Hayley publicou hoje, em seu Substack, uma reflexão pessoal sobre seu novo projeto, Ego Death At A Bachelorette Party. O texto foi escrito na casa de Brian O’Connor, que recentemente vendeu sua fazenda para se mudar para Nova York, onde se dedicará à marca Good Dye Young.

No texto, Hayley fala sobre sentimentos recentes, utiliza a psicologia junguiana para falar sobre a questão do “ego” no projeto, e reflete sobre a sensação de lançar um álbum – que ela chama de “exorcismo” – sobre suas experiências pessoais.

Confira a tradução:

saindo de casa

são 6:30 da manhã e estou sentada na varanda da casa dos meus amigos, a uma hora de distância da cidade, vendo o sol nascer. costumavam haver 19 cavalos correndo pelo pasto que está à minha frente, mas todos eles voltaram para suas casas originais ou foram vendidos para outras pessoas que amam cavalos. o campo fica muito quieto sem eles, mas não deixa de ser bonito. um galo está cantando na fazenda do outro lado e os gatos do celeiro acabam de passar correndo, perseguindo uns aos outros. estou surpresa que meu cachorro não foi atrás, mas ele parece estar com tanto sono quanto eu. em breve, meus amigos não vão mais morar aqui, e eles vão para o norte. vou sentir saudades daqui. talvez não tanto quanto meus amigos, mas vou sentir. de sentar do lado de fora vendo a cor do céu mudar o dia todo, ouvindo música (as novas do Blood Orange são brilhantes), e trabalhando da confortável namoradeira da varanda. estar em qualquer outro lugar no momento parece ser um tipo diferente de “estar do lado de fora”.

é 75% brincadeira quando digo isso, mas fico ~devastada~ em notar que, quanto mais eu me sinto “do lado de fora”, menos eu gosto de mim. não é surpresa, neste ponto. é a boca do fogão. é o diabo que eu já conheço! e também não é tão sério assim. só estou fazendo um balanço, em tempo real, do que realmente é coisa demais e do que só parece assustador por ser novo. fazer música é uma coisa. apresentá-la é outra bem diferente.

existe uma despersonalização inevitável que acontece quando algo que veio de você se torna domínio público. e aprendi isso jovem: a natureza da maldição de viver de música. a parte promocional nunca foi fácil e não ficou mais fácil ao longo dos anos. mas eu passei a dizer sim para mais oportunidades de promover a minha música do que eu achava que diria. estou ciente de que não preciso dizer sim para nada. mas pode ser bom… e até divertido. pode ser relevante ao trabalho… e até produtivo. talvez eu esteja promovendo meu material “solo”, mas não é como se eu tivesse trabalhado em um vácuo. ainda foi um projeto em grupo. pude apoiar meus amigos com ele. é como se ele fosse sua própria banda, de certa forma. interessante.

tem um vídeo que salvei no meu celular no qual uma mulher descreve uma epifania que ela teve ao se desligar de uma identidade que estava viciada em sofrer. de uma forma junguiana. exatamente no que estou interessada no momento, especialmente no que diz respeito a quanto do meu ego e da minha identidade estão ligados a uma banda e a uma profissão que ocuparam quase todo o meu espaço mental e emocional desde os 13 anos. o algoritmo sabe. ele a mandou pra mim como um anjo junguiano.

fico lembrando de quando o After Laughter, o quinto álbum da banda, saiu e o consenso geral era de que eram “músicas de depressão animadas”. é claro, eu ainda não estava diagnosticada, e eu apreciava a percepção, considerando tudo o que estava acontecendo e que eu sabia que ninguém realmente sabia. uma coisa similar está acontecendo agora. eu só li algumas reviews do EDAABP (o que não é um incentivo a ler suas próprias reviews, você vai gostar mais do seu trabalho se você não ler), mas uma delas mencionou que uma versão minha está morrendo. pareceu dramático dentro do contexto de uma review, mas eu acredito nisso, o que provavelmente torna isso verdade. o que torna isso engraçado, no entanto, é que eu devo ter realmente acreditado que tinha superado essas fases de autodestruição. eu me ferrei e esqueci que a vida é assim. toda uma desconstrução — cristianismo. família de origem. relações tóxicas. ego — e a renovação — novos limites. melhorias. o que faz com que você se sinta “em casa” — repetidas vezes, e aposto que, antes mesmo de tudo parecer ter terminado, já teremos ido embora.

as lições não chegariam ao fim aos 36 [anos de idade], cavalgando até o pôr do sol ou vivendo como uma tradwife. eu deveria saber. e, de toda forma, eu tenho um caso podre de desenvolvimento travado. parado nos 14, 16, 18 anos. não faz sentido pra muita coisa? parece que agora estou resolvendo tudo isso na frente de todo mundo. ai, credo. as boas notícias são que aprendi a ver melhor os padrões, graças à escrita. graças a conseguir ver o que eu não conseguia ver antes. sobre mim. consigo ver onde eu não pude me ajudar antes. onde eu não me sentia capaz ou valiosa, fora de certos contextos.

essas novas músicas são tristes. qual a novidade? a maior parte das minhas músicas é. onde mais você despeja esses sentimentos, se não em um lugar onde eles possam ser acolhidos? meio que cativos. mas músicas são belas gaiolas para sentimentos selvagens. é como uma reabilitação, na verdade. e elas crescem. estarei cantando essas músicas daqui a um ano os sentimentos já terão se transformado um pouco. sabem o que quero dizer?

suponho que sempre vou escrever sobre minha própria vida, mas existe, definitivamente, uma sensação de que esse último projeto foi um exorcismo ou um último suspiro. sinto que todas as merdas que venho ruminando desde a adolescência até meus 26 anos vieram à tona e para fora, como um projétil. e graças a deus, porque não faz bem a ninguém ficar pulando por cima ou correndo em círculos ao redor do buraco no chão, quando você poderia simplesmente consertá-lo. é bom quando as dores do crescimento são frutíferas. é quando você não o faz que você precisa se perguntar o que pode ter perdido.

então, ainda tenho um pouco mais de merdas para promover. ainda quero fazer alguns shows com esse álbum, então… estar do lado de fora não me incomoda. vou ficar me imaginando aqui, nessa varanda, olhando para os infinitos tons de verde, ou no riacho, com os pés na água gelada. respondendo à pessoa que esteve na sessão de autógrafos da Rough Trade: sim, estou bem. muitas coisas são verdade ao mesmo tempo, como sempre. mas eu, na verdade, estou bem. essa é a coisa mais doida.

obrigada por lerem. vou manter os comentários trancados por um tempo, até que sejamos só nós de novo. o resto vai se entediar daqui um tempo, só precisamos esperar que eles cansem.*

Tradução: Larissa Stocco, da equipe Paramore Brasil. 

*Hayley precisou trancar os comentários da rede social após receber mensagens desrespeitosas de “fãs” e curiosos.

Paramore Brasil
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