Em nova entrevista, Hayley Williams falou sobre o ‘This Is Why’ – uma das grandes apostas da Rolling Stone para o Grammy 2024, a premiação mais importante da indústria musical –, a vitória do Grammy por ‘Ain’t It Fun’, as diferenças (e semelhanças) entre o quinto e sexto álbum de estúdio do Paramore, a pandemia da Covid-19 e sobre a amizade existente entre a banda, retomada com ainda mais força após o retorno de Zac para o grupo.

Confira a tradução abaixo:

Hayley Williams estava com medo de não conseguir enfrentar o mundo – então o Paramore ‘se encontrou’ novamente

A banda lutou contra o medo e a ansiedade ao criar This Is Why. Agora, Williams fala sobre como eles se reuniram novamente e por que todos querem ganhar um Grammy por Zac Farro.

Na noite anterior ao lançamento do sexto álbum de estúdio do Paramore, This Is Why, eles compartilharam uma lista de todas as coisas que estavam pensando enquanto trabalhavam no LP: Agorafobia. Tédio. Psicopata Americano. Um dos itens dizia: “Confusão sobre a diferença entre egoísmo e autopreservação”.

“Fazer o This Is Why não foi uma experiência confortável para nenhum de nós”, diz a vocalista Hayley Williams. O álbum não foi fácil: houve preocupação nascida da pandemia, mas também a incerteza persistente que acompanhou o Paramore nos últimos 20 anos. This Is Why, a sequência do transformador After Laughter, de 2017, foi o primeiro disco da banda criado com a mesma formação do anterior: Williams, Zac Farro e Taylor York. Quando o Paramore foi indicado para ‘Artista Revelação’ no Grammy de 2008, York ainda não havia entrado na banda. Então, quando eles realmente ganharam – levando para casa a ‘Melhor Canção de Rock’ por “Ain’t It Fun”, em 2015 – uma briga tumultuada cinco anos antes significou que Williams e York estavam lá para isso, mas Farro não.

“Crescemos conhecendo todas as piores partes um do outro e ainda nos amamos”, diz Williams. “Quer dizer, veja toda a merda que passamos. Nossa banda basicamente se separou um milhão de vezes. E Zac nos encontramos novamente. Isso me faz continuar. Também me deixa animada pensar: quem diria que chegaríamos aqui? O que diabos pode acontecer nos próximos 20 anos? Nós não sabemos.”

This Is Why carrega muitas perguntas, muitas vezes sem resposta. O que você aprendeu sobre si mesma ao fazer esse álbum que te surpreendeu?
Que sou capaz de encarar meu desconforto. Estou sempre em busca de conforto. Parte disso é merda que vem da minha família de origem. Crescer nela significou muito amor, mas foi uma situação de família muito desfeita. À medida em que envelheci e, especialmente, à medida em que o Paramore foi capaz de encontrar o sucesso, eu pude me dar ao luxo de dizer: “Ok, vou criar uma casa para mim. Vou fazer com que pareça segura.” Um dos meus valores fundamentais é a segurança. Um lar não precisa parecer muito, mas precisa parecer seguro e protegido. Então, estou constantemente procurando: “Bem, qual é o caminho mais confortável?” E isso nem sempre me serviu. Na verdade, eu diria que isso me impede de crescer.

Quanto do This Is Why foi o produto do aprofundamento das realizações que surgiram no After Laughter?
Com o After Laughter, eu estava muito desconectada de mim mesma, de uma maneira diferente. Eu realmente tinha me abandonado. Eu não estava animada com a vida porque estava muito machucada. Eu estava com muita dor emocional. Quando estávamos escrevendo aquele disco, eu não tinha nada a perder sendo realmente honesta. Eu também não tinha consciência do que realmente estava falando, como se não entendesse realmente a depressão. Eu não sabia nada sobre PTSD. Achava que era algo que você tinha que ir para a guerra e voltar para ter, sabe? Mas quando terminamos aquele álbum, eu já sabia o que isso poderia ser: depressão.

Aí fui diagnosticado e realmente tentei me cuidar. As pessoas falam que a raiva e a depressão estão sempre relacionadas, porque a depressão é como se você direcionasse sua raiva para dentro. E acho que há pedaços dessa raiva misturados com pedaços dessa compreensão real de como pode ser frustrante acordar com depressão. Depressão sobre suas próprias escolhas, depressão sobre o estado do mundo, depressão sobre relacionamentos ou conexões perdidas, ou propósito. Todas essas coisas são muito pesadas e você não consegue controlá-las. Então, neste ponto, escrevendo This Is Why – tendo aprendido sobre minha própria experiência e olhando-a de frente – acho interessante pensar que isso é um ponto fundamental para a angústia, a ansiedade e a preocupação que This Is Why contém.

Falando sobre ‘base’, esta é a primeira vez que a formação do Paramore não muda entre os álbuns. Tendo feito cinco álbuns nos últimos 20 anos, vocês acham que vocês três ainda se surpreendem?
Oh meu Deus, sim. De alguma forma, aos trinta anos, ainda mantemos a capacidade de explorar as crianças de 11, 12 e 13 anos que cada um de nós tinha dentro de si quando nos conhecemos. Ainda podemos brigar no estúdio, ainda podemos ficar intimidados em mostrar uma ideia a alguém, mas também podemos melhorar uns aos outros.

Na verdade, Zac acabou de nos mostrar seu novo disco do HalfNoise. Como escritor, ele me surpreende o tempo todo porque a voz dele é muito boa. Ele escreve melodias que me deixam com inveja, eu fico tipo, “Caramba, por que não disse isso em uma música?” E Taylor escreve melodias que ele mostra para mim e Zac, e eu fico até com medo de como diabos devo entrar nisso como cantora.

Eles não apenas me desafiam, mas também me ensinam, e todos aprendemos uns com os outros; minha experiência é um equilíbrio entre sentir aquele desafio e intimidação que senti quando criança, quando os conheci, e também me sentir muito fortalecida por eles, porque eles acreditam em mim e nós confiamos um no outro.

O Paramore foi indicado como ‘Artista Revelação’ no Grammy em 2008, depois ganhou o prêmio de ‘Melhor Canção de Rock’ em 2015. Esses elogios significam algo diferente para você, quando pensa neles sendo concedidos ao Paramore em seu estado atual?
É, nós fomos nomeados algumas vezes e depois ganhamos. O único para o qual a gente não compareceu foi o que a gente ganhou, o que é engraçado. Não tenho vergonha nenhuma de dizer que queremos ganhar pelo Zac. Não é esse o motivo para que alguém esteja no estúdio, batendo a cabeça contra a parede, tentando fazer arte, certo? No entanto, o Zac nunca passou por essa experiência com a gente.

Zac foi o primeiro amigo que fiz na música. Tudo o que tínhamos eram nossas bandas favoritas em um CD caseiro. Aprendemos a ser uma banda juntos, aprendemos sobre amizade um com o outro. Conhecemos o Taylor naquele mesmo ano, em 2002. Depois de tudo o que passamos, parece que assim que o Zac voltou para a banda, depois de passar seis anos longe de nós, nós não apenas ganhamos nosso garoto de volta, nós ganhamos nós mesmos de volta. Nós ganhamos nossa infância de volta. Essa coisa que nos fazia quem nós éramos, nós ganhamos isso de volta. E é um imenso superpoder quando estamos juntos.

No fim de tudo, agradecidamente sabemos que não importa se perdermos. Você ainda continua você mesmo e continua sendo capaz de fazer ótima arte, mesmo que ninguém esteja te dando tapinhas nas costas. Mas, foda-se, queremos ter essa experiência da forma que somos hoje, com o Zac, que é imensurável para a banda, criativamente e como pessoa. Essa é a verdade. Nem sempre é bom ficar tipo, ‘Queremos ganhar’, mas isso seria legal.

O lugar do Paramore na conversa sobre o “rock” evolui com frequência, devido à fluidez do som da banda. O que você se lembra de ter sentido quando o Paramore ganhou o prêmio de ‘Melhor Canção de Rock’ em 2015, por “Ain’t It Fun”, que tem tantos elementos pop e gospel?
Eu estava na Europa quando descobri que fomos nomeados – não pude acreditar, não procurei me preocupar se seríamos nomeados ou se não seríamos. E então, quando vencemos, não comparecemos. Recebi uma mensagem de Taylor Swift e Taylor York nos primeiros 30 segundos [após o anúncio da vitória]. Taylor, ela me mandou uma mensagem com um monte de letras maiúsculas, tipo “[ruídos aleatórios] estou tão animada por você!” Fiquei muito chocada.

E então Taylor – acho que ele até me ligou – ele estava todo emocionado, chorando porque não conseguia acreditar. Ele estava assistindo ao pré-show e ouviu eles anunciarem nossos nomes. Minha bunda nem sabia que isso existia. Ficamos realmente chocados, principalmente porque não éramos uma banda de rock comparada àquela categoria na época. Recebemos muitas críticas por não sermos tão rock quanto as outras pessoas. Mas também significou muito para mim quando as pessoas disseram: “Você é a primeira artista feminina a vencer esta categoria desde Alanis [Morissette, em 1999]”. Eu me senti muito honrada e orgulhoso por Taylor e eu termos escrito algo que pudesse ser reconhecido dessa forma.

Sempre penso nos álbuns lançados há dois ou três anos que foram rotulados como “discos pandêmicos”. Agora tudo o que estava nesses discos foi integrado ao nosso dia a dia. O isolamento, a ansiedade, a falta de empatia – tudo isso se tornou apenas parte de um novo normal. O que você pensava sobre o This Is Why estar criando um espelho para o mundo exterior, enquanto você o fazia?
Fazer o This Is Why não foi uma experiência confortável para nenhum de nós. Já havia ansiedade em voltar ao ritmo de criarmos coisas juntos depois de algum tempo separados. Estávamos saindo bastante juntos, mas não estávamos criando coisas ainda. Zac estava focado no HalfNoise e eu fiz alguns projetos, um com Taylor, no qual Zac também tocou. Mas pensar tipo, “Ok, agora vamos para o Paramore”, isso induziu ansiedade. E o mundo ainda era assustador e nada mais parecia certo, na verdade.

Senti muita ansiedade em estar perto de pessoas novamente, aquelas que não eram apenas da minha bolha. E saber que eu voltaria para o mundo novamente quando terminássemos o disco foi realmente assustador. Não porque pensei: “Vou pegar COVID”. Não peguei COVID até começarmos a turnê novamente. Foi mais sobre o que isso fez comigo, em minha mente. Parte de mim se acostumou a ver apenas as pessoas que conheço pessoalmente e que estão dentro de todo esse contexto – minha família, meus colegas de banda, o que quer que seja. E agora tenho que estar perto de todo tipo de gente. Pessoas que provavelmente não pensam da mesma forma ou que não se alinham comigo politicamente. Não sabia como iria me sentir. Não sabia como seria. Não sabia se as pessoas iam gostar dessa versão minha e/ou do Paramore.

E experimentamos juntos uma ansiedade do tipo: “Espere, temos que convidar o mundo inteiro para a nossa porta novamente e temos que realmente sair e estar lá fora quando a hora chegar?” É uma merda assustadora, mas, novamente, acho que ser capaz de encarar qualquer tipo de desconforto só vai te ensinar coisas. Isso só vai fazer você crescer. É disso que tenho mais certeza.

Perto do final da turnê, você desenvolveu uma infecção pulmonar e tentou seguir em frente antes de tomar a decisão de cancelar para poder melhorar. Que tipo de dissonância isso criou entre sua mente e seu corpo?
Oh cara, foi devastador. Estar em turnê é difícil para o corpo, é difícil para o cérebro. Mas essas duas horas que você passa com as pessoas que estão no show são diferentes de tudo. Especialmente quando o mundo parece estar literalmente desmoronando ao nosso redor, poder experimentar a alegria das pessoas todas as noites é um verdadeiro presente, porque você pode facilmente esquecer que esse tipo de alegria existe quando você está online ou vê as notícias. Isso foi realmente curativo para mim e acho que provavelmente me ajudou a aguentar mais shows do que deveria.

Eu sabia que me sentia péssima, mas entrei no palco com os caras durante a introdução [do último show] e no minuto em que vi as pessoas na minha frente – algumas das quais reconheci muito rapidamente – pensei: “Tudo bem. Eu vou superar isso.” E eu me peguei tossindo muito, tentando falar e lutando com isso. É engraçado como você pode realmente se desconectar disso. A experiência física e espiritual que você tem no palco é, de alguma forma, simultaneamente, a mais presente que já estive em meu corpo e, ao mesmo tempo, é essa maravilhosa experiência extracorpórea da alma que você não pode replicar fazendo nada além disso.

Você sente que já chegou mais perto de compreender a distinção entre egoísmo e autopreservação?
Ainda estou tentando. Eu estava conversando com Zac e Taylor sobre isso recentemente. Em algum momento no meio dessa turnê, todos nós começamos a ficar muito animados em fazer novas músicas novamente. Estamos prontos para voltar ao estúdio. E ainda temos muitos shows – faremos a The Eras Tour no próximo verão, teremos a turnê Nova Zelândia/Austrália, também estamos planejando algumas datas para o início do ano que vem. Mas há algo que todos nós estamos finalmente metabolizando, com os anos mais recentes da banda, e também com nossa própria existência. Há muitas lições que ficaram na superfície, como quando você tenta passar loção e ela fica em cima da sua pele e você fica tipo, “nojento”.

Mas acho que agora há coisas que estamos absorvendo, e que não poderíamos ter entendido antes. Estou animada porque podemos realmente seguir em frente sabendo mais, ou sendo mais, do que éramos antes. Estou pronta para isso e sinto isso. Todo dia é tipo: “Tenho que estar presente. Tenho que estar aqui. Há coisas incríveis acontecendo todos os dias, seja no trabalho ou apenas estando com meu cachorro e dando um grande passeio”, sabe? Eu preciso estar aqui agora.

Essa entrevista fez parte do Grammy Preview da Rolling Stone. Conversamos com alguns dos maiores artistas do ano sobre os álbuns e singles que poderiam lhes render uma estátua em fevereiro, fizemos nossas melhores previsões para os indicados nas principais categorias e muito mais, fornecendo um guia completo sobre pontos a serem observados antes da premiação de 2024.

Paramore Brasil

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