Em sua última edição, a revista online L’Odet entrevistou Hayley Williams, e nessa oportunidade a vocalista e empreendedora falou sobre suas experiências pessoais como a relação que mantém com sua família, a
sua separação de Chad Gilbert e compartilhou seus pensamentos sobre feminilidade numa extensa e detalhada conversa, a qual você pode conferir integralmente logo abaixo:

Tradução: Equipe Paramore Brasil.

HAYLEY: Eu ainda não consigo acreditar que Pangaea vai fechar.

CARIANN: É esta semana! Eu não consigo acreditar também. A dona, Sandra, está se aposentando. Ela está na casa dos 70 e essa loja é seu bebê. Espero que ela vá viajar.

HW: Uau. É louco pensar nisso, apenas em termos de onde você e eu estamos agora e o que a vida pode se tornar. Aos 70 é como, se existem coisas que você ainda não fez mas quer fazer, eu acho que você…faz. Uau. Estar na posição dela seria como eu deixar a banda para trás. Eu sequer consigo imaginar isso.

C: Então você acha que vai ficar no Paramore por um longo tempo?

HW: Sim. Quero dizer, eu acho que não vai parecer que fiquei. Eu não acho que vai parecer como tem parecido até agora, sabe? Simplesmente existem muitos “sims” para tudo – especialmente quando nós éramos mais novos. Nessa época nós nunca sequer tínhamos visto ou escutado algumas das oportunidades antes. Metade foi por curiosidade e a outra metade foi apenas um “vamos ver como é essa experiência” de olhos arregalados. Obviamente nós queríamos que a banda tivesse sucesso. Mas nem sei se se nós realmente compreendemos o conceito de sucesso. Foi mais como se nós simplesmente PASSÁVAMOS PELO MOVIMENTO todos os dias, e se os shows são realmente mágicos, então é por isso que você faz, sabe? Agora – especialmente depois desta era, também – Eu nunca faria as coisas da forma como fizemos antes do “After Laughter”. Como o “After Laughter” nós meio que dissemos não pra tudo.

C: Vocês parecem uma banda totalmente diferente.

HW: Oh, obrigada. Nós queríamos isso! A volta do Zac foi uma grande parte da mudança estética, mas eu acho que em termos de nossas mentes empreendedoras – você sabe, essa é outra coisa – crescer em uma banda e ela realmente dar certo, se torna menos uma banda e mais uma marca. Eu estava dizendo isso pro Zac outro dia. Nós estávamos trabalhando em uma colaboração com alguém e ele disse algo como “Certeza que nós queremos fazer isso? Porque não temos um álbum pra ser lançado.” A verdade é que existem duas partes para a banda. Uma você usa numa camiseta, que é basicamente o nome, e a outra parte é a banda, que somos nós! E a banda é ao que se resume. Eu disse ao Zac que se nós três nos sentimos bem sobre isso então fazemos. Em seguir em frente , se os três estiverem felizes, nós vamos fazer o que quisermos. Se isso significa colaboramos uns com os outros, trazer outros amigos para colaborar – existem sete membros na banda quando estamos em turnê. Nós somos todos amigos, e fazemos música em partes diferentes, juntos. Então eu sinto que sim, quero estar no Paramore Eu nunca quero ter que publicar um comunicado de imprensa que diga que a banda acabou ou que eu saí ou que estamos entrando em uma pausa, o que é essencialmente uma jogada de marketing atualmente. Eu preferiria simplesmente ser. É uma parte do DNA de cada um de nós. Se nós decidirmos seguir como uma marca e colocar nomes nessas músicas e fazer uma nova camiseta, ótimo. Mas eu estou em uma banda com eles desde os meus 12 anos; Eu não acho que a banda esteja indo a lugar algum. Desde que somos amigos, banda apenas é. Está em nós.

C: Nova família.

HW: Isso. Foi uma família escolhida. E essa é a próxima parte de toda a terapia que eu tenho feito. Eu venho tentando deixar minha família unida desde então, vicariamente, através da banda. Quando a banda passou por aqueles tempos realmente, realmente… eu odeio ter que dizer tempos difíceis, mas…
C: Meu deus. Isso é incrível! [risadas]
HW: [risadas] Isso é tão real para mim! Mas quando nós passamos por aqueles tempos difíceis entre 2007 e até logo antes do ‘After Laughter’, eu percebi que eu também não conseguia manter aquela família unida, eu estou falhando tanto. E além disso, eu estava casada. Eu não queria realmente me casar; pensei que queria, mas não queria de verdade. Eu achei que iria me ajudar. E eu também não consegui manter aquilo. Então eu tive que desvendar e desconstruir muitos dos meus ideais de família, lealdade e compromisso. Meus últimos anos foram assim. E isso vem com muito luto.
Mas o que vem com isso também é muito libertador; ver que você não precise agarrar as coisas com força suficiente para matá-las. Agora nós podemos sair dessa fase juntos. Zac tem a HalfNoise e eles estão arrasando. Metade da banda de turnê do Paramore está na HalfNoise. É como se fosse um incesto de bandas, mas de um jeito legal. [risadas]

C: De um jeito legal, não de um jeito gótico-sulista-da-primeira-temporada-de-True-Detective. [risadas]

HW: Exatamente. É ótimo poder compartilhar toda essa criatividade e parece que tudo isso veio do mesmo universo. É tudo muito diferente e tudo muito colorido, mas vem tudo do mesmo solo.
E eu acabei de falar sobre milhares de coisas. Me desculpa. [risadas]

C: Ah meu deus, não se desculpe! Então, eu sei que eu disse um pouco sobre o que é Midnight Woman.

HW: Sim! Eu amo o site.

C: Sério? Obrigada! Você deu uma olhada?

HW: Sim. É muito legal e surpreendente ver o que as pessoas compartilham quando se sentem seguras com isso. Eu adorei.

C: Muito obrigada. Eu só…. Eu realmente vejo um futuro para a marca e para a sua missão. É por isso que eu queria ter um espaço separado para falar com pessoas como você e a Sharon e quem mais quiser, para que vocês tenham um espaço para contar suas histórias. Ter pessoas como você encorajando os anônimos, os que estão atrás das telas de seus computadores e que…. Pessoas já me disseram que se sentaram em frente ao formulário da Midnight Woman e ainda não conseguem escrever nada. É anônimo, mas ainda assim é complicado falar toda a verdade.

HW: Nossa, sim. O que a sua companhia almeja é incrível. E isso também vale para você como pessoa. Vai ser tão realizador criar esse lugar e esses nichos para outras pessoas.

C: Muito obrigada. Mesmo.

HW: Eu realmente acredito nisso também. Nesse último ano eu percebi que as pessoas estão realmente falando sobre esses assuntos. Muito disso está vazio. E é por isso que eu tenho que tomar muito cuidado em como eu respondo as pessoas que me perguntam sobre as ultimas musicas do Paramore. Esse é o lugar? Ou isso é seguro? Sabe? É difícil. Eu não quero soar sexista com os homens, mas todas as entrevistas que fizemos com entrevistadores homens foram realmente difíceis. Eu sou uma pessoa sensível com certos assuntos, especialmente assuntos que estão no seu site ou que nós falamos hoje. São sagrados, entende? É a sua história. Faz sentido que a pessoa se sente na frente do Midnight Woman e pense Não, ainda não. É sagrado.

C: Eu sinto que, como mulher, nós estamos acostumadas com as pessoas nos desmerecendo. Muitos homens, o que é interessante, com quem eu falei sobre a companhia, me perguntaram sinceramente se nós estaríamos checando todas as entradas anônimas.  Eles perguntam com curiosidade, sem nenhuma maldade, mas isso vai contra tudo que a Midnight Woman acredita. Essa é toda a razão para que essa plataforma existe. A ideia de checar se a entrada anônima de alguém nunca nem passou pela minha mente, especialmente sendo uma mulher. Nós não estamos agindo como uma autoridade na história de ninguém, sabe? É por isso que eu tomo cuidado para não reescrever nada que alguém me manda. Até com a entrevista da Sharon que eu fiz na última primavera – eu só transcrevi. E é isso que vai ser. Eu não me sinto confortável distorcendo as palavras de ninguém para formar uma espécie de arco, de história. É o que eu sempre amei nas revistas, que você simplesmente recebe tudo como é, pergunta e resposta. Sua voz permanece ali. Não a do escritor.

HW: Claro – Eu acho que eu ficaria nervosa em fazer isso, também. Eu acho que existem certos momentos em que isso consegue ser autêntico e respeitoso, mas eu realmente entendo isso. É por isso que eu não realmente canto a música de outras pessoas. A música “Stay The Night” foi metade escrita por, tenho quase certeza, Nate da Fun. [risos] Ele usa um nome falso, mas foi com ele que eu a gravei. Ele ainda não confirmaria, mas eu sei que ele a escreveu. Felizmente, o escritor deixou vários versos em branco e eu pude fazer isso. Eu realmente não gosto da experiência de cantar letras dos outros ou da ideia de dar minhas palavras para outras pessoas… Talvez se eu os amasse muito. Eu gosto de cantar minhas histórias. Eu acho que se você pensou que podia escrever algo com respeito para essa pessoa ou artista, então eu acho que você saberá. Assim como “Stay The Night”, eu estava tipo “nossa, eu estou passando por algo assim”. Eu tive a chance de colocar uma parte minha nela também. E pareceu certo no final.
Esse chá é realmente bom, inclusive. [risos]

C: Obrigado! É da High Garden. Meu melhor amigo a ganhou num amigo secreto no Natal. Eu ganhei um papel higiênico com a cara do Trump nela, então é isso: Boas festas!

HW: Amigo secreto é uma coisa que você não vai querer participar na casa da família do meu pai!

C: Ah, sério? É assim?

HW: [risos] Sim. É complicado, mas é muito engraçado.

C: Ah, cara. Minha família é tão politicamente diferente de mim que eu nunca

HW: Eu nem levanto mais esse assunto. E nem minha irmã. Ela tem 23. Eles não querem ouvir o que temos a falar.

C: Quantos irmãos você tem?

HW: Eu tenho uma irmã de 23 e uma de 15 anos. Ela fará 16 em Março; é tão triste pra mim! E então eu tenho três irmãos por parte da atual esposa do meu pai – minha madrasta, eu acho. Eu não gosto de falar madrasta, parece tão rude.

C: É só por causa da Disney. Não é realmente rude.
C: Os dois se casaram novamente também. E eu sempre me senti tão rasgada entre os dois. E até mesmo dizer isso seria ofensivo pra eles, mas foi assim que eu me senti, mesmo que não tenha sido a intenção.

HW: E você não pediu por isso também, sabe? Você já fez aquilo – eu gosto de fingir que eu realmente não fiz mas definitivamente eu fiz – em que você estava na casa da sua mãe e você não podia assistir algo, então você iria pra casa do seu pai pra ver se conseguiria assistir isso.

HW: É por causa da Disney! São fatos. Bem, ela tem três garotos que são mais ou menos da mesma idade que eu e minhas irmãs. O que é louco porque eu e minhas irmãs somos muito afastadas. Eles também são. E aí tem o casamento atual da minha mãe — meu padrasto tem duas filhas. Eu não as vejo muito, mas eu pude ver um pouco a mais nova delas ultimamente e ela é muito legal. Na verdade, eu estou vendo você em um ótimo momento para falar sobre família. Era muito ruim até pouco tempo atrás. Era muito confuso e eu me sentia, algumas vezes, mais próxima de um dos lados da família do que do outro. Depois isso seria invertido. Eu estava tipo, por que isso não pode ser como uma família? Enquanto crescia, minha avó me dizia: “Famílias são diferentes. Você não precisa viver com sua mãe e com seu pai ao mesmo tempo para estar em uma família.” Mas só bem perto dos meus 30 anos e do último Natal que eu pude passar um tempo com ambos os lados e isso foi bastante confortante. Todos vamos envelhecer, sabe? Estou lidando com uma Nana no hospital e vendo minha mãe cuidar dela. Eu só penso comigo mesma que esses irmãos, essas pessoas — seremos nós a cuidar um dos outros e dos nossos pais. Eu sou muito agradecida por me sentir próxima de todos agora. Família é um assunto bastante pungente.

C: Eu entendo bem. Meus pais se divorciaram quando eu tinha cinco anos.

HW: Ah, cara.

C: Demais. Era mais como se eu soubesse quais coisas eu poderia fazer com os dois. Eu sabia os limites. Meu pai era definitivamente mais permissivo, mas essa era uma faca de dois gumes, sabe? Na terapia nos últimos anos, eu percebi que eu realmente queria que meu pai se importasse mais então eu fazia coisas pra chamar sua atenção. Era desbalanceado porque parecia que meu pai não se importava muito e minha mãe se importava demais. Eu sei que não era esse o caso, mas como uma criança parecia tão extremo.

HW: Claro, você só queria equilíbrio. Nós queremos tanto isso; mas nós somos muito jovens para entender o conceito, e se sequer existe. Mas sim, isso é pesado.

C: Uma coisa estranha é que neste último feriado de ação de graças – foi a melhor reunião de família que eu já tive.

HW: Oh, que bom.

C: Eu nunca tive qualquer vídeo caseiro enquanto crescia. Eles foram perdidos ou destruídos durante o divórcio, então eu nunca tinha visto algo assim de mim mesma. Minha tia com quem passei o feriado tem vídeos caseiros do filho dela, meu primo. Eles os reproduziram durante a Ação de Graças. Essa foi a primeira vez que eu me vi mais nova em vídeo.

HW: Uau.

C: Foi muito estranho! Super surreal. Mas o mais estranho é que nesses vídeos eu vi meus pais juntos. Eu sinto que nunca tinha visto eles se tocando antes – definitivamente não pessoalmente e eu acredito em fotos também não. Eles fugiram para morarem juntos, então não existem fotos de casamento daquela época.

HW: Isso deve ter sido tão estranho! É como aquele momento em “O Iluminado” quando a câmera aproxima e distância a imagem ao mesmo tempo.

C: Foi exatamente assim! No vídeo, meu pai estava fazendo algo bobo ou engraçado – sendo ele mesmo [risos] e minha mãe estava dando risada. Ela estava rachando de rir. Eles estavam de mãos dadas sorrindo.

HW: Como você se sentiu? Feliz por já ter acontecido ou triste? Provavelmente os dois mas eu estou curiosa.

C: Eu fiquei feliz. Fiquei realmente feliz por poder ver isso, mas também fiquei muito orgulhosa de mim. Eu percebi que desde que consigo me lembrar eu nunca tive um exemplo típico disso. Como isso supostamente deve ser. Claro, eu tive problemas e não estou em um relacionamento agora, mas eu me conheço o suficiente pra saber o que eu mereço, o que é louco pra mim.

HW: Sim, você não teve isso representado pra você completamente, um dia após o outro. Até em relação a irmãos, vários dos meus amigos que tem irmãs cresceram brigando todos os dias pelo banheiro ou sei lá. Simplesmente as coisas bobas ou idiossincráticas de convivência com outras pessoas que você ama – coisas que você se acostuma, muda ou aprende a se aproximar – eu nunca tive isso com as minhas irmãs. Mesmo não sendo culpa minha eu ainda me arrependo muito disso. Não é diferente de uma mãe e um pai que têm uma criança mas a criança não vive com os dois ao mesmo tempo. Você não sabe como é para o seu pai te arrumar para ir à escola. Foi assim comigo, de qualquer forma. Você não tem este padrão que algumas crianças têm. Eu sei que existem várias crianças com pais divorciados mas na minha comunidade haviam apenas algumas crianças lidando com a situação de ter apenas um dos pais, e eu sempre invejei tanto as crianças que não precisavam passar por isso.

C: Como foi pra você passar pelo seu próprio divórcio?

HW: O meu… foi meio que o início de uma avaliação que eu fiz do divórcio dos meus pais também, e eu não sabia disso até recentemente. Meu divórcio foi como um acidente de trem que eu sabia o tempo todo que aconteceria – desde o momento em que começamos a namorar. Eu fiz meu melhor para acolchoá-lo, vesti todos os equipamentos certos, e me protegi. E talvez até, no último segundo, descarrilhei a situação para onde as coisas poderiam se resolver de uma forma que eu conseguiria prever.
Quando finalmente aconteceu eu me senti um enorme fracasso. Me senti envergonhada porque eu sabia que não deveria ter casado. E nós já tínhamos lidado com várias das partes pesadas de ser um casal e a razão das coisas estarem ruins. Eu fui ferida. Não tinha qualquer confiança sobrando. Eu sabia que não deveria ter feito, mas fiz mesmo assim; foi por isso que senti que deveria ficar. Eu acabei por decidir sair porque eu comecei a ter vários pensamento suicidas. Eu pensava sobre morte o tempo todo; pensava “qual é a intuito de qualquer coisa? Por que este deveria ser o melhor momento da minha vida? Isto é terrível.” Eu me importava pelo meu marido… como um irmão. Essa é a melhor forma que eu sei descrever. Eu sabia que isso não foi certo. Fazer e me divorciar… eu nunca vou me esquecer do momento em que entrei na minha casa com uma caixa escrito “frágil” com, tipo, plantas dentro [risos] e talvez outras três coisas.
Quero dizer, eu deixei tudo. Eu estava envergonhada de mim mesma e também estava brava. Mas a raiva já tinha se transformado em depressão porque eu não externalizei. Eu ainda me lembro daquele momento, olhando para a porta e para minha caixa de coisas e pensando “isso é o que eu mereço. Eu mereço uma casa vazia e fria, infestada de morcegos.-”

C: O QUÊ?

HW: [risos] Os garotos chamavam de “A Caverna do Batman”. Eles me chamavam de mulher morcego. Foi difícil. E então eu aprendi sobre uma espécie completamente diferente da qual eu nunca tinha ouvido falar, chamada mites . Eles parecemcarrapatos. Então eu acordei com o que eu pensei ser um carrapato em mim, no meu cobertor, tipo caralho. [rindo] Isso é tão obscuro. Essencialmente eu estava simplesmente vivendo em uma casa vazia com duas malas cheias de roupa e um monte de carrapatos. E morcegos.

C: Apenas um monte de bichos que você não queria. Deus amado.

HW: Isso foi na mesma época do lançamento do álbum – os videoclipes de “Hard Times” e “Told You So”, ir ao Kimmel. Eu estava pegando voos, indo e voltando para essa casa vazia, e estava na TV. Quero dizer, graças a Deus que as músicas eram transparentes sobre as coisas que eu estava sentindo, mas não sei. Eu estava vivendo duas realidades muito diferentes. [Risos]

C: Isso é perturbador. Você tem que rir disso porque é muito estranho. Morcegos? Que porra.

HW: A banda estava indo muito bem e eu estava adorando me reintroduzir para o meu grupo de amigos porque — eu não sei se você já esteve num relacionamento assim — mas eu me afastei daqueles que me conheciam melhor. Foi tenso e também me sentia como se não pudesse ser parte das duas atmosferas. Em casa com uma pessoa e fora de casa com outras… aquilo deveria ter sido mais um sinal para mim.
Mas sim, as coisas estavam indo bem. E eu conseguia ver que tinha uma parte saudável de mim… havia um interruptor e algo estava acontecendo. Mas também tinha muita coisa na minha vida que dizia que eu deveria ter vergonha de mim mesma. Eu pensava, “será que isso é Deus? É uma coisa divina? Eu não sei o que está acontecendo.” E acabou que, o que penso que aquilo era é… se você tivesse me perguntado há um ano atrás, eu teria dito, “toda benção tem um custo.” Eu realmente acreditava que nada de bom poderia acontecer sem algo ruim. Aquele seria o preço que você pagaria. E eu tenho trabalhado nisso porque eu sei que é uma forma muito ruim de viver. Se, em algum momento, isso for verdade ou não, mesmo assim é uma filosofia terrível. Agora eu olharia para isso e diria, hoje, para a pessoa que eu sou com 30 anos, eu me sinto saudável. Eu não tenho todas as respostas e eu não tenho tudo que sempre quis a minha vida toda — mesmo que a banda esteja bem ou não. Eu sinto tanta gratidão todo dia e isso é muita novidade para mim. É um tipo diferente de agradecimento daquela que eu já tive no passado, e eu acho que isso tem sido uma jardinagem para meu coração. Acho que tem exigido muito escavamento para encontrar raízes velhas que estavam empatando de coisas novas crescerem.
Eu fui visitar o que outras pessoas chamam de “terapeuta coo-coo,” como se fosse um massagista crânio-sacral, eu adorei. Ela sempre me atinge em cheio. Durante uma sessão, ela estava fazendo um trabalho corporal em mim e eles dizem que as nossas memorias ficam guardadas nos nervos e tecidos — não ficam muito na cabeça. É fascinante. Muitas vezes que fazemos trabalhos corporais a gente acessa emoções e memorias que escondemos ou que o nosso próprio corpo esconde.
Eu estava na maca e comecei a pensar muito sobre meu casamento. Lembrei de algumas coisas que eu tinha esquecido — como eu me sentia desconfortável com o vestido e coisas que são rapidamente relevadas por querer que tudo aquilo desse certo. E mais tarde, na mesma sessão, eu tive uma visão de que varias flores estavam brotando de mim. Meu lado cínico imediatamente agarrou isso e foi tipo, “bem, a única forma disso acontecer é se você morreu, estiver enterrada e alguém vier colocar algumas lindas flores para você.” mas logo esse novo lado de mim, que eu nunca tinha acessado, apareceu rapidamente, rebateu aquele pensamento e disse. “não. Essa é você. Isso é agora. Isso é o que está acontecendo nesse momento e isso é o que você vem procurando durante todo esse tempo. Essa beleza, essa feminilidade e essa força estão prestes a surgir de você.” E eu escolhi me agarrar nisso.
Eu juro por Deus que eu estava com os olhos fechado e no final da sessão — eu não tinha dito nada sobre isso a ela — ela diz, “ok, acabamos por hoje.” Sabe? sussurrando bem calma. Ela disse, “muito obrigado por ter vindo me ver hoje. Você está rodeada de flores.” Eu fiquei tipo, “Que!!?”. Eu não tinha dito nada. Quando ela saiu da sala eu tirei a máscara dos olhos e percebi que ela tinha colocado algumas pétalas de rosas sobre e em volta de mim. Tinham um cheiro maravilhoso. Eu não sabia se eu tinha percebido algo do meu subconsciente e eu não ligo porque aquela visão tem sido tão viva para mim durante esse ultimo ano. Eu tenho comprado tantas flores pra minha casa depois disso. Eu tenho deixado elas perto de mim para me lembrar que eu estou caminhando para a minha feminilidade e força como também feminilidade e solidão — sabe? aquele poder de ser autossuficiente mesmo sendo doce e aberta.

C: Isso é lindo.

HW: foi um ano bem difícil, mas eu sou muito grata por tudo aquilo. Eu já não acordo querendo morrer. Eu também tomo remédios agora e isso é algo que eu não tenho falado para as pessoas, mas eu comecei a tomar e me ajudou muito.

C: eu também tomo remédios. Comecei há 2 anos, eu acho. Apenas o ato de procurar ajuda e tomar remédio, na minha opinião, já lhe cura. Isso é ação.

HW: Sim! E a gente anda por aí tão desconexo com nosso corpo. Às vezes estão tentando nos dizer algo e a gente nem consegue notar. Minha pele ficava péssima quando eu estava num momento emocional ruim.
Eu queria saber se você tinha algum sinal de — não vou chamar de problema mental, mas de desconforto — logo após seus pais se separarem. Você consegue olhar atrás para aquilo e perceber algo do tipo?

C: Eu entendo o que você está dizendo. Sim. Eu acho que ainda estou lidando com aquelas coisas. Olhando para aquilo tudo eu lembro que eu e meu pai tínhamos alguns problemas quando eu estava no ensino médio e agora eu consigo perceber quais foram os estopins. Quando você tem aquela idade, você está moldando a sua personalidade, sabe? Apenas para tentar descobrir quem você quer ser. Quanto mais eu tentava desenhar as coisas que eu achava que era ou queria ser, mais eu e meus pais começaram a ter problemas. Olhando para trás consigo ver que eu não sou uma extensão deles e é totalmente minha responsabilidade quem eu sou ou quem eu devo ser; não é minha culpa se isso parece ser diferente daquilo que eles têm em mente para minha vida. Na terapia da faculdade, minha terapeuta me disse que não há problema em lamentar uma certa idéia de quem você queria ser ou de quem seus pais queriam que você fosse. É ok ter pais que são separados e lamentar porque vocês nunca vão se sentar numa mesa para jantar com os dois. A terapeuta me lembrou que meus pais também não são uma extensão de quem eu quero que eles sejam. Eu não sei; é muita coisa. Ninguém é perfeito.

HW: Isso é verdade, cara. Eu tenho amigos que não querem ter filhos porque eles não querem estragarem tudo ou porque esse mundo é tão obscuro que eles não querem trazer nada pra cá. Eu não sei; eu acho que ia querer ter filhos. Eu sinto isso num modo mais genuíno agora que eu cuido mais de mim. Deve ser difícil. Eu tenho total compaixão e empatia pelos meus pais, sabe?

C: Sim, eu concordo. Eu respeito muito.

HW: Mas um pouco disso me impediu de ficar com raiva e chateado e de realmente resolver algumas coisas. Me impediu de ter sentimentos. É importante, como você disse, perceber em algum momento que eu não posso projetar neles o que eu quero que eles sejam. Eles têm algumas histórias loucas. Provavelmente coisas que a gente nunca vai saber. Eu acho que você tem que descobrir, quando está triste, como guardar espaço em você caso precise ficar com raiva, triste, e também encontrar a coisa que você precisa para manter essa conexão com eles também, sabe ?

C: Sim.

HW: Para algumas pessoas, eu percebo que seria realmente não saudável para eles e isso não é uma opção, e isso é valido.

C: Eu na verdade terminei esse livro ontem chamado “Faithful” da Alice Hoffman.
Você conhece ela? Ela escreveu “Practical Magic” também.

HW: Ah, sim! Eu nunca soube o nome do autor.

C: Ela é incrível. I nunca tinha lido nada dela além do “Practical Magic.” Eu não devoro uma peça de ficção como essa há muito tempo – Eu fiquei super queimada na escola – Mas foi muito bom.
Muitos dos temas subjacentes são arrependimento, auto-redenção e perdoar a si mesmo.

HW: Eu estive tão profundamente ligada com auto-ajuda pelos últimos… desde sempre. Estar ligada com esses tipos de coisas, eu sinto falta de algo assim. Um romance, sabe? Algo pra colocar minha mente em repouso.

C: Pegue aquele livro! Leia.
Eu não sei se você vai tirar algo dele pois eu acho que só me pegou quando eu precisava ouvir, mas é isso aí.

HW: Obrigada! Logo que eu me divorciei, um amigo me recomendou “Women Who Run With Wolves”. Você já ouviu falar dele?

C: Não, ainda não.

HW: Eu vou te contar como é. Realmente me ajudou. É como uma auto ajuda sorrateira. Tem folclore e fábulas antigas. Histórias que mulheres contariam umas às outras ao longo da história. A primeira história é chamada “Bluebeard” e me ajudou muito mesmo. Me ajudou a perceber por que eu ficava em um relacionamento que era tão prejudicial a mim, e quando eu percebi, eu não consegui desviar o olhar. Eu não podia voltar atrás. Eu tive que sair.

C: Você já leu “Tiny Beautiful Things”

HW: Não, não li ainda. Você é tipo a segunda pessoa que me perguntou isso ultimamente.
Eu preciso anotar

C: É incrível. É a coluna de conselhos anônimos da Cheryl Strayed compilada em um livro. Sim, você pode pegar minha cópia desse também.

HW: Ai meu Deus, muito obrigada. Eu estou tão empolgada! Eu também vou comprar esse chá, provavelmente hoje.
[Lendo a capa do livro] “Let yourself be gutted”. Uau, Eu amei.
Foi assim que me senti por muito tempo.

C: Eu penso muito em uma entrada em particular. É da entrada “Tiny Beautiful Things”, que é o título do livro. A pessoa anônima que escreve para ela diz:
Querida, eu li sua coluna religiosamente. Eu tenho 22 anos. Pelo que posso dizer pela sua escrita, você tem quarenta e poucos anos. Minha pergunta para você é curta e doce. O que você diria para sua versão de vinte e poucos anos se pudesse falar com ela agora?”
Parte do conselho que Cheryl dá aqui é incrível.
Ela escreve:
Uma tarde quente em uma era onde você se meteu ridicularmente enroscado em heroína, você e estará andando de ônibus e pensando sobre o quanto você é uma porcaria inútil quando uma garotinha entra no ônibus, segurando duas cordinhas de dois balões roxos. Ela lhe oferece um dos balões, mas você não pega pois você acha que não tem mais o direito de coisas tão lindas. Você está errado. Você tem.”

HW: Oh meu deus Isso é insano. Este livro vai arruinar minha vida.

C: Essa era na verdade uma das questões que eu ia te perguntar hoje – meio que nesse reino, enfim. O que você diria para ágüem que está nervoso em compartilhar sua história?
O que você diria para o apreensivo contribuinte da Midnight Woman

HW: Assim… A única forma de nós mudarmos de um ponto na vida para outro é agindo.
Eu acho que a ação pode ser movimento físico ou pode ser pensamentos recorrentes, padrões, sonhos. Minha arma de escolha é sempre as palavras. É o que tem simultaneamente me protegido e
também matado as ervas daninhas para mim enquanto eu tentava atravessar a vida. Se você consegue compartilhar sua história o suficiente para encontrar aquela faísca de ação onde você está contando para alguém o que você passou, ou você está vendo as palavras na sua frente – quando puder vê-las e saber que elas vão encontrar alguém do outro lado – se você quiser ir a qualquer lugar, a única coisa a fazer é se mexer. As palavras podem parecer pequenas e pretas e brancas em uma página, mas, pra mim, isso é uma das maiores coisas que você pode fazer. Alguns dos mais poderosos movimentos na minha vida têm sido apenas as palavras, de vez em quando nem mesmo para uma melodia. Mesmo que eu esteja em uma banda e toda essa coisa com Paramore, algumas vezes não é a coisa escrita em músicas, é o que eu estou dizendo para um amigo tarde da noite ou escrevendo em um diário que ninguém nunca vai ver. Mesmo que de vez em quando eu fico tipo “Eu vou morrer um dia e alguém vai achar essa merda; é melhor que seja bom.” [Risos]

C: Sim! Exatamente.

HW: Mas eu acho que movimento e conexão são como nós sobrevivemos. Eu acho que se você quer passar por algo, você tem que se mover através disso, falar através disso, se conectar através disso. Vale a pena, sabe? Eu tinha bastante medo – Eu mantive todos falando sobre meu divórcio. E eu falaria sobre depressão até ficar azul de tristeza. Mas nos últimos seis meses, desde que eu realmente adquiri esse material… e eu quero dizer, nós falamos muito sobre no álbum, mas novamente, as palavras que são mais pessoais. As coisas que saíram desde que nós estivemos na estrada – essas são as coisas que me animaram e me levaram para esse próximo espaço. As conexões que eu tenho feito e as amizades que eu tenho feito, com outras mulheres especialmente, nesse período de tempo tem sido tão bonito pra mim. Minha vida inteira eu fui cercada por caras, e eles são pessoas maravilhosas, não me entenda errado, mas eu não acho que eu estaria viva se eu não tivesse começado a falar e anotar as coisas – me expressar.
Nós usamos isso para a minha companhia de tintas de cabelo. “Expressão é sobrevivência” está nas nossas camisetas. Não é como uma coisa cativante que eu digo; isso me manteve viva. O motivo é a chave. É o desejo de viver maior do que o medo? Para mim, não foi por muito tempo. De alguma forma eu empurrei isso. Eu acho que escrever foi a maior parte de tudo isso. Eu estou animada pelo que você está fazendo, e pelas pessoas superando esse medo, porque eu acho que eles vão descobrir que o que seja que esteja embaixo desse medo é um desejo de mover e viver.

C: Sim, e se conectar com outras pessoas.

HW: Eu realmente não entendo o ponto de estar da terra se eu não estou conectada com outras pessoas. A banda não fez muitas entrevistas recentemente. Eu estou fazendo isso hoje, e isso pra mim não é trabalho, isso não é como “Oh, eu tenho um álbum e mal posso esperar que você o conecte no final disso.” Sabe? Eu fiz um zine também que é uma coisa do sexo feminino do Reino Unido. Essas são as coisas mais legais para mim, como uma pessoa que também tem que fazer isso e ser uma artista. Eu sou tão grata que eu posso conhecer pessoas e conversar. Tipo, eu e você temos muitas coisas em comum, e eu estava simplesmente comprando seu café meses atrás. É doido! Eu estou animada com o que você está fazendo porque eu acho que você vai mostrar a muitas pessoas o desejo de ser conhecido e conhecer outras pessoas.
Isso é tão legal! É o único ponto [da vida]! Eu não tenho nenhum outro ponto. Sabe?

C: Sim, Eu super concordo. Obrigada. Isso significa muito pra mim.

HW: Também me desculpe se você tem que transcrever isso, Eu falo demais.

C: Nem se preocupe com isso. Eu quero que Midnight Woman seja minha jogada final. Isso é o que eu quero que minha vida seja. Só ter pessoas como você e Sharon que têm seus próprios seguidores – o fato de que você acredita no que eu estou fazendo… isso me faz achar que eu posso fazer isso mesmo.

HW: Ah, é claro que você consegue fazer.

C: É muito encorajador.
Valeu, sério mesmo.

HW: Sim, claro.
Eu amo o nome, aliás.

C: Muito obrigada.

HW: É realmente muito bonito.

C: Muito obrigada por conversar comigo.

HW: Claro. Isso foi muito legal. Que tarde aconchegante para se estar dentro de casa quando o clima está uma merda. Poder estar aqui conversando sobre coisas reais.

One Reply to “Hayley fala à L’Odet sobre família, divórcio e autoperdão”

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