Em entrevista concedida ao site argentino La Nación, Hayley Williams conversa sobre o processo de criação de seu novo projeto solo, seus momentos mais difíceis da depressão e como lidou com eles.

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A cantora também relata como está sendo sua quarentena e comenta sobre seu relacionamento com os meninos do Paramore e pretensões de projetos futuros com a banda.

Confira na íntegra a matéria traduzida:

Hayley Williams disse adeus à menina emo: “minha depressão foi a respeito dessa ira, com a qual eu não podia lidar”

Daqueles anos que estava na moda fazer apologia à agitação e deste mesmo momento em que houve tantos seguidores identificados como opositores/burlões, recordamos a palavra emo. Vinha de emocional. E além dos estereótipos como a roupa escura ou o corte do cabelo, no mundo do rock este movimento estava representado, em termos gerais, por grupos punk com letras introspectivas, de luto e com uma grande implantação teatral em cena.

E a banda estadunidense Paramore foi um exemplo claro dessa eclosão de angústias. Desde o início deste milênio, o grupo liderado pela vocalista Hayley Williams colheu discos (cinco de estúdio) e marcou seu próprio percurso.

Mas não apenas o tempo passou desde o inicial All We Know Is Falling (2005) até o último After Laughter (2017), também dois eventos distintos aconteceram ao grupo e à artista nascida em Meridian (Mississippi). Por um lado, a saída dos irmãos Farro do Paramore em 2010, que haviam fundado el grupo junto com a cantora (Zac retornou em 2017) marcou uma pausa nela e na equipe. Porém, por outro lado e acima de tudo, a batalha pessoal de Williams com certos sentimentos devastadores que, apesar de sua relutância, nutriram sua poética.

Em suma, tudo contribuiu para tornar uma necessidade imperativa: estimular o primeiro projeto solo da cantora. Trata-se de Petals for Armor, que estará disponível a partir de 8 de maio e que ja temos uma prévia interessante com os singles “Simmer“, “Leave It Alone” y “Cinnamon“, cada um com seu respectivo e curioso vídeo.

Por esse motivo e em meio aos acontecimentos marcados pela agenda do coronavírus, Hayley se dispõe a falar. E isso inclui: relembrar sua infância itinerante quando teve de ir com sua mãe para destinos incertos, evocar seu matrimônio fracassado e seus anos de terapia e depressão, e esperar sua preciosa liberdade (artística e pessoal).

— Você se permitiu experimentar mais com Petals For Armor do que em seus discos com o Paramore?

— Sim. Encarei-o como uma oportunidade para crescer e para me comprometer com outros aspectos. “Simmer“, que foi o primeiro single, inicia somente com a minha voz. Comecei fazendo vários sons com minha boca. E a partir daí começou a composição. Este é um exemplo. Realmente meu desafio foi não ter mapa, um lugar onde deveria chegar. Minha tarefa era entrar na sala e ver como me sentia no momento. E esse foi meu guia. Tive sorte de trabalhar com Taylor (York). Também trabalhamos bastante juntos com o Paramore, e pedi que ele me produzisse porque tem um olhar estranho e criativo. Queria alguém que pensasse no que eu estava tentando dizer e no estilo e no som que estava tentando passar. O que conseguimos foi que a música soasse como eu mesma, mas a tendo feita com a ajuda de pessoas que puderam iluminar aspectos da minha própria história.

— Como construiu a continuidade entre “Simmer”, “Leave It Alone” e “Cinnamon”? Ao mesmo tempo que cada tema e cada vídeo têm uma unidade, eles parecem contos ou curtas-metragens. Você pensou assim?

— Sim, totalmente. Originalmente, eu tinha uma visão de mim mesma correndo e correndo, e não tinha certeza se estava fugindo de algo ou se queria chegar a algum lugar. E esse tipo de energia e sentimento é “Simmer”. Tudo começou de uma forma tão simples como esta. E quando falei com Warren Fu, o diretor criativo do vídeo, chegamos a uma conclusão de que eu deveria descobrir do que estava fugindo e o que estava passando pela minha cabeça. Ele escreveu o roteiro com base na minha experiência pessoal de terapia, e daí o vídeo de “Simmer” surgiu. Aquilo que me fazia correr em “Simmer” guiou a história para “Leave It Alone” e depois  “Cinnamon”.

— “Simmer” é sobre ira. Como você lida com esse sentimento? Você disse que a raiva te ajudou a entender algumas coisas que aconteceram com você ao longo da vida e que não estavam certas. Como o que?

— O modo como eu me vinculei à raiva foi evitá-la ou ignorá-la. O que estava acontecendo comigo era que toda a raiva que eu não conseguia suportar se convertia em uma tristeza profunda. Na época do After Laughter, eu fazia muitas piadas sarcásticas sobre minha saúde mental porque não conseguia entender realmente o que estava acontecendo comigo. Mas depois que pude passar por esse processo, entendi que a minha depressão se tratava dessa ira com as coisas que eu não podia lidar. Como compreendi a raiva? Foi graças à terapia. Eu pude me fazer perguntas. E trabalhei nelas. Todas as perguntas me levaram a um conhecimento mais profundo de mim mesma, sem negar nada, E no final, não há mais raiva. Nisso estou comprometida e continuo trabalhando, em não negar meus sentimentos.

— “Cinnamon” parece tratar da importância  de ter um lugar próprio onde “você pode tomar café da manhã nua”, como diz a letra. Essa necessidade de espaço para pertencer tem a ver com sua infância, tendo vivido em um trailer durante meses?

— Sim. Minha mãe e eu nos mudamos várias vezes. Vivemos em situações muito terríveis e tivemos que sair. E acho que isso me fez buscar segurança em minha própria casa. Mas sou um ser humano e também cometi meus próprios erros. Estava em um relacionamento, me casei, depois me divorciei. E daí me mudei para a minha casa, onde tive a oportunidade de começar de novo. E sair de um relacionamento muito longo para estar sozinha foi muito perturbador. Você sente que não se conhece. Então, encontrar minha casa foi a maneira de descobrir muito de mim mesma, foi como dizer: “olhem para mim, é assim que eu sou quando não pertenço a ninguém além de mim mesma”.
Acordo de manhã, assobio ou começo a dançar em todos os lugares para me distrair se estou triste. Ninguém ri de mim ou diz que sou louca. Posso criar meu próprio universo. E isso me empodera muito. “Cinnamon” começou como uma canção completamente diferente, a tocava na guitarra e era bastante triste. Depois a trabalhamos com Taylor e se reciclou. É sobre mim, orgulhosa de estar sozinha. Eu realmente precisava dessa independência.

— É verdade que seu cachorro a ajudou em seus momentos de depressão? É o que aparece no vídeo de “Cinnamon”?

— Meu cachorro não está no clipe porque meus amigos disseram que ele não é sexy o suficiente para aparecer lá (risos).

— Não!

— Sim! Triste! Mas, de brincadeira, meu cachorro é como meu pequeno psicólogo pessoal aqui em casa. Quando estou sozinha eu literalmente falo com ele, como se fosse um de meus amigos. Ele esteve comigo em muitos momentos de desilusão e em situações felizes também. Às vezes me acompanhava nas minhas viagens. Para mim, ele é como meu filhinho. Seu nome é Alf, de Alfred.

— Como você está vivendo esses dias de quarentena e o que espera que aconteça no futuro?

— Tenho todos os tipos de sentimentos sobre isso. E eles vão mudando. Tenho meus dias bons e meus dias ruins. Tento me manter em contato com minha família ou meus amigos por FaceTime. E também tento trabalhar. Agora estou falando com você, e tenho outras entrevistas. Tento ser produtiva. E entendo que todo mundo está vivendo o mesmo que eu. É realmente assustador! E também é uma oportunidade para se unir e se conectar com o outro de várias maneiras. Isso me dá algum alívio. A pior parte para mim é não saber a resposta: para onde estamos indo. A única coisa que temos é nós mesmos e o amor que podemos dar uns aos outros. E graças a Deus, tenho meu cachorro. Heh.

— É verdade que Dave Mustaine é seu tio?

— Haha. Dave Mustaine não é meu tio. Estamos geograficamente próximos, digamos. Seria incrível que ele fosse meu tio. Minha mãe é super fanática, ela morreria.

— Como você está com seus companheiros do Paramore hoje?

— Com os meninos, estamos muito bem. Taylor produziu meu álbum e escrevemos muitas músicas juntos. E Zac (Farro) toca bateria em algumas faixas. Embora esse projeto tenha meu nome, me sinto parte de um todo. Muitos amigos estão envolvidos e me ajudaram a dar vida a ele. Cada um também está fazendo suas coisas. Não nos vemos como gostaríamos. Independentemente do que está acontecendo agora, estamos em lugares diferentes.

— Você vai trabalhar novamente com o Paramore? Vão gravar outro álbum?

— Com certeza! Conversamos muito sobre isso. Com tudo o que está acontecendo agora é difícil saber quando poderemos fazê-lo. Ou quando poderei sair em turnê. Mas falamos sobre o Paramore o tempo todo.

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