Em um artigo publicado através do jornal The Los Angeles Times no dia do lançamento (28) do novo single e videoclipe de “This Is Why”, a jornalista Suzy Exposito reune uma linha do tempo da trajetória da banda extremamente detalhada, fazendo menção também a pontos relevantes como a influencia da banda para novos artistas, a relação de This Is Why com a pandemia e implicações na vida dos membros, a inclusividade de minorias na cena pop-punk e muito mais.

Você pode conferir a materia traduzida na íntegra a seguir:

À medida que a nostalgia emo cresce, o Paramore retorna, com um novo som e uma aparência muito mais saudável

Há vinte anos atrás, se você falasse pra vocalista do Paramore, Hayley Williams, que ela iria se tornar  uma das cantoras pop mais influentes da América, ela talvez teria feito uma cara feia. Com um cabelo com cores fortes, milagrosamente dotada de um pulmão digno de um coral de igreja do Sul dos Estados Unidos, ela não enxergava isso naquela época – muito menos seus colegas de infância e de banda, Zac Farro e Taylor York – mas o Paramore criaria então músicas que alterariam as trajetória do rock e do pop.

Artistas como Olivia Rodrigo, Demi Lovato e Willow Smith já citaram as canções do Paramore como a planta pra edificação das suas confissões ferozes de pop-punk. No seu hit “Good 4 U”, Olívia Rodrigo deu os créditos ao Paramore, citando os versos da canção “Misery Business”, de 2008, uma carta amarga escrita para a rival de Hayley na adolescência.

“O que parece mais misericordioso de tudo isso é que nós não sabíamos que estávamos fazendo nada de diferente naquela época,” Williams conta ao The Times. “Eu uso a palavra ‘misericordioso’ porque nós não poderíamos ter previsto que as pessoas ainda se importariam 20 anos depois. Nós estávamos só comendo pasta de amendoim e vivendo o sonho.”

Por trás com uma parede de pilhas e baús de equipamentos musicais, Williams, de 33 anos, o baterista Zac Farro, de 32, e o guitarrista Taylor York de 32, se ajeitam no sofá de couro. O cachorro carismático de Hayley, com seu pelo dourado, Alf, domina o estúdio: ele passa por cima de Williams, enrola o corpo no pescoço de Farro como um cachecol requintado se contorcendo, e finalmente se enrola em uma bola ao meu lado. Williams, vestindo um moletom branco estampado com as palavras “Main Character” (personagem principal, em português) em strass, ri da audácia de seu cachorro; “Eu sinto muito. Ele é uma estrela”, diz ela.

A banda oficialmente acabou de encerrar a produção do seu próximo álbum chamado “This Is Why”, que deve ser lançado no dia 10 de fevereiro de 2023. O single principal carrega o mesmo nome – e é o primeiro trabalho da banda desde o álbum “After Laughter”, em 2017 – e é uma tapeçaria com ritmo do funk americano, com percursões e traços fortes de guitarra. O clipe de “This is Why”, dirigido pelo vocalista do Turnstile Brendan Yates, tece caminhos pro passado do rock ‘n’ roll, mas coloca a banda firmemente de volta ao primeiro plano do presente do pop.

A banda soltou um teaser de “This Is Why” em setembro pela primeira vez, com uma foto dos membros jogados contra uma parede de vidro. Essa imagem trouxe à mente as restrições trazidas pelo COVID-19, e a hostilidade residual entre as epssoas. “É por isso que eu não saio de casa,” Williams canta na nova música, “você diz que a barra está limpa, mas você não vai me pegar lá fora!”

“O quão triste é que nós passamos por essa coisa horrível no mundo todo, como seres humanos,” diz Williams. “Seja racismo, ou teorias da conspiração… Eu penso sobre como a internet deveria ser essa grande ferramenta de conexão, mas acaba nos deixando mais fechados e distantes. Eu vi muitas pessoas serem horríveis umas com as outras. Como que nós podemos passar por tudo isso e sair ainda piores?”

Ironicamente, o Paramore está se preparando pra ver pessoas do que todas as que eles viram nos últimos anos em conjunto – nesse outono, eles vão tomar a estrada pela primeira vez desde 2018. Começando dia 2 de outubro em Bakersfield, a turnê inclui shows em Los Angeles nos dias 20 e 27 de outubro, e três noites no festival pop-punk emo When We Were Young, que está com os ingressos esgotados, marcado pra acontecer em Las Vegas, nos dias 22, 23 e 29 de outubro.

O Paramore vai ser o co-headliner do festival com outra banda emo essencial pra comunidade, My Chemical Romance. Mas tem uma coisa: eles talvez tenham que tocar ao mesmo tempo em palcos diferentes.

“Eles querem guerra!” brinca Williams, uma fã de longa data de MCR. “Nós não pensamos que existiria tanta demanda. Nós tomamos muito cuidado na forma como encorajamos a nostalgia; cinco anos atrás nós teríamos dito “com certeza não” pra isso. Mas eu acho significante que a gente se sinta confiante o suficiente pra manter a jornada que nós trilhamos e celebrar isso com os fãs.”

Parte da diversão não foi aproveitada por Williams, que ficou famosa durante uma época extremamente diferente para as mulheres dentro do rock. O Paramore costumava ser diminuído, e designado somente à palcos femininos nos festivais, como o Shiragirl Stage na Vans Warped Tour. Ainda enquanto menor de idade, Williams foi julgada como objeto sexual pela cena punk; e com sua própria confissão sobre “Misery Business”, que cruelmente diminui outra mulher, ela afirma que a música envelheceu de uma forma muito ruim desde que foi lançada. Williams retirou a música da setlist da banda em 2018, citando a letra sexista como motivo “Once a whore, you’re nothing more” (“Uma vez v*****, você não é mais nada”), mas a música brevemente ressurgiu no palco do Coachella em abril, onde Williams apresentou uma versão corrigida ao lado de Billie Eillish.

“Não era legal ser feminina naquela época”, Williams explica. “Eu coloquei um freio nisso em nome da minha própria confiança, porque era difícil entrar em um espaço dominado por homens – e nem mesmo como uma mulher, mas sim como uma garota.”

“Eu acho que é por isso que uma perspectiva feminina é muito importante nos dias de hoje na música,” relata Farro.

Os sonhos de estrelado no mundo do rock de Williams se tornaram realidade muito cedo na sua vida. Depois do divórcio dos seus pais em 2022, Williams e a sua mãe se mudaram da sua cidade natal Meridian, Mississipi, para Franklin, Tennessee, uma viagem de 30 minutos ao sul de Nashville. A cantora e compositora prodígio, nova no circuido musical da cidade, foi descoberta pelo empresário Dave Steunebrink e o produtor Richard Willianms; ela então assinou um contrato com a Atlantic Records em 2004, com apenas 15 anos.

Inicialmente a gravadora preparou Williams pra ser uma artista solo, no mesmo estilo de artistas como Kelly Clarkson e Avril Lavigne. Entretanto, Williams, já comprometida com o punk, insistiu em permanecer com os seus amigos de banda: o então baixista Jeremy Davis, guitarrista Josh Farro e seu irmão mais novo Zac na bateria. (Taylor York optou por terminar a escola antes de fazer oficialmente parte da banda como guitarrista em 2007).

Enquanto Willians manteve o seu contrato solo com a Atlantic, a gravadora decidiu lançar o álbum de introdução da banda em 2005, chamado “All We Know Is Falling”, através da marca Fueled By Ramen, que também carregada nomes do emo como Jimmy Eat World, Fall Out Boy e Panic! At The Disco. Com o lançamento do LP de Riot em 2008, a banda ascendeu ao Top 40, seguido do o hit “Decode”, da trilha sonora do filme Crepúsculo.

De qualquer forma, o acordo separado feito com Williams, assim como as diferenças em fé e estilo, provocaram uma discordância entre os membros da banda. Depois de lançar o álbum “Brand New Eyes”, em 2009, os irmãos Farro decidiram sair da banda em 2010, alegando o desejo de ficar mais perto da família. Jeremy Davistrabalhou intermitentemente entre os anos de 2005 e 2015; depois de sua saída, ele processou a banda reivindicando os direitos das músicas do álbum “Paramore”, de 2013.

Os membros restantes da banda, Williams e York, ganharam o Grammy de melhor canção de rock em 2013 com o hit com referências gospel, “Ain’t It Fun”. Ainda assim, os dois acharam dificil celebrar a vitoria; Williams começou a batalhar com algo que só mais tarde entenderia como depressão e Transtorno de Stress Pós-Traumático, enquanto York desenvolveu sintomas de ansiedade aguda. “Eu estava lugando com agorafobia (medo de lugares públicos e espaços abertos) já antes da pandemia”, ele diz, com um toque de leveza.

Em 2016, Williams casou com o seu parceiro de 9 anos, Chad Gilbert, guitarrista da banda New Found Glory. O casamento terminou no ano seguinte, devido ao que Williams descreveu como problemas de fidelidade. Ela começou tratamento terapeutico logo em seguida.

“Em retrospectiva, eu posso ver claramente que eu estava procurando por um núcleo familiar que eu não tinha”, diz ela. “Eu estava irritada com isso há bastante tempo.”

Durante esse período, Williams trocou mensagens com Zac, que tinha seus próprios projetos, Novel American and HalfNoise, e havia se mudado pra Nova Zelândia há 2 anos. Zac voltou para Nashville para gravar as baterias do álbum “After Laughter”, lançado em 2017 – um álbum de 12 faixas que tenta aliviar a depressão com melodias dançantes, com a sonoridade influenciada por grupos de new wave como Talking Heads.

“De alguma forma, nós metabolizamos todos os estilos que nós amamos e escutávamos enquanto estávamos crescendo, ou então que aleatoriamente descobrimos, e ainda assim [o álbum] soa como nós,” diz Williams.

A banda satisfaz ainda mais suas curiosidades sonoras em “This Is Why”, que é acentuada por ritmos sincopados e riffs de guitarra irregulares. A banda absorveu os sons de bandas do Reino Unido como Radiohead e Bloc Party, diz o produtor Carlos de la Garza, que mora em Los Angeles; o LP de funk-punk de 1985 do Red Hot Chili Peppers, “Freaky Styley”, também desempenhou um papel muito importante durante o processo de gravação.

“Vocês tem um novo animal,” ele diz para o trio.

“Foi recentemente que os meus mundos interno e externo se tornaram congruentes, onde eu me sinto segura,” diz Williams, olhando para Farro e York. “Eu penso que conforme mais pessoas LGBTQIA+ entram no mainstream trazendo discussões, as pessoas se tornaram mais familiares com o termo “chosen family” (família escolhida, em tradução). Essa banda me manteve longe de apuros. Me deu espaço pra pertencer e me identificar.”

Os shows ao vivo do Paramore tem um propósito similar para a sua diversa fanbase. Antes da pandemia, os shows do Paramore encerravam com a vocalista escolhendo um fã da plateia pra subir no palco e cantar com a banda.

Nas mídias sociais, as pessoas compartilham fotos de fãs negros e pardos – minorias marginalizadas dentro da indústria da música – tremendo e chorando com alegria ao mesmo tempo que cantam suas músicas favoritas do Paramore ao lado de Williams.

“I sinto uma paixão feroz e quero proteger pessoas que não se parecem comigo,” diz Williams, que usou o seu Instagram pessoal como plataforma antirracista durante os protestos em nome de George Floyd no verão ameircano de 2020.

“Não que exista qualquer comparação, mas tem algo que aprendemos a partir de não saber onde nos encaixar enquanto crescíamos,” adiciona Farro.

“Nós nos beneficiamos da alegria das pessoas se sentindo lives e bem vindas nos nossos shows,” diz Williams. “Eu quero que as pessoas vejam diferentes fãs no palco. Se todos tivessem a mesma oportunidade, eu acho que nós ficaríamos surpresos [em ver] quem subiria no palco se tivesse a chance.”

“É nossa responsabilidade elevar novos artistas e jovens,” diz Williams, que amplificou artistas indie como Phoebe Bridgers, Nova Twins e Pom Pom Squad no seu podcast para a BBC Sounds, “Everything Is Emo”.

“Eu estou empolgada como tudo está mudando, que existam mais minorias crescendo na cena, e outras tantas bandas incríveis novas que estão dando uma aula pra bandas como nós,” diz Williams. “Nós temos que continuar facilitando e dando mais esperança e tornando a cena mais equitativa pra todos.”

Paramore Brasil
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