Em entrevista à revista Nylon, feita por videochamada em meio ao lançamento da segunda parte de Petals For Armor, Hayley Williams falou sobre o processo de criação de seu álbum solo, as parcerias que surgiram durante a composição dele – inclusive com Kristen Stewart! – e sobre como ele se difere dos álbuns que compôs com o Paramore, além das dificuldades encontradas em carregar seu nome em um projeto que é pessoal para ela.

Confira: Hayley Williams e Kristen Stewart trabalharam juntas em roteiro do clipe de ‘Roses/Lotus/Violet/Iris’

Leia abaixo a entrevista traduzida:

Hayley Williams está no meio de uma frase quando o celular dela toca com uma música familiar – a dela. “Isso é vergonhoso,” ela diz, rindo enquanto pega o celular para pausar seu novo single, que acaba de vir no aleatório. “É de uma playlist que minha amiga fez que eu estava ouvindo.” É a segunda semana da quarentena, e Williams, 31, tem encontrado apoio na música – Moses Sumney, Louis Prince, Caribou, os novos Dixie Chicks – para permanecer sã enquanto pratica o auto-isolamento em sua casa, em Nashville. Ela cozinha receitas de Alison Roman, incluindo o polêmico “ensopado” que ela comeu no café da manhã, antes da nossa chamada. Ela tem visto os filmes de terror do Ari Aster. Ela tem enviado memes. Ela tem feito o que todo mundo está fazendo nesses tempos estranhos. Ela também acontece de estar lançando seu primeiro álbum solo, Petals For Armor.

Williams nunca quis se destacar, um jeito de ser que ela carrega com ela desde que era uma criança de 8 anos, vivendo em Meridian, Mississippi, tentando montar uma banda local em um tempo em que todas as garotas que queriam cantar gostariam de ser como a Britney Spears. Apenas alguns anos e uma mudança para o Tennessee depois, veio o Paramore, uma criação do cérebro adolescente de Williams e de seus colegas de classe, Zac Farro e Josh Farro. Pela próxima década e meia, eles se tornariam uma das maiores bandas de rock do mundo – sendo destaque da Warped Tour em 2005, levando para casa o Grammy de 2015 por Melhor Música de Rock, e vendo três álbuns ganharem o disco de platina. Em meio a isso tudo, Williams foi o elemento constante da banda; enquanto outros membros da banda foram e voltaram, Williams nunca saiu.

Mesmo nos primeiros dias, era impossível manter os olhos longe de Williams quando ela entrava no palco. “Ela é excelente em algumas m*rdas que são difíceis pra p*rra para mim, e ela faz com que isso pareça fácil pra c*ralho,” diz a amiga e colaboradora de Williams, Phoebe Bridgers. “Não é fácil segurar uma nota perfeitamente e permanecer como o destaque do palco. Ela está confortável com isso. Eu ainda digo que o melhor show que já vi ao vivo foi o do Paramore no The Greek em Los Angeles. Ela chamou uma pessoa e trouxe essa pessoa no palco para cantar uma música inteira. Como você sabe que essa pessoa não vai f*der tudo ou tentar te beijar ou ser estranha?”

Se Williams tem consciência do efeito que ela causa nos fãs e seguidores, ela nunca deixou isso transparecer. Seus feats em hits massivamente populares nas rádios (“Airplanes”, com B.O.B., “Stay the Night”, com Zedd), foram creditados como “Hayley Williams do Paramore”. (O nome dela no Twitter ainda é “hayley do paramore”.) “Tem que haver uma razão para que eu me sinta mais segura em estar em uma banda. Mesmo [quando] eu tinha 8 ou 9 anos, [eu estava] tentando recrutar amigos para uma banda comigo. Eu era a baterista naquele ponto. Eu não queria estar na frente,” ela diz. Com o Petals For Armor, ela não está apenas na frente: é só ela. Fim.

Hoje, os traços de assinatura da persona de Williams na era RIOT! – o cabelo vermelho assimétrico, as roupas neon – já se foram. Pelo Skype, ela mostra um cabelo loiro-natural, sua pele está aparecendo, e ela se arrumou. “Eu fiz isso para vocês, porque eu literalmente tenho estado igual uma m*rda, não estou nem tentando,” ela diz apontando para seu top colorido da Collina Strada. “Eu fiz o show da marca no New York Fashion Week, e Hillary [Taymour, designer e diretora criativa da marca] tem me dado algumas atualizações sobre Nova York. Do nada, eu recebi esse pacote fofo dela, então fiquei tipo, ‘Sim! Tenho algo para vestir para minha entrevista.'”

Foi nesse show em uma noite de domingo em fevereiro – o primeiro desfile de moda ao qual Hayley foi – que Williams, sem nenhuma fanfarra ou anúncio prévio, surpreendeu uma sala pequena de editores de moda com a primeira performance ao vivo de “Simmer”, a primeira música do álbum. (O álbum terá três partes de cinco músicas. A primeira foi lançada no dia 6 de fevereiro, a segunda saiu agora e a parte três sai no dia 8 de maio.) Os stories dos editores de moda mostravam Hayley Williams transformando a passarela em um palco de show, enquanto as modelos criavam um moshpit improvisado atrás dela.

Era para Williams estar de férias agora. No fim de 2018, o Paramore encerrou a turnê mundial do After Laughter e decidiu entrar em hiatus pela primeira vez em quase uma década. Ela revelou durante a turnê que ela e o guitarrista do New Found Glory, Chad Gilbert, estavam se divorciando depois de quase 10 anos juntos, e apenas um ano depois do casamento. Pela primeira vez em quase uma década, Williams não tinha nada além de tempo livre. “Eu cheguei nesse novo nível em que eu me senti tipo, ‘M*rda, eu pensei que tinha tudo nas mãos.’ E me encontrei fazendo a terapia mais intensa que já fiz na vida.” A terapia dela envolvia escrever sobre seus sentimentos, algo que foi tão fácil que ela nem percebeu que estava silenciosamente compondo músicas novamente.”

“Quando eu terminei ‘Simmer’, eu pensei tipo, ‘O que estou fazendo? O que é isso?'” Ela ligou para Joey Howard, o baixista de turnês do Paramore (e agora o co-escritor do álbum) e para o colega de banda Taylor York, que entrou para o Paramore em 2007, para ajudar com o que ela estava fazendo. “Foi realmente uma necessidade criar esse álbum com pessoas com quem eu me sentia confortável, de formas novas que não eram sempre confortáveis,” ela diz. “A parte mais legal é que eu não tinha esse sentimento desde que eu tinha 15 ou 16 anos. Não estou dizendo que não gostei de escrever os outros álbuns do Paramore, mas quando éramos crianças, nós só fazíamos isso porque não tínhamos mais nada para fazer. É legal sentir isso quando você é adulto, porque eu acho que quase nunca nos lembramos de apenas brincar.”

Quando ela completou “Cinnamon”, uma canção cheia de batidas sobre os confortos da casa, Williams reconheceu que ela estava escrevendo músicas que ela queria que saíssem para o mundo. Mas ela lutou muito para considerá-las um projeto solo. “Eu pensei, ‘Talvez eu crie um pseudônimo e coloque-as no Spotify só para sentir que elas estão sendo lançadas,” diz ela. “Eu não estava pronta [para colocar meu nome nisso]. Muitos dos meus amigos me chamam de H, e eu pensei, ‘Talvez eu possa lançar como H.'” Foi York que a convenceu de que ela poderia ser parte do Paramore e também colocar o próprio nome em um trabalho que era dela, só dela.

Williams não sabe porquê lançar algo só dela foi tão difícil, mas ela está começando a pensar que não precisa se preocupar. “Eu me sinto sortuda por ter essa história com o Paramore, e por termos uma comunidade de amigos e artistas, mas também posso pegar todo o meu crescimento pessoal e fazer algo dele sem explicações. Eu acho que a vida te empurra para onde você precisa estar. Chega um ponto em que você não pode mais negar.”

No Petals For Armor, Williams mostra um novo nível de vulnerabilidade e crueza que ela diz que veio de começar algo do zero. A primeira música que Hayley escreveu para o projeto foi “Leave It Alone”, uma música assustadora, quase parecida com um jazz, que começa com os versos, “Ninguém me diga que Deus não tem um senso de humor / Porque agora que quero viver, bom, todo mundo ao meu redor está morrendo.” É algo emblemático das músicas da Parte 1, a mais sombria dos três EPs. “Eu posso tentar me segurar quando estou escrevendo, mas eu começo a ter um relacionamento ruim comigo mesma quando tento inventar formas de esconder meus sentimentos,” Williams diz. “Escrever é bom porque quando você coloca isso no papel, você não tem outra opção além de olhar para seus sentimentos.”

O que Williams não quer é que suas músicas sejam confundidas com uma reconstrução literal de sua vida pessoal. “Algumas dessas músicas ficaram tão poéticas porque é uma forma de auto-proteção,” ela diz. “Eu preciso colocar coisas para fora.” Pensar no lançamento de músicas mais pessoais causa a ela certa ansiedade, mas “toda história tem mais de um lado.”

“Tudo que posso fazer é contar minhas experiências,” ela diz, “e também não me sentir culpada por ter passado por essas experiências. O que as pessoas vão dizer? Eu não sei, e isso não é realmente meu problema.”

Mesmo através de uma tela, você pode ver que a casa de Williams em Nashville está cheia de luzes. É pequena, Williams diz – ela se refere a ela como um chalé. “É isso que me deixa segura, eu acho”. Ela mora nessa área desde adolescente, exceto por uma pequena mudança para Los Angeles. “Eu me sentia muito sozinha em LA,” ela diz. “Eu realmente estava num mundo de fantasias, pensando que meu relacionamento ia funcionar. Eu ia para o mercado e voltava e cozinhava antes dele chegar em casa. Eu não sei o que estava fazendo, mas era muito solitário.”

Em Nashville, ela nunca esteve sozinha. Ela conheceu os Farro em Franklin, Tennessee quando ela tinha 11 anos. “Eu estava muito triste. Minha família estava partida ao meio”, ela recorda. “Quando eu me mudei, eu conheci Zac, o que foi o começo da minha vida. Eu sou muito dramática quanto a isso, mas eu vou deixar leve e apenas dizer que aquele momento mudou minha vida, e agora eu faço o que faço”.

Farro e York ainda moram perto. “As pessoas com as quais eu cresci criando coisas ainda são as mesmas com as quais eu volto”, ela diz. “Temos uma língua tácita. Não pensamos ‘ah, vamos ligar para esse cara que tem um nome grande.’ Pensamos ‘vamos ligar para esse amigo que conhece alguém’. O fato é que eu cresci com o mesmo grupo de pessoas dos 13 aos 31 anos, e ainda fazemos coisas juntas? É um presente e tanto. Com quem mais isso acontece?”

Williams é rápida ao retribuir reconhecimento a todos que trabalham com ela, postando os nomes de todos aqueles que ajudaram em cada faixa de Petals, desde produtores até aos assistentes de mixagem — créditos que geralmente relegados às menores fontes nas notas. “Ela realmente entende o crédito. Ela é uma verdadeira colaboradora.”, diz a fotógrafa Lindsey Byrnes, amiga próxima de Williams e diretora criativa do projeto. Juntas, o par criou uma variedade de visuais para cada passo da divulgação do álbum, desde os horripilantes teasers piscando de janeiro até ao colorido dançante videoclipe de “Cinnamon”, assim como a arte do álbum e as fotos para esta história.

“Eu nunca tive alguém que tirasse fotos minhas como ela faz”, Williams diz sobre Byrnes. “E ela também é um ótimo ser humano. Falo com ela sobre qualquer coisa, seja o que está acontecendo neste momento no mundo ou minha ansiedade ou as coisas dela — eu preciso de verdade dessa camaradagem e amizade verdadeira nos meus empenhos criativos. Caso contrário, qual é o ponto?”

No Skype, Williams se estica até o “caderno” onde eles trabalharam quando montaram tudo. Está mais para um fichário completo. “Usei lápis nº 2 nessa m*rda”, ela diz rindo. O conteúdo do fichário inclui notas sobre do que cada canção se trata e as cores e padrões que Williams relaciona a elas. “A primeira palavra que disse a Lindsey foi textura. No último álbum do Paramore, tudo era sem cor. Com isso, eu realmente queria que nele tivesse muita texturas, cores surpreendentes e luzes.”

Williams sempre entendeu como a imagem e a música interagem. “Eu amo a psicologia do marketing”, diz Williams, que também é coproprietária e dirige a linha de tintura de cabelo Good Dye Young com o cabeleireiro profissional Brian O’Conner. “Mesmo quando estávamos fazendo o Riot!, muito disso era ‘ei, vamos surgir com a vibe e o sentimento que as pessoas se conectam’. Eles compram um estilo de vida, pintam seus cabelos com cores estranhas e usam amarelos e vermelhos, jeans apertados. Tudo era uma atmosfera. Eu sempre curti isso.”

Se há alguma dúvida da habilidade de Williams para construir uma banda, confira “Corporate Nightmare Song”, um curto episódio de novembro de Saturday Night Live o qual Kristen Stewart foi a apresentadora. Na sátira sobre punks trabalhando em um escritório, Stewart vestiu-se de Williams durante a época do Riot!, de cabelo vermelho assimétrico e jeans apertado. “Cara, eu nunca vivi tanto quanto naquela época”, Williams diz. “Ela ligou para Lindsey — esta é a minha conexão com ela, não Crepúsculo, ao contrário da crença popular [o Paramore contribuiu na trilha sonora do filme com a música “Decode”] — e foi tipo, ‘você e Hayley precisam assistir ao SNL hoje à noite’. Quando eu vi no dia seguinte, eu morri. A paródia toda estava perfeita. Ela literalmente pareceu com quando eu era um pouco atacada.’

A própria Stewart quase contribuiu em um pequeno aspecto de Petals for Armor. “Ela iria dirigir o vídeo de ‘Roses/Lotus/Violets/Iris’, Williams diz. Ela escreveu o ato mais lindo que eu já vi; eu estava chocada. Ela é uma escritora fabulosa.” O vídeo não aconteceu, entretanto, devido a cronogramas não alinhados. “Talvez ainda acontecerá”, Williams diz. “Talvez no final disso tudo, será o que eu vou fazer.”

Essa música, lançada em 19 de março, tem créditos de vocais adicionais a banda boygenius, composta por Bridgers, Julien Baker e Lucy Dacus. A colaboração aconteceu por acaso quando Williams esbarrou em Baker, uma amiga próxima com quem ela planejava pedir para participar da faixa num show local. Dacus estava lá também, e mencionou que Bridgers chegaria à cidade no dia seguinte. Bridgers descreveu a sessão como a “melhor reunião de família de todas”, com comida vegana e pré-visualizações de novas canções; o dia resulta na única colaboração do álbum. “Às vezes eu fico com vergonha ao ver quantos features fazem hoje em dia. Toda canção é um feature. Esta [pareceu] poderosa quando eles reforçaram meus vocais a singularidade delas, e isso o que cada música é sobre: nós sermos capazes de fazermos uns pelos outros. Isso aprofundou o significado para mim”.

Para alguns artistas, uma pandemia global acontecer no momento do lançamento de seu primeiro álbum solo seria um desastre. Para Williams, é uma chance de vestir um par de leggings com estampa de tigre e postar uma rotina de exercícios de três minutos performando seu single “Over Yet”. “Nós vamos mudar e ajustar as coisas durante o processo”, Williams fala sobre o plano de divulgação do álbum. “Agora eu estou tipo, ‘graças a Deus eu não lancei tudo de uma vez porque eu precisava de algo para fazer todos os dias.’ Estou tentando encontrar uma maneira de continuar criativa e inventiva e me conectar às pessoas com a música”.

Williams tem ficado ocupada postando vídeos dela mesma cozinhando em casa e tocando algumas de suas músicas favoritas, bem como ressaltando covers dos fãs de suas próprias músicas. “Eu realmente não gosto de ficar o tempo todo no celular, mas ontem eu meio que me rendi”, ela diz. “Eu fiquei no telefone o dia todo, repostando m*rda, assistindo aos covers, o que é muito legal. O fato que as pessoas as aprendem essas m*rdas são rápido me deixa louca. E eles são muito bons.”

Williams ainda planeja sair em turnê para Petals for Armor (mesmo que por enquanto nenhuma data tenha sido cancelada ou remarcada), tocando para audiências muito menores do que o Paramore tem feito recentemente. “Eu fiquei completamente dividida entre estar muito empolgada e aterrorizada para ver os fãs do Paramore de novo”, ela diz. “Eu estarei no palco e, quando eu virar para trás, Taylor e Zac não estarão lá.” Apesar do calendário incerto, ela ainda está trabalhando nos visuais da turnê e nas setlists que ela diz que terá covers de músicas que ela ama. “Acho que o único meio de fazer [esse lançamento] dar certo para os fãs é estar super transparente e tipo, ‘eu estou entendendo tudo isso agora’,” ela diz. “É por isso que eu sou muito grata. E talvez algumas coisas muito bonitas surgirão disso.”

“Só porque eu tenho um álbum não significa que eu estou flutuando por essa m*rda”, ela acrescenta. “Estou precisando de certo tipo de conexão também, e é isso que a música faz. Esse é o trabalho que eu tenho que fazer.”

Tradução por Larissa Stocco e Rita Nogueira; equipe Paramore Brasil.

Confira o photoshoot de Hayley para a Nylon Magazine, com fotos registradas pelas lentes de Lindsey Byrnes (clique para ampliar):

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