Em entrevista publicada hoje (11) pela Alternative Press, Zac Farro falou sobre seu álbum solo, Operator – o primeiro a ser lançado sob seu próprio nome; antes, os projetos de Zac eram lançados pela halfnoise – e sobre como se reencontrou na música fazendo um projeto próprio, marcado por revelações pessoais – além de refletir também sobre as diferenças em lançar músicas sozinho e com o Paramore.

Confira a tradução abaixo:

“O Paramore é uma comunidade”, diz Zac Farro, sentado à minha frente num dia inevitavelmente sufocante em East Village. “A infraestrutura de fazer parte de algo há tanto tempo é incomparável. Ter essa família, esse propósito, é incomparável”. O artista nascido em Nashville e eu analisamos sua triádica trajetória na música, que agora não só abrange o Paramore e o halfnoise, o projeto mais funk que Farro lidera, mas também um álbum solo de verdade, lançado em seu próprio nome. “halfnoise foi um passo importante pra eu me sentir mais confiante, apesar de achar que é possível se esconder atrás de clipes divertidos e tal. Tem muito coração e felicidade, também, e foi uma ótima experimentação sonora e de personalidade – halfnoise meio que me fez evoluir – mas, agora, é hora de eu expressar minha verdadeira personalidade”.

Não é que ele não estivesse presente nesse projeto, Farro garante, mas com seu primeiro álbum solo, Operator, as coisas funcionaram bem mais fácil do que antes. Pela falta de um termo menos clichê, eu diagnostico o que ele experienciou como um crescimento pessoal e criativo, simples e natural. “Eu estava sendo eu mesmo”, ele diz. “Eu estava seguindo o que me inspirava, e tudo se encaixou sem esforço algum”.

O novo álbum, que Farro mixou e produziu sozinho em seu estúdio em Nashville, reflete isso de um jeito muito óbvio, um jeito brilhante, sonoramente – com um som meio easy rock de 1970 e um groove que bate forte, e envolve o ouvinte com um sentimento reconfortante de nostalgia – e na profundidade das letras. Apesar de que garimpar no universo musical seja familiar para Farro – o último projeto do halfnoise juntava um city pop japonês dos anos 1980 com a assinatura da banda, um psych-rock metálic – se abrir e mostrar seu lado pessoal é completamente novo para o artista. E vale a pena. O projeto é um contraste de perfeito e cru, vulnerabilidade e luz nascendo, um instrumental difuso. Sobre um pedal metálico e padrões de bateria bem pensados e detalhados, e um baixo estável que costura o álbum com a força de um nó náutico, Farro desenrola temas como ansiedade, quebra de comunicação, relacionamentos familiares, e envolve isso tudo em verdadeiras dificuldades de se conectar, ou de se desconectar, com os outros.

O amor acontece quando não estamos procurando – um revirar de olhos para qualquer pessoa solteira, mas um mantra que realmente se aplica aqui. Sem garantia de como o ano seria – com turnês, ou de outro jeito – Farro perguntou a dois amigos, também por dentro da cena musical de Nashville, Matt Chancey e Josh Gilligan, a se comprometerem com as duas primeiras semanas de janeiro – que passaram trancados no estúdio dele. “Eu sinto falta de álbuns assim. Por exemplo, Is This It – você sabia que eles [The Strokes] gravaram em um mês? Não houve ajustes nem ficaram pensando demais. A inspiração simplesmente some quando você pega uma música em que não trabalhou durante o ano. Parece que você olha uma foto e pensa ‘eu não gosto mais dessa blusa’”, Farro explica. “Eu não gosto de revisitar coisas. Sendo otimista, quanto mais velho você fica, menos você faz. Você fica bom em perceber que só tem que fazer o que funciona. Eu gosto de pensar que depois de anos envolvido com música e no estúdio, eu sei o que quero fazer… Algumas das melhores coisas acontecem no momento. Se não, siga em frente”.

Não é uma lição que Farro nasceu sabendo, mas os “primeiros passos” de projetos passados levaram ele até lá. “Eu sempre minimizava as coisas do halfnoise enquanto eu esperava secretamente que fossem entrar em playlists ou algo assim”, ele diz. “Eu não acho que tive os motivos errados. Eu só precisava recriar e corrigir, sem expectativas de que algo aconteceria…” Essa mudança de perspectiva permitiu que Farro seguisse com decisões desconfortáveis, e quebrasse as regras que ele criou pra si próprio. “Nós entramos num limbo e soltamos ‘My My’ como primeiro single, que é uma música que eu nunca usaria com o halfnoise”, ele adiciona. “Eu teria feito uma música mais pra cima ou mais funk. Mas Zachary Gray e AJ (Gibboney) disseram, ‘se você quer fazer algo diferente, você devia soltar essa primeiro, na New Music Friday. E eu fiquei tipo ‘isso é maluquice pra minha música’. Faz sentido com o Paramore, mas não funciona comigo”.

Mas, apesar de seu instinto, ele se submeteu a criar um novo caminho, mergulhando num novo imediatismo, uma intimidade, e uma intuição que o processo desse novo álbum moldou. Abrindo mão de um marketing prolongado, ou uma estratégia de lançar singles aos poucos, o álbum se manteve orgânico, sem espaço pra procrastinação ou insegurança, do início ao lançamento. “Não é a porra do Jurassic Park. É só uma música”, Farro ri, enquanto percebe seu anúncio exagerado.

Mas, uma vez que Operator foi lançado, ele teve outra percepção. O momento que em que ele mais aprenderia ainda estava a caminho. “Hayley (Williams) e eu estávamos falando sobre isso outro dia. É muito estranho o que você aprende escrevendo músicas. Você vai achar que tem o conceito, e aí uma vez que ele é lançado e tem sua própria vida, e as pessoas estão refletindo sobre e falando sobre, você fica tipo, ‘Estranho. Eu expus mais sobre mim do que eu achava.’ Você pensa, ‘Ah, isso é um tema universal’ – mas é muito pessoal”.

Entre as nove faixas do álbum, ele não se segura. Qualquer que tenha sido o ritmo da mudança de marcha, há níveis evidentes de intenção, cristalizados por elementos como um retrocesso se misturando com a música, sem dúvidas, mais insinuante, “Sunday Driving”, um saxofone fino em “1”, os riffs envolventes de piano que temperam o projeto todo, e o uso poderoso de Farro da percussão. E ainda uma outra camada pode ser ouvida nos momentos maravilhosamente imperfeitos do álbum. “Eu deixei [no álbum] alguns takes bem desconfortáveis nos quais eu não alcanço a nota, mas alcanço o coração”, Farro conta. “É difícil tomar essas decisões quando você está fazendo tudo sozinho. É onde um produtor chega, tipo, “Ah, confia em mim, isso é vulnerável”. Mas eu tive só que seguir dessa forma, e me sinto orgulhoso por isso”. Isso pode ser ouvido nos fugazes segundos que escapam do tom na emocionante preocupação de “My My” e “I Need You” – a primeira música em que ele chorou cantando, Farro conta. E aquela primeira lágrima é o que você ouve. É um álbum incrivelmente afetuoso, segurado por uma mistura de sons sutis perfeitamente adequados que contam histórias desconfortáveis, de coração partido, luto, e ponderação melancólica do passar do tempo.

“Eu nunca me senti tão presente comigo mesmo enquanto pessoa. E eu acho que isso vem junto”, Farro explica, quando pedi que falasse mais sobre os níveis de honestidade em Operator. Por que agora? Como ele chegou lá? Ele leva um tempo até terminar a resposta. “Eu acho que tentei por muito tempo me encaixar. Talvez seja meu lado geminiano ou o fato de ser o irmão do meio, mas muito da minha personalidade é tipo, ‘eu quero ser aceito’. Então você acaba virando um camaleão, sendo super adaptável, e querendo muito uma aprovação. Eu tive um amigo que me disse muito tempo atrás, ‘Se você age como todo mundo, ninguém vai saber quem você é. Você tem muito a oferecer, e você tem muito a mostrar. Só foque em ser você mesmo.’ Eu senti que realmente comecei a fazer isso quando fiz 30 anos – e é engraçado que eu tenha 35 agora, mas eu sinto como se tivesse 5”.

“Esse álbum é a primeira vez que eu me sinto eu mesmo”, ele continua. Eu sei que soa estranho porque eu fiz muita música, mas é a primeira vez que eu ouço e não penso ‘Ah, eu odeio minha voz. Por que a gente usou violão nessa parte?’ Tem muita confiança. Eu confiei no Chancey. Nós trabalhamos tão bem juntos. E eu estava num lugar em que eu estava tomando decisões boas e calmas, e eu me priorizei, coisa que eu não costumava fazer. Eu só ia passando pelas coisas, ou beijaria o chão que qualquer pessoa com quem eu trabalho passasse. Pras minhas coisas, eu era tipo ‘Bom, acho que está bom’. Por que eu me bajularia? Eu tenho que bajular os outros”.

Apesar de alguns shows mais íntimos de lançamento do Operator em Nova Iorque, Nashville e mais um que está por vir, em Los Angeles, Farro não consegue dizer se haverá uma turnê – mas ele espera muito que sim. “Resumindo, eu não queria de começo. Mas aí o álbum saiu e eu toquei, e eu fiquei tipo, ‘Parece que a música está implorando… As pessoas estão acostumadas com o halfnoise junto comigo. Foi bem reservado, e foi bem vulnerável e maduro. Eu não senti que eu tinha que ser divertido ou maluco ou entreter de alguma forma. Eu podia só fechar os olhos e tocar. Como um artista, eu me senti realmente conectado, e tem muito a ser dito sobre isso”.

Tradução: Munique Fonseca (Equipe Paramore Brasil)

Paramore Brasil
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