A Rolling Stone fez uma review para o mais recente álbum solo de Hayley Williams, Ego Death at a Bachelorette Party, atribuindo a ele uma crítica de 4.5 estrelas e sendo entendido como um ponto de virada na carreira da vocalista, que pela primeira vez detém total controle criativo de sua obra.
Confira abaixo a tradução completa da review de Maya Georgi, correspondente da Rolling Stone:
Hayley Williams sempre foi ousada — desde os cabelos tingidos em cores vibrantes até sua atitude destemida como vocalista do Paramore. Quando se trata de música, a cantora é igualmente destemida. Ela canta com a alma e solta letras brutalmente honestas ao longo da discografia da banda e também em seus álbuns solo, Petals for Armor (2020) e Flowers for Vases/Descansos (2021). Mas nunca Williams soou tão corajosa quanto em seu terceiro álbum, Ego Death at a Bachelorette Party. “Serei a maior estrela desse maldito karaokê”, ela declara na faixa-título melancólica. O refrão da música repete um verso várias vezes (“Daqui só dá para subir”) enquanto Williams abandona a ambição de alcançar a lua e se contenta com uma versão mais modesta da fama. É irônico que uma canção sobre uma morte literal do ego seja o destaque do trabalho solo mais forte de Williams até agora. Em Ego Death at a Bachelorette Party, ela vai muito além das estrelas — e sabe disso.
“Ego Death at a Bachelorette Party” e outras 16 faixas foram lançadas de surpresa no início de agosto, depois que a cantora disponibilizou a coletânea de músicas em seu site por meio de um player retrô. Apesar de ter duração suficiente para um LP completo, a coletânea não foi divulgada como um álbum. (Mesmo que claramente fosse). Mas agora, depois que Williams deu a Ego Death um nome longo e adequado às suas raízes emo, além de uma tracklist oficial, o projeto finalmente parece completo.
A tracklist foi uma peça fundamental desse quebra-cabeça. Assim que Williams disponibilizou os 17 singles nas plataformas de streaming poucos dias depois do player no site, os fãs imediatamente começaram a criar suas próprias tracklists em forma de playlists. Um Hayleyhead empolgado chegou a compilar todas as tracklists feitas por fãs em um site. Assim como o web player, a experiência parecia retirada diretamente do início dos anos 2000, dos downloads no Limewire e do trabalho minucioso de montar mixtapes em CDs e fitas cassete. Williams disse que queria transferir essa responsabilidade pesada para os fãs e se inspirar na forma como eles receberiam a música. Mas basta ouvir Ego Death uma vez para perceber que esse lançamento não convencional foi planejado. Cada letra sincera e cada transição entre músicas revelam como Williams lutou para sair de um período de grandes perdas e luto, a fim de descobrir uma nova versão de si mesma.
Williams não apenas definiu uma tracklist e deu um título ao álbum, como também compartilhou uma nova música, “Parachute.” É uma faixa caótica, carregada de arrependimento, que revela seus golpes mais fortes no segundo verso. “Você estava no meu casamento… podia ter me dito para não fazer isso”, ela grita. Esse tipo de trauma romântico é um tema recorrente ao longo do disco. Sua interpretação vocal crua é cheia de dor; Williams força a voz até que cada palavra se transforme em um grito. O lamento que ela liberou em “All I Wanted” do Paramore parece pequeno em comparação.
Há várias outras melodias sofridas em Ego Death, da inspirada em Lost in Translation “Dream Girl in Shibuya” à “Disappearing Man”, com ecos de Weezer. Mas é “Parachute” que melhor resume a dimensão da desilusão amorosa que define grande parte do álbum, especialmente por encerrar o LP. Ela vem logo após “I Won’t Quit on You”, um momento terno em que Williams promete não desistir do relacionamento. Em “Parachute”, porém, essa esperança se perde. Ainda assim, com faixas como “Whim” e “Love Me Different”, a cantora mostra que não tem medo de abrir as grades de metal do seu coração coberto de piche e expor todo o amor sem limites que existe ali.
Ao longo do álbum, surgem pistas semelhantes de um otimismo desejado. O sol atravessa as persianas e Williams anseia desesperadamente por sentir seu calor mais uma vez enquanto enfrenta sua perda. A própria capa é um exemplo perfeito dessa dicotomia: uma imagem em close em preto e branco de Williams, com um quadrado amarelo em volta de seu rosto, ecoando a estética dos 17 singles. Mesmo em algumas das faixas mais melancólicas, como a meditativa “Glum” ou a ode antidepressiva “Mirtazapine”, letras como “No nascer do seu raio de sol, nunca me senti tão abatida” contrastam com batidas vibrantes e explosões de guitarras poderosas.
Com 17 faixas, Ego Death pode até parecer exagerado. Mas este álbum marca a primeira vez que Williams é dona de sua obra por completo, e quem poderia culpá-la por querer aproveitar isso ao máximo? (Em 2024, chegou ao fim o contrato polêmico de mais de uma década da artista com a Atlantic). Essa nova liberdade é uma revelação para Williams, que dispara contra os “filhos da puta idiotas que eu deixei ricos” na faixa com toque trip-hop “Ice in My OJ.” Mesmo com a tracklist extensa, cada música soa cheia de propósito, um reflexo próprio do universo sonoro único da artista. Williams busca em todas as suas influências e espalha amostras delas pelas faixas de Ego Death. Da banda francesa de alt-rock Phoenix em “Love Me Different” ao humor debochado da Bloodhound Gang pós-Weezer no refrão de “Discovery Channel”, passando até por uma referência a “Waterfalls” do TLC na letra da faixa-título, o álbum é um caleidoscópio do gosto musical que Williams cultivou ao longo dos anos.
Ego Death também é notavelmente mais percussivo e mais alto do que o restante da obra solo da cantora. O produtor Daniel James, que já havia trabalhado em Flowers for Vases, retornou para o terceiro LP de Williams. Com a ajuda dos músicos de turnê do Paramore, Brian Robert Jones e Joey Howard, além do produtor de Lorde, Jim-E Stack, que assina “True Believer”, cada faixa ganha impulso próprio, seja mergulhando no synth-pop ou no alt-rock. Se foi a produção minimalista de Petals ou a dissonância silenciosa de Flowers. Aqui, a música está viva e pronta para ser uma pancada.
Se os dois primeiros LPs de Williams mostraram apenas um mergulho tímido em sua carreira solo, Ego Death é um salto completo. Nunca ela soou tão confiante ou tão livre. Há aqui um tipo de morte, aquela em que a artista deixa para trás fragmentos de sua antiga versão, mas, acima de tudo, o álbum é como um batismo. Williams emerge das profundezas de sua criação concentrada pronta para uma nova vida, em que as possibilidades são infinitas.
Paramore Brasil
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