Hayley Williams escreveu um artigo sobre Doechii para a revista Them, como parte da coluna ‘Superlatives’, dedicada a destacar artistas queer e trans.
A vocalista foi escolhida para escrever o perfil de Doechii por ser uma das inspirações para a artista e também pelo fato de que, na música ‘Yucky Blucky Fruitcake’, que interpola ‘The Only Exception’, do Paramore, Doechii fala sobre sua bissexualidade [‘I think I like girls, but I think I like men’]; o artigo completo destaca a incrível participação de Doechii na última temporada de premiações musicais.
Confira abaixo a tradução do ‘tributo’ de Hayley:
Eu descobri a Doechii assistindo ao BET Awards de 2022. No segundo em que ela começou a cantar “Crazy”, peguei meu celular e mandei uma mensagem para a minha equipe: ‘Ela poderia entrar em turnê com o Paramore?’ A resposta veio rápido: ‘Talvez – se ela já não estivesse em turnê com o Kendrick Lamar.’.
Naquele momento, eu ainda nem tinha percebido a referência ao Paramore em “Yucky Blucky Fruitcake”. Mas não importava. Assistindo àquela apresentação, tive a mesma sensação que tive da primeira vez que vi a Missy Elliott na MTV quando era criança. Era talento puro, ousado, inconfundível – do tipo que não espera por permissão. Ela chegou com tudo, e lembro de pensar: ‘Ah, ela vai conquistar tudo. Isso é dela.’
Há algo completamente magnético na Doechii. O jeito como ela se move, como entrega cada verso – o ritmo dela é selvagem, sua voz é uma arma. Aquela performance não foi apenas barulhenta ou cheia de energia; ela veio carregada de algo mais profundo: atitude, controle, clareza. Ela dominava o espaço e fazia isso com alegria e fúria.
Desde aquela noite, ao acompanhar a trajetória dela, o que mais me impressiona é o quanto ela se define com confiança. Isso está na música, mas também em como ela se apresenta como pessoa. Você percebe em cada entrevista, em cada performance, em cada letra. Ela é assertiva, segura de si.
Às vezes, as pessoas assumem que, por causa da forma como sou no palco, eu carrego essa mesma confiança. Mas a verdade é que esse tipo de ousadia é algo que ainda preciso trabalhar para acessar. Com a Doechii, no entanto, essa energia parece inata. Quando eu a escuto, eu sinto isso – como se essa força passasse pelos alto-falantes. E acho que muitos dos fãs dela sentem o mesmo.
É poderoso ver uma artista como ela falar abertamente sobre identidade diante dos olhos do público. Precisamos disso. Precisamos de mulheres que não se desculpam por quem são, por quem amam, pelo que acreditam. A força da Doechii não está apenas na ferocidade; está também na vulnerabilidade. Uma das minhas frases favoritas de “Crazy” é: “Can’t call my bluff when this shit is my calling.” [Não dá pra dizer que estou blefando quando isso é minha vocação]. Isso não é apenas uma letra inteligente – é uma declaração de missão. Ela é à prova de balas porque sabe quem é.
E então tem a voz dela. Quando ouvi “Hide and Seek” da mixtape dela, tive que pausar. Pensei: ‘Espera, ela consegue fazer isso também?’ Ela pode rimar, pode destruir um palco – e depois virar e cantar uma balada que te acerta no peito. A versatilidade dela não é brincadeira.
Mesmo já lançando música há um tempo, ainda parece que a Doechii está se apresentando ao mundo – e fazendo isso totalmente em seus próprios termos. Há uma certa dose de caos na maneira como ela navega esse momento, mas é um caos bonito. É destemido, intencional e completamente sem filtros.
Não há hesitação na entrega dela. Nem pedidos de desculpa. Só arte. Só ela. Ver alguém surgir com esse tipo de confiança, com essa clareza, é um presente. Ela me lembra – e provavelmente a muita gente – que caminhar pelo mundo com certeza não significa parar de aprender ou crescer. Significa apenas saber o seu valor enquanto avança.
E isso, para mim, é algo a ser admirado.
— Hayley Williams
Paramore Brasil
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