aí com o telefone e tê-la como parte desse grande coisa que todo mundo mais tem. Ela se torna sua; é pessoal. Acho que há muitas coisas especiais sobre isso, mas essas são algumas das coisas que realmente tocaram nossos corações em fazer parte disso. Acho, especialmente indo para o futuro, que é algo que sempre queremos cultivar e manter muito próximo de nós, promover lojas de discos e lançar nossos discos por meio delas…

HW: E apenas a ideia de prestar atenção. Tipo, nossa atenção está dividida em 100 maneiras o dia todo todos os dias, então qualquer coisa que fazemos, quer estejamos lançando música ou promovendo essa ideia de uma forma de consumi-la, [estamos] também promovendo a ideia geral de prestar atenção. Tipo, se você vai conhecer uma banda, ou uma música, ou seja lá o que for, realmente se envolva. Adoro aquela sensação de folhear encartes de CDs, ou qualquer embalagem de álbum, seja vinil ou não, e ver quem tocou nele – seja uma banda ou um artista muito antigo sobre o qual você não sabe muito, e ver todos os músicos. E na verdade, tenho que dar um pequeno elogio ao Apple Music agora em uma conversa sobre o Record Store Day porque realmente gosto da nova função “ver créditos”. É muito legal; não sei se é assim em todos os álbuns, mas parece que é, porque sempre verifico. Acho que é apenas o jovem nerd de música em todos nós que se envolve com a música; você quer fazer parte dessa cultura e quer entendê-la, então quer conhecer todas as formas de se envolver com ela. E acho que poder ler os créditos e ver quem tocou, quem cantou os vocais de fundo, quem escreveu essa parte – acho que isso também é uma forma de prestar atenção e se envolver e entender o que está consumindo, é apenas um verdadeiro conector. Todo mundo está tão isolado, também, e lugares como lojas de discos são tão saudáveis porque, é tipo, há poucos lugares onde nos sentimos legais quando crianças, nos sentimos seguros. Não éramos tipo, os alunos mais legais da escola, certo? Mas você vai a uma loja de discos e vê adolescentes mais velhos que querem te contar sobre música legal, e no início dos anos 2000 isso realmente significava algo, isso realmente fazia você sentir que fazia parte de algo.

TAYLOR YORK: Lojas de discos independentes têm sido extremamente importantes para mim, e acho que percebo isso cada vez mais à medida que envelheço e elas se tornam mais uma espécie em extinção. Quando adolescente, raramente ia à loja de discos sabendo o que queria comprar. Folheando os divisores de artistas escritos à mão, vendo a arte da maneira como os artistas pretendiam que fosse vista, ouvindo com grandes fones de ouvido os álbuns em destaque da semana, até ficando chateado porque seu álbum favorito de certa banda estava sempre esgotado… tudo parecia tão pessoal e humano, enquanto também parecia mágico. A experiência fazia os álbuns parecerem muito mais valiosos. Navegar por um serviço de streaming não tem exatamente o mesmo efeito. Na verdade, ouço menos música agora porque o streaming não parece romântico. Transmitir um lançamento novo pelo qual você esperou não tem o mesmo impacto que a experiência de comprar algo físico e desembrulhá-lo. Acho que também fico sobrecarregado com a quantidade de opções disponíveis. Tipo, ficamos chateados quando algo não está disponível para streaming. Sentimos essa sensação de ter direito a tudo o tempo todo. Às vezes, isso é demais. Sinto falta dos dias de folheto de CD embaixo do banco da frente do carro. Sinto falta daquela seleção limitada.

Hayley, você mencionou que o seu primeiro disco de vinil foi o Full Collapse. Zac, qual foi o seu?
HW: Oh, eu também quero saber isso.

ZF: Estou tentando lembrar… Lembro-me que o primeiro CD que comprei foi o ( ) do Sigur Rós na Best Buy quando tinha 10 ou 11 anos, e eu fiquei tipo, “Dezoito dólares?! Estão me passando a perna!” Mas sobre vinil, não consigo lembrar. Foi mais tarde, quando me mudei da casa da minha família para minha própria casa, e pensei, “Ah, eu deveria ter um toca-discos, isso seria legal.” Provavelmente foi algo como um disco dos Beatles.

HW: Zac tem uma coleção de vinil bastante eclética porque ele adora descobrir coisas realmente antigas também, como música mundial ou afro-funk. Então, praticamente toda vez que você vai à casa dele e da Kayla, é como… você entra em um vórtice que parece de outro mundo porque… nem sempre há música tocando na minha casa e na do T. Nós adoramos, mas você não pode ir à casa do Zac sem que algo esteja tocando. Acho que a primeira vez que ouvi um disco do Fela [Kuti], provavelmente foi na casa dele. O Taylor também tem uma coleção de vinil bem legal. Ele costumava sempre colocar o D’Angelo – o disco Black Messiah.

ZF: Esse soa tão bem.

HW: Soa realmente ótimo.

Qual é o item mais valioso na sua coleção de discos?
HW: Eu tenho esse single… consegui ele depois do nosso primeiro Parahoy! [cruzeiro], que foi bem difícil. Nossos amigos do mewithoutYou vieram tocar na turnê, e eles me enviaram um single que continha algumas de suas primeiras gravações, com um bilhete do [vocalista do mewithoutYou] Aaron [Weiss] em uma caneta dourada que mal conseguia ler. Isso é muito especial para mim. Também acho que comprei três daqueles relançamentos do Radiohead, OK Computer OKNOTOK. Esse é muito especial para mim, porque eu amava o Radiohead quando éramos adolescentes e então, nos meus 20 anos, eu disse para mim mesma que não gostava deles para ser diferente. Acho que estava tentando ser uma pessoa “me escolhe, me escolhe”, acho. E então me lembro que escrevi uma mensagem para o Taylor em 2016 tipo, “Sinto muito mesmo, você está certo, estou obcecada por eles”.

ZF: Nosso amigo muito próximo Scotty [Cleary], que projetou a capa do nosso álbum After Laughter, me mostrou esse álbum de Jacques Dutronc, Et moi, et moi, et moi, e ficamos obcecados por ele. É de 1966 e tenho uma cópia original e é francês… é um dos meus álbuns favoritos. Gosto de terminar todos os meus sets de DJ com ele. Scotty viu em uma loja em Nova York por cerca de 60 dólares, o que é muito barato, e agora estão por volta de 300 dólares. É muito raro. Se eu tivesse que salvar um disco para uma ilha deserta ou algo assim, pegaria aquele.

HW: É isso que estou dizendo, cara! A coleção dele é profunda. É legal.

ZF: Acho que também tenho um original Ram de Paul McCartney, que é um dos meus álbuns favoritos.

TY: Provavelmente Finally We Are No One, de Múm. Eu dormia ouvindo esse disco todas as noites por mais de um ano no ensino médio. Já estava fora de catálogo quando comecei a procurar.

Então, vindo da era dos CDs, o que levou vocês a construírem uma coleção de vinis?
ZF: Quero dizer, tenho muita inveja das pessoas que têm tipo, 4.000 discos de vinil e um cômodo dedicado a isso — eu quero fazer isso um dia. Ter uma agulha física reproduzindo, o som é muito melhor do que o digital. É simplesmente incrível para mim. A qualidade sozinha poderia ser motivo suficiente para comprar vinil. Também sou muito suscetível a ver as coisas grandes; vemos as coisas em um telefone e é uma arte legal, mas quando você realmente pode segurar, é tão legal segurar algo como um livro e sentir e ler enquanto ouve. Toda a experiência é realmente linda.

HW: Eu sei como é ter um desses cômodos porque em minha vida passada eu era parceira de alguém que tinha muitos [discos]. Então, quando me divorciei, levei pouquíssimas coisas. Mudei-me para a casa mais perfeita; estava infestada de morcegos. Tinha uma vibe. Eu só levei algumas coisas, tinha um disco do Rufus and Chaka Khan, alguns discos do Talking Heads, apenas coisas mais animadas que eu sabia que me faziam sentir como eu. Passar de viver em um lugar com muitas coleções de coisas para ter apenas o que sei que é realmente especial para mim, acho que foi uma experiência muito boa para mim, porque agora, quando olho para os discos de vinil que tenho, não são muitos, mas são coisas que têm um significado sentimental, ou me transportam para algo. Me lembram de uma noite com meus amigos no meu aniversário, ou uma noite desempacotando caixas no meu novo lugar e sentindo um verdadeiro senso de autonomia sobre o que é meu e o que me faz bem. E essa é outra razão pela qual acho que pegar discos e tornar essa experiência tátil sua é tão importante. É uma experiência muito importante para quem ama música porque a memória que você cria é muito legal. Não há nada mais romântico do que estar em casa sozinho, servir-se de algo para beber, e colocar um disco antigo que você sabe que significa algo para você e apenas estar bem com isso. E estar realmente presente, e como estávamos dizendo antes, prestar atenção. Isso realmente fundamenta você. Acho que foi isso que me deixou animada em ter um toca-discos em minha casa e em pegar emprestado os alto-falantes antigos do meu pai que, tipo, parecem muito legais, velhos e surrados. Eu amo isso. É muito bom.

Falando dos Talking Heads, vocês fizeram um split com David Byrne, em que ele faz um cover de “Hard Times” e vocês fazem um de “Burning Down the House”. O que significa para vocês não apenas ter um split com David Byrne, mas tê-lo fazendo um cover de uma das músicas do Paramore?
HW:
Cara, a primeira vez que ouvimos a demo dela — antes dele ir para o Electric Lady e gravar — parecia o começo das coisas do Talking Heads, ninguém soa como David Byrne de qualquer maneira, mas quando são nossas melodias e as pequenas partes que ele incluiu, e até as partes que ele omitiu, diz muito sobre como ele cria, e o que ele ouve, e onde ele coloca valor. E então, a primeira vez que ouvimos a versão final com as trompas e tudo mais, foi realmente incrível. Eu conhecia algumas músicas do Talking Heads desde o final da minha adolescência e início dos meus vinte anos — conheci especialmente quando o fun. fez uma turnê conosco; Jack [Antonoff] sempre me mostrava coisas diferentes para as quais ele sabia que eu não tinha sido exposta tanto assim —, mas ter meu próprio momento de descoberta com [o Talking Heads], e ter me conectado tanto com isso enquanto estávamos fazendo o After Laughter, como eu adormecia assistindo ao Stop Making Sense todas as noites e via coisas diferentes a cada noite… Não conhecemos muitos de nossos heróis; não somos a banda que está em todos os eventos, não fazemos todas as coisas e cumprimentamos todas as pessoas. Talvez, conforme ficamos mais velhos, vamos apenas dizer, “Claro, por que não,” vestir um smoking e ir a uma festa, mas não fazemos muito isso. Então, o fato de o David Byrne ter vindo nos ver no Madison Square Garden em sua bicicleta fofa, e aparentemente ter adorado o show, isso iniciou um diálogo, e ainda não podemos acreditar. Ele me enviou um e-mail esta manhã — literalmente esta manhã, recebi um e-mail de David Byrne, ele nos parabenizou por algumas coisas, e então terminou com uma foto muito engraçada que ele deve ter tirado em uma caminhada para casa ou algo assim — eu não sei, talvez ele tenha visto na internet.

ZF: O Instagram dele está cheio disso, muito obscuro… é incrível, sua fotografia. Não sei se ele encontra as fotos ou as tira, mas é incrível. E a Hayley recebeu uma personalizada.

HW: Eu recebi uma personalizada, e enviei uma foto de volta para ele, de rosas feitas em papel higiênico… difícil de explicar. Mas é uma daquelas situações em que é como, “OK, sim, podemos conhecer nossos heróis. Tudo bem às vezes. Não deveria ser assustador.” Este é alguém que impactou profundamente a trajetória de nossa banda e nos fez ficar animados novamente sobre o quanto mais poderíamos aprender, sabe, 15 anos depois em nossa carreira. Foi como, “Ah… sim, nós realmente gostamos de ritmo, na verdade sempre gostamos de ritmo.” Isso foi um novo começo para nós.

ZF: Também é muito encorajador estarmos em nossos meados dos trinta anos e pensar, “Ah, estamos neste ponto em que talvez pudéssemos ser assim para alguém também, quando tivermos a idade dele.” Isso nos fez sentir como crianças novamente, da melhor maneira. Aquela empolgação inicial que tivemos com a música, quando ouvimos aquilo… há muito poucos momentos que te levam de volta à juventude, porque estamos sempre realmente focados e trabalhando e fazendo shows. Isso realmente nos acordou de novo de uma maneira muito legal.

Seu outro lançamento do Record Store Day é o álbum de remixes do This Is Why. Me contem um pouco sobre como vocês selecionaram os artistas para isso, e o que vocês esperam que as pessoas tirem de um álbum assim?
HW:
A ideia de reunir um monte de pessoas que nos inspiram muito, ou com quem temos uma história, ou que foram impactadas por nossa banda de alguma forma — comecei a pensar nisso mais quando fiz [meu álbum solo de 2020] Petals for Armor, e realmente queria mostrar influências que eu achava que as pessoas não esperariam. Meu sonho na época era ter Missy Elliott remixando algo do Petals for Armor, e isso literalmente é de onde veio a semente da ideia. Essa conversa meio que se dissipou, e então… para ser bem honesta, realmente não queríamos escrever ou gravar músicas extras, estávamos muito animados que This Is Why seria o álbum final para nosso contrato. É meio que, qualquer coisa que estivesse além daquele ponto, gostaríamos de poder possuí-la. Então, a conversa voltou, tipo, “OK, e quanto a todas as nossas influências, e quanto às pessoas com quem fizemos turnê que realmente amamos e om quem nunca conseguimos colaborar?” Então voltamos a tentar fazer essa ideia acontecer — conversamos com a Missy! Conseguimos falar com ela ao telefone; esse foi outro daqueles momentos que não podíamos acreditar. Mas acabou não funcionando, porque tenho certeza de que ela ainda é muito ocupada. Mas conseguimos todos esses amigos e pessoas que admiramos tanto. E também uma banda como The Linda Lindas, que ainda é tão faminta e animada, e que nos lembra de nós mesmos de tantas maneiras diferentes. Elas também são muito mais inteligentes do que nós éramos, e são muito mais punk do que nós éramos. Todas elas vão realmente terminar a escola; nós estávamos apenas fazendo besteira em uma van. Elas, para mim, são muito promissores do que a cena musical pode ser no futuro. Tipo, jovens devem ser levados a sério em bandas, e sabemos como é ter pessoas duvidando de nós por causa de nossa idade, ou talvez porque eu era uma garota pequena liderando uma banda. É muito importante para nós fazer o nosso melhor para apoiar uma banda como elas, e realmente elevar as pessoas que amamos e acreditamos. Isso é apenas o que aquele disco é, nós tentando elevar pessoas em que realmente acreditamos, ou que acreditaram em nós de alguma forma, e é divertido compartilhar momentos assim. Ainda fico muito emocionada com a versão de “Crave”, de Claud. É muito comovente. Essas pessoas fizeram algo com essas músicas… acho que eles acessaram as letras de um ângulo diferente do que eu fiz, e eu realmente gostei disso. A versão de “Thick Skull” da Julien [Baker] é devastadora — qualquer coisa que Julien faz é dilacerante. Foi apenas um projeto muito especial para nós, e diferente.

Hayley, em agosto você postou que o Paramore já estava escrevendo novamente. O que você pode compartilhar neste momento, sobre como estão saindo as novas músicas?
HW: Assim como sempre, esperamos que qualquer coisa que lançarmos a seguir surpreenda as pessoas e as faça dizer: “Ah! Eu não esperava que fosse por esse caminho.” É isso que sempre esperamos de alguma forma. Estamos apenas nos divertindo com isso. O melhor para nós é quando é meio assustador, porque então pensamos, ‘Oh, ainda não fizemos isso’, ou ‘ainda não sentimos essa sensação’. Ainda estamos dando os primeiros passos nisso. Não estamos colocando tanta pressão no processo, mas estamos criando coisas, e é muito bom. É muito bom não saber completamente como vai sair, porque novamente, esta é a primeira vez desde que éramos crianças de verdade que temos essa liberdade.

Tradução: Larissa Stocco/Paramore Brasil

Paramore Brasil
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