A MORENA TÁ VIVA!
Em entrevista para a revista The Face, divulgada hoje, Hayley falou sobre seu novo álbum solo, Ego Death At A Bachelorette Party e confirmou que o Paramore ainda é uma banda, reiterando que a banda chegou a entrar em estúdio durante a The Eras, mas que precisou dar uma pausa para que Hayley focasse em sua própria escrita após fim do contrato com a Atlantic Records.
Confira abaixo a tradução completa:
Vinte anos após o início de sua carreira, Hayley Williams é finalmente uma artista independente. Quando foi descoberta pela Atlantic Records aos 14 anos, Williams recebeu a proposta de realizar o sonho de ser uma estrela solo. Ela recusou, dizendo à gravadora que preferia fazer música com a banda emo despretensiosa que havia formado com seus amigos da escola. Como todos sabemos, manter-se firme foi uma ótima decisão.
O Paramore acabou definindo a cena pop-punk dos anos 2000 e além. Seus hinos emocionalmente intensos inspiraram artistas que vão de PinkPantheress e Olivia Rodrigo a SZA e Lil Uzi Vert, e nos últimos cinco anos, a banda se tornou maior do que nunca (atualmente estão entre as 20 bandas de rock mais ouvidas de todos os tempos no Spotify). Mas, por conta do contrato 360 que Williams assinou aos 15 anos, a Atlantic Records recebia uma porcentagem de cada disco, camiseta e ingresso vendido pelo Paramore.
“Se não fosse por sermos jovens, ignorantes e teimosos, talvez tivéssemos sentido desde o início o quão opressivo um contrato desses pode ser”, diz Williams sobre os primeiros anos da banda, sentada de pernas cruzadas em um banco de parque no Primrose Hill, em Londres. O dela foi o primeiro contrato 360 da história (na maioria dos casos, as gravadoras lucram apenas com vendas de discos e streaming), e essa prática tem sido amplamente criticada desde então por tirar o poder das mãos de artistas jovens.
O Paramore cumpriu suas obrigações com a Atlantic com o lançamento do explosivo espetáculo alt-rock de 2023, This Is Why. “Achei que seria como uma festa de aniversário. Ah, finalmente terminamos. Liberdade. Mas a gente não fala muito sobre o luto que pode vir junto com coisas boas”, diz Williams. “Foi uma mudança enorme que também me deixou perguntando: ‘contra o quê vou lutar agora?'”
Essa tristeza acendeu um pavio, e Williams despejou miséria, raiva, frustração e solidão em seu novo e feroz álbum solo, Ego Death At A Bachelorette Party, lançado oficialmente na semana passada. EDAABP é, segundo Williams, um “balde de vômito” de todas as suas influências e tudo o que ela precisava dizer. Pop cintilante, new wave, emo e punk estão presentes, assim como folk delicado e música eletrônica expansiva. “É um caos completo”, diz ela, sorrindo. “Se eu não colocar o veneno pra fora, ele nunca vai sair.”
Entre as faixas em destaque, estão Mirtazapine, uma declaração de amor punk aos antidepressivos; a emo cintilante True Believer, onde Hayley desconstrói a fé; e Ice In My OJ, com sua atitude alt-pop, na qual ela critica os “filhos da puta burros” que ela ajudou a enriquecer.
O plano inicial era fazer mais um álbum do Paramore. Enquanto tocavam em 46 estádios pela Europa no ano passado, abrindo os shows da Eras Tour de Taylor Swift, a banda – formada pelos membros principais Zac Farro (baterista) e Taylor York (guitarrista) – chegou a gravar algumas demos entre os shows e estava empolgada com um novo capítulo. “A música parecia um novo território”, diz Williams hoje, interrompendo a conversa por um momento para acariciar um cachorro agitado que correu até ela. Mas ela estava numa fase intensa de composição e precisava de espaço para processar sozinha as emoções turbulentas que estava sentindo. E assim, o que seria o próximo disco do Paramore virou um álbum solo de Hayley Williams.
No início deste ano, ela estava terminando de gravar Glum, uma faixa melancólica e carregada como uma nuvem negra (“I do not know if I’ll ever know / What in the living fuck I’m doing her”) e percebeu que estava escrevendo sobre “sentir-se muito sozinha”, um sentimento que carrega desde a infância. “Provavelmente porque cresci em um lar desfeito e nunca soube quem estaria lá para me amparar”, explica. Os pais de Williams se divorciaram quando ela tinha 12 anos, e ela se mudou com a mãe do Tennessee para o Mississippi. Isso ajuda a explicar por que ela se agarrou tão fortemente à “família escolhida” que encontrou na banda. Ainda assim, ela é a única integrante constante em toda a carreira do Paramore.
Durante o processo de escrita de EDAABP, Williams cogitou se mudar de Nashville para Los Angeles, e procurou seu amigo e produtor musical Daniel James, que já havia feito essa mesma mudança. Quatro dias depois do início das gravações juntos, eles já tinham três faixas finalizadas, incluindo Kill Me, uma resposta sarcástica ao ditado cristão “Deus dá as batalhas mais difíceis aos seus soldados mais fortes”. A música surgiu enquanto Hayley tentava lidar com a enxurrada constante de “más notícias e problemas familiares” que vinham em sua direção. As sessões foram interrompidas quando os incêndios florestais de LA se espalharam e obrigaram todos a evacuar a casa de James. Ele e a esposa voltaram para Nashville, e Williams desistiu da mudança. Agora vivendo na mesma cidade, ela e James logo tinham dezessete músicas prontas.
Em vez de lançar o álbum da forma convencional, Hayley Williams optou por disponibilizar as músicas como 17 singles individuais através de um site protegido por senha da Good Dye Young, a marca de produtos capilares que ela fundou em 2016 com seu amigo de longa data e cabeleireiro, Brian O’Connor. Ela também incentivou os fãs a compartilharem as faixas entre si – uma referência deliberada à era mais comunitária da internet, vivida por ela na época do MySpace.
“Simplesmente senti que precisava fazer o oposto de tudo o que a gente vinha fazendo antes”, diz Williams, que lançou o material por meio de sua própria gravadora, chamada Post Atlantic – uma brincadeira irônica com o nome da gravadora major que controlou sua carreira por duas décadas [Atlantic Records]. “Eu conheço cada par de mãos que tocou nesse projeto, e isso faz tudo parecer uma verdadeira comunidade punk rock DIY”, ela afirma.
É também a primeira vez que ela permite que a Good Dye Young se envolva diretamente com sua música. A nova coloração amarelo-sol chamada Ego marcou o início dessa nova era criativa. “Quero que a GDY conquiste seu espaço no mundo da música. Sempre tive medo de que essas duas coisas se sobrepusessem, mas… por quê?”, diz Hayley, revelando que tem uma colaboração “muito legal” com Rico Nasty a caminho. “Quando você olha para a cena onde a gente cresceu, ser expressivo com moda e cabelo sempre foi uma parte enorme disso. E, também, quando você vive em um país sob ameaça de fascismo, acho que é bom ter algumas pessoas que claramente não representam isso. Tem algo no tempo em que estamos vivendo que me faz querer ainda menos me podar, à medida em que envelheço.”
Quando os 17 singles chegaram às plataformas de streaming, Hayley convidou os fãs a criarem suas próprias ordens de reprodução para o projeto, ajudando-a a decidir a tracklist final para o lançamento oficial de EDAABP. A expectativa era que alguns fãs mais engajados participassem, mas em poucos dias, um site criado pelos próprios fãs – hayleysingles.com – já tinha mais de mil playlists enviadas. “Tem sido muito empolgante fazer algo só porque eu acho legal, e não precisar convencer uma equipe inteira de gravadora sobre isso”, conta Williams. “No momento em que comecei a ver as conversas dos fãs, pensei: ‘ok, podemos construir isso juntos’.”
Hayley Williams já tinha lançado trabalhos solo antes – mas nunca com tanta liberdade. Algumas colaborações nos anos 2010 foram propositalmente divulgadas como Hayley Williams do Paramore, enquanto os álbuns solo Petals For Armor (2020) e Flowers For Vases (2021) mergulharam em uma sonoridade eletrônica delicada e experimental, algo que jamais poderia ser rotulado como Paramore. “Na época, aquilo parecia libertador e revigorante, mas hoje, ao ouvir, percebo que eu ainda estava um pouco contida.”
Esse cuidado vem de ter passado a maior parte da carreira tentando convencer as pessoas de que o Paramore era uma banda de verdade – e não um projeto solo disfarçado. “Eu era muito sensível a isso porque magoava meus amigos,” conta ela, que também foi alvo do pior lado da misoginia no pop punk, sendo uma das poucas mulheres da cena com visibilidade real. Hoje, graças a muita terapia, “essas vozes parecem tão distantes e silenciosas. É bom poder rir dos trogloditas da internet que, infelizmente, causaram bastante estrago na época”, diz, sorrindo. Inclusive, hoje você pode comprar uma camiseta em sua loja online que diz “Hayley Williams é minha banda favorita” – uma demonstração de que ela está reivindicando seu próprio legado nessa fase solo.
“De muitas maneiras, escrever esse álbum deu voz àquela versão de mim aos 15 anos, que sentiu ter perdido boa parte do seu poder ao assinar com uma gravadora. Isso a libertou, e agora não preciso mais ficar presa naquele estágio de desenvolvimento.”
Depois da enorme maratona que foi a Eras Tour, Hayley achava que ficaria em casa apenas lançando música. Mas, ao participar como convidada na faixa Seein’ Stars, da banda Turnstile, e cantá-la ao vivo no show gratuito do grupo em Nova York, ela se lembrou de algo essencial: “Lembrei que é isso que eu faço, essas são as minhas pessoas e eu devia estar onde elas estão”, diz ela sobre a comunidade punk que compareceu em peso. “Agora, estou muito animada pra ouvir outras pessoas gritando suas próprias versões das minhas músicas de volta pra mim.” (Ela e sua equipe estão trabalhando em como manter os ingressos da turnê de EDAABP acessíveis. “Quando a resposta é ‘não’ pra coisas como [preços dinâmicos], normalmente é só porque alguém está sendo preguiçoso.”)
“É nesse lugar que sinto que presto meu serviço,” continua. “Vamos criar esse espaço para que as pessoas possam comparecer e, com sorte, sentir o que eu senti com esse projeto – aqui é onde eu sou compreendida, aqui eu posso gritar, chorar e dançar. Acho que, no fim, não é tão diferente de um show do Paramore…”
Então, inevitavelmente, a pergunta vem: e o Paramore?
“A gente alguma vez soube onde está?” ela ri. “Sempre fazemos grandes intervalos. Pra conseguirmos digerir as merdas que vivemos enquanto pessoas, leva o tempo que leva entre um álbum e outro.” Mas Hayley confirma: a banda está em pausa e não acabou.
“Não existem músicos melhores no mundo do que Zac e Taylor,” ela afirma. “E não existem performers melhores do que os [músicos de turnê carinhosamente chamados de] Parafour. É simplesmente mágico.”
“Sinto uma grande satisfação em saber que ninguém pode diminuir o que o Paramore é,” ela continua. “Mas também é muito importante pra mim fortalecer outros lados de mim mesma – partes que eu acabei reprimindo porque tinha medo de que as pessoas olhassem demais pra mim.”
Demorou 20 anos, mas parece que Hayley Williams finalmente fez as pazes com a ideia de ser uma estrela solo.
“Esse álbum pode não dar em nada, ou pode até ofuscar coisas que fiz no passado. De qualquer forma, agora eu tenho liberdade pra ser quem eu sou, do meu jeito,” ela sorri. “E isso é muito empolgante.”
Tradução por Larissa Stocco, da equipe Paramore Brasil.
Confira as fotos que acompanham a entrevista, tiradas por Zachary Gray:
Paramore Brasil
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