A NPR Music, importante organização que promove podcasts, webcasts ao vivo, reviews, playlists e notícias, e que criou o Tiny Desk, onde o Paramore apresentou versões acústicas do álbum ‘After Laughter‘, elegeu Hayley Williams como a “profeta do pop-punk do século XXI”, apresentando argumentos sobre a influência da vocalista no mundo da música e sobre a importância de sua existência enquanto pessoa e enquanto mulher.

Confira abaixo o artigo completo traduzido:

Hayley Williams é a profeta do Pop-Punk do século XXI

Não é suficiente fazer lista atrás de lista. O projeto Turning the Tables (Virando as Mesas, em tradução livre) procura sugerir alternativas à música popular cânone tradicional, e fazer mais do que isso também: estimular conversação sobre como hierarquias emergem e resistem. Este ano, Turning the Tables considera como mulheres e artistas não-binários estão modelando a música em nosso momento, desde pop mainstream até as sinecuras do jazz e música clássica contemporânea. Nossa lista das 200 Melhores Músicas de Mulheres+ oferece uma trilha sonora a um novo século. Esta série de artigos assume outra tarefa.

Os 25 argumentos que escritores fazem nesses artigos desafiam a definição usual de influência. Alguns repensam a construção de legados de artistas populares; outros celebram aqueles que criam dentro das subculturas, suas inovações se sobressaindo ao longo do tempo. Como sempre, mulheres forjam novos caminhos no som; hoje elas também agitam a superfície da cultura confrontando, em suas músicas, a crescente fluidez de “mulher”, em si. O que é uma mulher? É uma questão atemporal na superfície, mas profundamente abordada em associação com o momento histórico em que foi feita. Nosso 25 Mulheres Musicistas Mais Influentes do Século 21 ilumina suas complexidades.

Paramore eram apenas crianças: nas profundezas do YouTube uma montagem chuviscada da interação da caravana punk do Warped Tour de 2005 mostra a banda ainda verde, desajeitada, na linha de partida. Nesse ano, Warped tinha o primeiro palco adicional Shiragirl para apresentações lideradas por mulheres – instigado pela garota problema nova iorquina Shira Yevin que, um ano antes, entrou na Warped com seu RV rosa e plantou um palco marcando espaço para mulheres naquela cena perenemente dominada por homens. Paramore, liderado pela cantora powerhouse Hayley Williams, veio da pequena cidade de Franklin, Tennessee para o Warped via Shiragirl stage. A banda tinha sido formada há apenas um ano – Williams tinha 15 anos – mas você ainda não haveria de ter escutado alguém encarar o vazio ou gritar um “wh-o-oa” com tanto vigor a auto-confiança. “Ninguém os conhecia, e ainda assim todos os dias eles tinham o maior público,” Yevin me disse este ano, ainda um pouco confuso. No mesmo vídeo do Warped, um intrépido jovem jornalista menciona à Williams que “tem algumas mulheres no Warped Tour este ano – isso é diferente”, antes de perguntar: “Você está contente em fazer parte dessa revolução?”
Não há precedentes para a ganhadora de Grammy, quebradora das paradas, sobrevivente da Hot Topic Hayley Williams: a estrela mais brilhante do pop-punk, como uma Beyoncé do Warped Tour. No meio dos anos 2000, era dos cortes de cabelo desfiados e cintos cravejados – o que tinha de elegante, montanha-russa de riffs e refrões cheios de ataque, quando boletins do Myspace eram delimitados e Alternative Press era gospel – Hayley conquistou algo que a maioria das garotas emo não tinham forma real de conceituar. Ela poderia também ter criado uma cor (e bem, ela fez isso, também).

Garotas evidentemente não eram musicistas nesta cena. Isso estava claro para a cantora-liricista de Baltimore Lindsey Jordan, também conhecida como Snail Mail, antes de ir em seu primeiro show do Paramore aos 8 anos de idade. “Antes de ver Paramore eu não sabia que garotas poderiam estar em bandas,” Jordan disse à Rolling Stone este ano. “Eu lembro tão claramente de ter este grande momento… eu surtei. Foi aí que eu soube que queria estar em uma banda.” Hayley não ofereceu permissão tanto quanto ela mostrou a uma geração de garotas que elas não precisavam pedir permissão. Jordan está atualmente eletrizando o rock com uma nova esperança.

Williams sempre tem sido o grande ímã, brilho e asas do Paramore. Ao contrário de outras vocalistas do pop-punk, Williams realmente sabe cantar – crescendo e decrescendo e oscilando através de um estilo sincopado de intermináveis palavras, angustia, desesperança, descontentamento. Do início, entretanto, ela é inflexível ao querer que Paramore fosse vista como uma banda. “Eu queria aquela coisa de nós contra o mundo,” Williams disse do seu desejo de fazer parte de uma tribo, de respirar o ar intoxicante da camaradagem.

Até em mutações chiclete corporatizadas, subculturas do punk são, para crianças, meios de encontrar companheiros desajustados, de se sentir menos sozinho. Comunidade está no coração disso. Quando Paramore passou 2005 escrevendo no seu próprio Livejournal sobre bandas como Mae, Jameson Parker e Underoath, a banda estava reclamando conexões com seus pares. Quando Paramore fez cover de Sunny Day Real Estate e Jawbreaker, estabeleceu uma linhagem com ancestrais emos. Esses laços são fortalecedores e afirmadores de vida. Claramente, garotas têm sempre sido fãs e consumidores cruciais do rock – emo e pop-punk incluído. Mas por muito tempo elas foram negadas o mais alto nível de participação: o palco, o microfone, o nome e o rosto. Ao insistir à sua gravadora principal, Atlantic, que ela mantivesse sua banda – não se tornar uma artista solo estilo Avril, como eles preferiam – Williams cavou um novo espaço radical. Ela se tornou central.
Indo além do melodrama escorregadio do debut All We Know Is Falling (2005), do trabalho que os colocou no mapa Riot! (2007) e a volta da vitória Brand New Eyes (2009), Paramore está fazendo seu melhor trabalho atualmente, gradativamente deixando aquele classicismo pop-punk adolescente para trás. No álbum de 2017, After Laughter, atraiu mais enfeites habilidosos de Talking Heads e Blondie e, com isso, completou o pivô clássico da simplicidade do punk em direção ao eletricismo (veja: The Clash, Public Image). Pegando sugestões do post-punk, Paramore criou post-pop-punk.
O exemplo mais monumental disso, e maior hit até agora, é “Ain’t It Fun” que mescla pop, funk, soul, gospel e R&B. A colagem estética dessa canção funciona como uma biografia sônica para Williams, que passou sua juventude pré-Paramore tocando Motown, cantando na igreja, e tocando em uma banda local de funk que performou Chaka Khan e Stevie Wonder. “Ain’t It Fun” é uma coisa desarmante de contemplar, enquanto Williams encara a fria realidade de crescer depois de uma adolescência furação nos holofotes. Sua letra é vertiginosamente honesta. “Você não é o peixe grande na lagoa, não mais/Você é o alimento deles.” Williams canta, soando como uma sábia nova pessoa. “O que você vai fazer/Quando o mundo não girar em torno de você?” Evidentemente, você pinta seu pavor existencial. Você faz algo que é gloriosamente fora de passo.

A canção continua:
Não é divertido
Viver no mundo real?
Não é bom
Estar completamente sozinho?
Não vá chorando para a sua mamãe
Porque você está por conta própria
No mundo real

O vídeo de “Ain’t It Fun” mostra Paramore destruindo guitarras e socando discos, dirigindo rápido em um conversível, gritando, rodopiando e de forma geral expelindo a energia despreocupada de uma banda com nada a perder além da bagagem bizarra de seu passado. “Eu tenho sido infeliz e eu não desisti, e eu estou tão feliz por não ter desistido,” Williams disse em uma entrevista recente. “Eu forcei meu limites… [e] é bom ver do que você é feito. Eu tenho descoberto mais isso recentemente.”
Williams relatou, recentemente, como a falta de mulheres musicistas jovens em sua cena contribuiu para o sentimento de solidão e auto-aversão. “Eu duvidei se as pessoas algum dia me levariam a sério,” ela disse. “Eu senti como se precisasse fazer parte do grupo de meninos para conseguir ter êxito. Isso realmente afetou meu senso de individualidade e o que eu pensei dever às pessoas.” E então ela pegaria duas vezes mais pesado do que os homens com os quais compartilhava o palco. “Eu pensei que precisava ser melhor do que eles para provar o meu valor,” ela disse. “Eu gostaria de ter aprendido mais cedo que [ser uma mulher] é na verdade esta força incrível.”
Mall-punk era misógino de formação: garotos era centrados no palco, garotas eram consumidoras, as letras foram por tanto tempo sexistas e não checadas. Williams não era exceção. O single incessantemente chiclete de 2007 do Paramore “Misery Business” foi um dos mais orgulhosos e rancorosos hits daquela era. Williams canta amargamente sobre odiar uma garota que roubou seu namorado (uma “vadia qualquer”, pela linguagem de 2007; uma “garota tipica” nos anos 70), enquanto ela está aqui pegando ele de volta. Existe um verso especialmente escandaloso no qual os críticos focam, onde Williams usa a palavra “whore” (puta, em português), mas a toxicidade da canção está presente em todo o seu tom vingativo. “Misery Business” é uma conclusão lógica da terceira onda de atitude hostil à mulher no emo. Depois de anos mantendo garotas fora dos palcos e as desumanizando em letras maldosas, finalmente as coloca umas contra as outras. “Misery Business” é prova de que ninguém está a salvo sob o patriarcado, o que sempre funciona para colocar mulheres em competição. A canção – é claro – foi ótima para os negócios. Alcançou a 26ª posição na Hot 100 da Billboard e foi o maior hit do Paramore até “Ain’t It Fun”.
É quase impossível imaginar ser uma jovem fã de pop-punk dos anos 2000 e não internalizar um pouco de misoginia. Williams pegou as letras de “Misery Business” de seu próprio diário. Como ela esclareceu em uma entrevista de 2007, “Eu não tinha como saber naquele momento […] que estava me alimentando de uma mentira que comprei, assim como muitas outras adolescentes e adultas antes de mim: a coisa do “eu não sou como as outras garotas.”
Paramore já tinha começado a cortar os trechos mais problemáticos da canção antes de anunciar, mais cedo neste mês, que eles vão deixar de lado as performances ao vivo de “Misery Business” no futuro. Com isso, Williams estabelece outro precedente. Artistas podem mudar. Pode admitir seus erros. Podem criar discurso. Eles podem aprender com seus passados e possivelmente deixá-los para trás.
Em 2018, contudo, nada do som antigo do Paramore ameaça desaparecer completamente. Traços da abertura emocional de sua cena, detalhes crus dignos de diário e ganchos bem esculpidos podem ser encontrados entre os centros de poder do pop. Produtores como Jack Antonoff (antigamente do Steel Train, assinou com a gravadora mall-punk de Jersey Drive-Thru Records), Dev Hynes (antigamente do Test Icicles, e que mais tarde trabalhou com Saddle Creek) e Justin Raisen começaram tocando pop-punk. O movimento emo-rap tem adaptado seu temperamento moroso. Até a escrita de Taylor Swift descobre o audível (e declarada) influência de Dashboard Confessional. Mas Williams é a artista rara que coloca uma sensibilidade pop-punk na rádio por continuar verdadeira à sua própria clara, penetrante voz, sem radical reinvenção. Ela simplesmente evoluiu, diretamente e honestamente, como a música em si.
A influência de Williams – particularmente entre mulheres e pessoas de cor – deixou uma marca forte em zeitgeist. Grimes citou Paramore como uma inspiração primária em Art Angels de 2015 e incluiu “That’s What You Get” em sua lista de Maiores Músicas de Todos os Tempos. Quando criança, Sophie Allison de Soccer Mommy tocou a mesma música no acampamento de rock. Não muito depois de Lil Uzi Vert compartilhar um vídeo de si cantando “Ain’t It Fun”, ele disse que Williams é sua maior influência em seu labiríntico senso de melodia. “Ela é a melhor da minha geração,” ele disse a um apresentador de rádio. “Não tem outra pessoa, mano.” Apenas recentemente abraçado por uma canto mais perspicaz da crítica musical, Paramore se identificou com artistas vanguardistas de diferentes gêneros que não têm medo de sinceramente pensarem por eles mesmos. Os fãs da banda, dispostos a não serem descolados, reformularam definições de “descolado” no percurso, trazendo o Paramore com eles.
Antes da rapper nascida e criada na cidade de Nova York Princess Nokia cantar “Misery Business” em um show recente da Beats1 dedicado ao pop-punk de sua juventude ela deu à canção, e à Williams, uma introdução que foi especialmente emocional, enquanto o tom de sua voz aumentou, impressionada e chorosa “Garota, você mudou minha vida, garota!” Nokia disse a respeito de Williams, recontando o show do Paramore no Bamboozle de 2010 e como esta banda de adolescentes de Tennessee dominou a indústria, tornando-se trilha sonora para tantos começos. A própria Nokia trouxe uma perspectiva que estava faltando para o clube dos garotos do rap com sua recente mixtape A Girl Cried Red.
No Beats1, Nokia desenrolou sua admiração com total encanto “Você veio e mudou tudo, garota!” Nokia continuou. “Você tem tipo 1,20m de altura e tem uma voz que veio de uma igreja Batista do sul – de onde você é, garota, Tennessee? Você definitivamente é de Tennessee, garota! Eu sei que você foi criada naquela igreja, senhorita Honey, senhorita Hayley Williams…”
“Nós vamos tirar um momento e apenas viver pela senhorita Hayley Williams,” Nokia exprimiu. “Por que ela realmente fez aquilo.”

Tradução: Raíla Serra, da Equipe Paramore Brasil.

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