Hayley Williams fala sobre medo, liberdade e pertencimento em uma das entrevistas mais pessoais de sua carreira para a Paste Magazine, revelando os bastidores emocionais de Ego Death At A Bachelorette Party.

Confira a tradução completa abaixo:
Texto por Matt Mitchell
Imagens originais por Zachary Gray

“Estou prestes a entrevistar Hayley Williams, mas preciso mudar de assunto. Dois dias atrás, Steph Curry fez 49 pontos contra o San Antonio Spurs, igualando o recorde da NBA de Michael Jordan de jogos com 40 pontos após os 30 anos — agora com 44. Curvado sobre o microfone da coletiva pós-jogo, um repórter pediu que Curry usasse uma referência para explicar sua atuação. O armador fez uma pausa, esfregando as mãos pela cabeça inteira. “Eu fui a Hayley Williams do Paramore hoje à noite”, declarou, antes de sair.

Não é a primeira vez que Curry é associado a Williams ou à banda dela. Em 2023, ele subiu ao palco do Chase Center, em San Francisco, para cantar “Misery Business” com eles. “Ele entende de bola — literalmente”, Williams se derrete, falando de sua casa em Nashville. O diagrama de Venn entre jogadores da NBA e fãs do Paramore significa muito para ela, porque o basquete foi um de seus primeiros amores. O avô dela costumava fazê-la arremessar lances livres até acertar dez seguidos. Se errasse um, tinha que começar tudo de novo. Antes do divórcio dos pais tirá-la do sudeste do Mississippi, ela entrou para o time feminino da escola. “Eu era boa, eu amava basquete”, lembra Williams. “O pai da minha mãe jogava e era incrível. Ele pretendia ir para a faculdade por causa disso, mas amava fotografia, então acabou seguindo isso profissionalmente.” Faz um tempo que ela não acompanha a liga de forma constante, mas tem grandes sonhos: “Eu sonho em sentar na beira da quadra um dia. Não me importa o time. Só me deixem sentar na quadra.”

Uso meu tempo com Williams para investigar um velho rumor sobre ela. Será que o veterano da NBA Rodney Hood foi mesmo seu vizinho em Meridian no fim dos anos 90? Ela já não fala com muita gente da cidade — apenas alguns primos ainda moram lá — então desvendar esse mistério tem sido impossível. Ela confirma, no entanto, que naquela época jogava basquete com alguns garotos negros da vizinhança, e um deles se chamava Rodney. “Me disseram que ele foi para a NBA e que morava em Collinsville, onde eu morava”, relembra. “Mas se o Rodney não morava em Collinsville, então com quem eu estava jogando basquete? De qualquer forma — eu amo o Rodney Hood, nem me importo. Vizinhos ou não.”

Hayley Williams, agora com 36 anos, é absurdamente cool. Mas isso a gente já sabia. Quando ela subiu aos palcos da Warped Tour em 2006, com cabelo vermelho-carmesim, moletons sem manga e Vans, dividindo o lineup com Against Me!, Thursday e Joan Jett, dava pra perceber que ela causaria um baita estrago. E você pode agradecer à Avril Lavigne por isso. Quando Let Go estourou em 2002, executivos das gravadoras começaram a revirar tudo em busca de uma repetição do sucesso. Um ano depois de “Complicated” virar platina, Hayley Williams estava escrevendo pop com compositores de Nashville quando Dave Steunebrink e Richard Williams a “descobriram”, assinando com a garota de 14 anos um contrato de produção de dois anos (numa época em que selos independentes ensinavam as majors a desenvolver artistas jovens). Por meio de advogados, eles conseguiram uma reunião com a Atlantic. Jason Flom a contratou imediatamente para um acordo de desenvolvimento que hoje virou um conto de advertência para músicos mais jovens. O plano era que Hayley fosse a Avril 2.0. Mas ela não queria carreira solo. Não. Ela queria estar numa banda.

E Williams já tinha experiência em bandas naquela época. Bom, mais ou menos. No ensino médio, ela fez audição para cantar no The Factory, um grupo de funk de Franklin, cidade onde morava. Foi assim que conheceu Jeremy Davis, o primeiro baixista do Paramore. Mas, na verdade, ela se apaixonou por bandas porque elas pareciam famílias para ela. Filha de pais divorciados, encontrou segurança no mundo comunitário da música, como em bandas como Deftones ou as Shangri-Las. Suas fantasias sobre como seria tocar com outros músicos eram sempre pacíficas, seguras.
“Acho que é por isso que, quando enfrentamos grandes dramas no Paramore, isso me fez reviver os sentimentos de ser uma criança indo e voltando entre dois adultos jovens”, revela Williams. “Meus pais eram muito jovens quando me tiveram.” Ela vem trabalhando muitos desses sentimentos na terapia, mas a música se tornou um lugar capaz de acolhê-los. Um lugar ao qual ela pode voltar a qualquer momento.

“Mas, de alguma forma, mesmo quando você guarda coisas nesse espaço que não são exatamente só flores, isso ainda é reconfortante, porque o espaço comporta isso”, ela diz. “Quanto mais pessoas você encontra que se conectam com esse sentimento ou precisam desse espaço para ir, mais pessoas você tem ajudando a te sustentar. Não sei, eu idealizei uma banda da mesma forma que cresci assistindo a Os Goonies ou Hook — algo em que existe esse senso de família, mas que não é de sangue. Minha avó me dizia o tempo todo: ‘Famílias não precisam todas ser iguais’, o que eu acho que foi algo bem revolucionário para uma mulher branca mais velha do Sul me dizer no começo dos anos 90. Sou grata por isso, porque isso está enraizado em mim e é por isso que estou aqui.”

A família Paramore de Williams mudou ao longo dos anos. Josh Farro, Jeremy Davis, Jason Bynum, Hunter Lamb e John Hembree já saíram, mas Zac Farro e Taylor York permanecem. Em 2007, a banda alcançou o disco de platina, garantindo mais 15 anos de relevância graças ao sucesso de “Misery Business” e “That’s What You Get”. Vieram as indicações ao Grammy, até finalmente vencerem Melhor Canção de Rock com “Ain’t It Fun”, tornando-se, na minha opinião, o grupo pop-punk mais importante de sua geração. This Is Why vencer o Grammy de Melhor Álbum de Rock em 2024 foi um fechamento perfeito para o então aniversário de 20 anos da banda.

O CONTRATO DO PARAMORE COM A ATLANTIC expirou alguns meses antes, em dezembro de 2023, deixando Williams livre pela primeira vez desde a adolescência. A internet logo comemorou, celebrando ela e a banda por finalmente estarem livres de obrigações contratuais. O Paramore estava em turnê pela Austrália, encerrando uma longa sequência de shows após This Is Why, quando Williams voltou a escrever livremente, publicando textos em seu então Substack privado. “Glum” surgiu nessa época. “Eu deixei tudo ir”, ela me conta. “Foi quando pensei: ‘Caramba, estou realmente com medo’. Comecei a perceber isso.” Ela sempre odiou o fato de seu nome ser o único no contrato. Isso dividia a banda, mesmo quando tudo ia bem. As dores de crescimento de ser uma artista independente começaram, e ela permitiu que viessem.
“Muitas vezes, quando termino algo — digamos, quando estou me mudando de endereço — fico com raiva da casa para me ajudar a deixá-la ir”, diz. “A raiva sempre foi o motivador, mas também foi o amortecedor, para que eu não tivesse que sentir devastação, tristeza ou qualquer outra coisa. Eu sentia muita raiva no corpo, mas, enquanto escrevia, tive que admitir para mim mesma: ‘Isso é só medo. Vou entrar em queda livre a partir daqui. Isso vai ser algo bom.’”

Depois que o contrato acabou, Williams esperava fazer outro álbum do Paramore com York e Farro, porque ela “achava que a libertação ia explodir em algo”. Ela começou a ouvir The Bends, querendo mudar o som da banda. Pensou: “A gente pode fazer qualquer coisa! Podemos aproveitar essa oportunidade para chutar o balde, porque ninguém sabe o que esperar mesmo.” Mas seus companheiros de banda não estavam prontos para isso, e Williams ficou com muita coisa para expelir e nenhum lugar para colocar.
“É tão fácil pensar no que você é contra, mas pode ser mais difícil para as pessoas dizerem pelo que elas lutam”, ela gesticula. “Era essa sensação de chegar à beira de um penhasco e saber que, com ou sem paraquedas, eu precisava pular e saber que essa coisa ia sair de mim de um jeito ou de outro.”

A morte do ego acabou chegando — e então vieram as músicas.
“Perceber que a desconstrução da minha fé e a desconstrução da misoginia internalizada foram apenas ensaios para a desconstrução que eu teria que fazer da minha identidade, tão amarrada ao Paramore”, diz Williams. “Eu escuto essas músicas e acho que há muito mais pistas falsas do que eu entendia quando estava escrevendo. Muito disso é sobre o Paramore, e talvez agora eu consiga ver isso com mais clareza.” Ela consegue perceber como a turnê de This Is Why despertou muito medo nela. Tig Notaro e a série One Mississippi também ajudaram.
“Tem uma cena em que o padrasto dela diz algo como: ‘Bom, sua mãe morreu. Não estou mais legalmente obrigado a você’. E eu fiquei tipo: ‘Uau’”, ela lembra. “Isso, de uma forma muito estranha, se conecta com esse sentimento de: se o Paramore não é mais um artista contratado a isso, e não estamos mais presos ao trabalho que esperavam que fizéssemos, o que somos e quem sou eu se não estou nisso? O cesto e os ovos foram jogados pela janela. Dói. Todo esse tempo eu disse a todo mundo que o Paramore é uma banda. Mas, em algum lugar da minha psique, Paramore também sou eu. Eu sei que os caras também sentiram isso. É muito confuso desfazer isso, então tenho feito isso aos poucos, tentando entender quem eu sou agora.”

Williams diz que se sentiu desconectada do próprio corpo durante o ciclo do álbum This Is Why. Ela ficava doente com frequência, ainda mais confusa em relação aos significados das próprias músicas.
“Eu sabia sobre o que era ‘Big Man, Little Dignity’, e sabia que ‘Thick Skull’ tinha algo a ver com as acusações que foram lançadas contra mim ao longo de todo o drama da existência do Paramore”, ela diz. “‘Figure 8’? Meio que a mesma coisa, mas mais direcionada à indústria da qual fazemos parte. Eu tinha ideias vagas, mas não conseguia entender por que me sentia tão desconectada.” A resposta começou a se revelar quando ela lançou Ego Death At A Bachelorette Party, o maior triunfo pop do ano.
“Eu volto e escuto [This Is Why] e penso: ‘Ah, agora isso faz sentido’. Acho que é porque eu estava com tanto medo. Eu estava em um relacionamento que eu estava tentando proteger com tanta força que não ia falar muito sobre isso num álbum do Paramore. Não sei se eu realmente sabia sobre o que queria falar nesse disco, mas eu não consegui evitar falar de coisas. Quando essa torneira abriu, comecei a descobrir todo tipo de coisa que começou a voar na minha direção — coisas que eu achava que já tinha digerido e que por isso não sentia mais. Mas estava tudo ali.”

“Ice In My OJ” começou como uma piada. Uma grande parte de Ego Death At A Bachelorette Party começou como piada. É algo em que Williams está trabalhando, porque ela odeia o quanto é “boazinha demais” e gostaria de “destruir essa porra de gentileza sulista”. Ao escrever esse disco, Williams lamentou desconstruções de si mesma, términos que nunca se resolveram totalmente, o fim de contratos e duas décadas de exaustão em turnês. Não havia espaço para agradar ninguém.
“Quando você está de luto, acho que existe uma versão da gente que, nesse momento, é a mais verdadeira”, ela admite. “Não temos nada a esconder, e não há utilidade ou energia para isso.” Chapada com James e a esposa dele, Williams mostrou a eles uma música cristã que foi contratada para cantar quando criança.
“Estávamos rindo disso e o Dan ficou tipo: ‘A gente precisa samplear isso. É engraçado demais. Nunca ouvi isso antes, e é louco que seus fãs saibam disso, mas que não seja conhecimento comum’”, ela explica. “Na noite em que fizemos a demo de ‘Ice In My OJ’, eu estava fora de mim. Só gritando no microfone.” Aquela era a Hayley de 14 anos dizendo toda a merda que ela estava tentando dizer em “Conspiracy”, a primeira música do Paramore.
“É essa sensação de alguém mais velho, de terno, tirando meu poder, e eu sou jovem demais para fazer qualquer coisa a respeito, então estou gritando com eles. Eu estou numa banda, mas eles estão levando minha vida embora de um jeito que eu nem tenho idade suficiente para entender. Foi bom pra mim, fosse lá o que fosse.”

Williams e Steph Marziano coescreveram “Parachute”. Elas já haviam trabalhado juntos no álbum solo de estreia de Williams, Petals for Armor, e antes disso em We Used to Bloom, de Denai Moore.
“O sentimento nas coisas que ela me manda é tão imediato”, Williams se anima. “Eu soube imediatamente, quando ouvi o piano, que ia ser triste, mas que também ia soar esperançoso e edificante de alguma forma — que ia ser incrível ao vivo, mesmo eu pensando na época: ‘Provavelmente não vou sair em turnê, mas isso seria foda num festival’.” Ela criou os versos de “Parachute” rapidamente, mas ainda não sabe como falar sobre eles — sobre tudo o que passou no último ano, na verdade. Isso não impediu os fãs de teorizarem online, acreditando que “Parachute” marca o fim do relacionamento de Williams com York. Mas é mais complicado do que isso.
“É difícil falar sobre qualquer coisa na vida que, para mim, está presente e ainda acontece no meu corpo, porque parece que estou falando das coisas cedo demais”, ela diz. “Mas é aí que a composição pode ser profética e te levar para um espaço liminar que existe onde você não precisa carregar isso.”

PERTO DO FIM da passagem do Paramore como banda de abertura da Eras Tour, de Taylor Swift, Williams percebeu que a popularidade crescente da banda estava se tornando um jogo perigoso para ela, tanto mental quanto fisicamente.
“Eu lembro de sentir algo como: ‘Estou me apresentando. Estou me divertindo. Estou vivendo essa experiência maluca, mas eu preciso desesperadamente voltar para o que existe por baixo disso, porque não estou conectada comigo mesma’”, ela diz. “Quando eu deixei isso acontecer, foi tudo o que eu consegui fazer.”
Ela relembra o capítulo “Barba Azul”, do livro Mulheres que Correm com os Lobos, de Clarissa Pinkola Estés:
“Comecei a ler há sete anos, e o que tirei disso foi que, uma vez que você vê o dano ou a ferida, ela começa a sangrar e você não consegue parar. Precisa sangrar até o fim. Você precisa testemunhar isso, e foi isso que eu fiz comigo mesma como uma pessoa mais velha, espero que mais sábia — mas também me sinto mais burra do que nunca. Eu me sinto completamente nova.”

Paste: Qual música de Ego Death At A Bachelorette Party exigiu mais coragem para ser encarada?

Williams: “Love Me Different” me deixou um pouco envergonhada. Mesmo aquele refrão sendo antigo, ele ficava quicando na minha cabeça. “Parachute” e “Good Ol’ Days” também trouxeram esse sentimento de vergonha. Quanto mais me afasto delas, mais conexões faço com meus sentimentos sobre como idealizei o Paramore — e isso foi difícil de entender.

A estratégia de lançamento de Petals for Armor foi escalonada: 15 músicas espalhadas por dois EPs e um álbum completo durante a pandemia. Algumas pessoas amaram o método, muitas odiaram a espera.
“Acho que a minha preferência era: ‘Vamos vomitar tudo de uma vez, do mesmo jeito que eu senti’”, Williams ri. Mas ela gostou da ideia de prolongar o lançamento de Ego Death At A Bachelorette Party, principalmente porque não havia planos iniciais de sair em turnê com o disco (desde o lançamento, ela anunciou uma turnê pelos EUA com Water From Your Eyes como banda de apoio).
“Eu pensei: ‘Bom, dá pra se divertir com isso. Vou cantar com amigos e pular de um lugar pro outro pra estender o lançamento, só pra me dar tempo de viajar um pouco, dar entrevistas e deixar o vinil ser prensado, porque isso demora’.”

Ego Death At A Bachelorette Party chegou em agosto sem nome, primeiro como um presente para apoiadores da empresa de produtos capilares de Williams, a Good Dye Young. Mas quando Williams se cansou do modelo atual de ciclo de álbuns, tentou bagunçar tudo ao subir as 17 músicas em um site de baixa qualidade e lançá-las nos serviços de streaming como singles individuais. Era uma coleção caótica de destaques de carreira, sem ordem definida: tributo depressivo (“Mirtazapine”), rejeições à indústria musical (“Blood Bros”), respiro sensual (“Zissou”), juramentos de sangue (“Brotherly Hate”), experimentos vocais (“Glum”) e triagens pop (“Whim”, “Love Me Different”).
“True Believer”, a música mais oportuna de Williams até hoje, confronta a gentrificação do Sul dos EUA e os arquétipos racistas da região. Do nada, ela reuniu um álbum duplo sem tropeçar na própria miscelânea. Assim como o outdoor de Steph Curry que apareceu na West Pico Boulevard, em Los Angeles, na semana passada — uma imagem do armador arremessando, alinhada com o raio orbital noturno da Lua por um astrofísico — Ego Death At A Bachelorette Party não é um truque de sorte, mas um espetáculo curado e lançado no tempo certo.

Williams está no processo de apagar todas as redes sociais do celular, incluindo contas alternativas. O plano é ficar apenas no Substack, mas o vai-e-vem entre ela e os fãs está se tornando um “divórcio doloroso”, como ela chama. Ainda assim, todo grande espetáculo precisa de seus cúmplices. Meses atrás, ela pediu para que os fãs criassem suas próprias tracklists de Ego Death At A Bachelorette Party. Uma pessoa chegou a criar um site que catalogava todas as playlists enviadas por fãs ao redor do mundo, que Williams usou como referência para a ordem das músicas no álbum. Ela sabia que “Ice In My OJ” seria a faixa de abertura e “Showbiz” a de encerramento, mas foi necessário um esforço coletivo para fechar o que vinha no meio.
“É difícil inovar em qualquer coisa neste ponto. Eu amei o fato de colocar música de graça num site parecer uma conversa contínua. Sendo alguém que provavelmente supervaloriza o aspecto comunitário de tudo, foi muito legal ver as pessoas se conectando umas com as outras na internet da forma que a gente costumava fazer.”

Mas a equipe dela queria segurar “Parachute” e “Good Ol’ Days” para depois do lançamento inicial do LP no streaming.
“Eu tenho medo dessas músicas, porque quando você coloca um sentimento no mundo — mesmo que não seja numa música — ele passa a existir e as pessoas podem transformá-lo no que quiserem”, ela admite. “Mas, por termos esperado com essas duas músicas, isso me deu muito mais no que pensar.” Ela teve dores de estômago por dias até “Parachute” ser lançada. Não conseguiu comer na noite anterior à chegada de “Good Ol’ Days” ao streaming.
“Infelizmente pra mim”, ela suspira, “aprender minhas maiores lições vem do sofrimento, e eu faço isso comigo mesma. Talvez eu seja masoquista.” Mas esse sofrimento permitiu que ela aprendesse lições desconfortáveis.
“O refrão de ‘Good Ol’ Days’, quando eu ouço, eu romantizei uma versão de mim mesma que existiu depois do meu divórcio, num espaço muito livre, no fim dos meus vinte anos — tentando me reconectar com o mundo depois de estar num relacionamento que foi ruim pra mim. Acho que eu cultuei essa versão de mim. Achei que ela sabia tudo. Ela era mais bonita do que eu jamais fui na vida. Era mais livre. Era mais saudável. Meu corpo, meu mundo interno, eram mais saudáveis.”

Williams, faminta e estressada, percebeu que a Hayley da era After Laughter na verdade não era saudável coisa nenhuma. O casamento dela tinha desmoronado, mas ela jurava que estava tomando decisões melhores para si mesma.
“Eu ainda não estava, na verdade”, ela admite. “Eu me pergunto: será que vamos ser sempre assim? Será que a gente sempre olha dois, cinco anos pra trás e pensa: ‘Meu Deus, que idiota’? Não sei. Eu realmente espero que isso fique um pouco mais pé no chão à medida que eu envelheço. Mas fico feliz que tenhamos guardado essas músicas. Tenho muito orgulho delas.”

E há algo a ser dito sobre a versão de Hayley Williams em Ego Death At A Bachelorette Party em comparação com a versão de Hayley Williams ao longo de 20 anos de álbuns do Paramore. Este é um bom documento de quem ela é enquanto está cercada pelas pessoas com quem se sente mais confortável. Suas letras agora são mais viscerais (“Eu vou te amar para sempre se isso não piorar as coisas”), de um jeito não tão diferente das letras de After Laughter (“Ainda há um fio que liga seu corpo ao meu”). Acho que passamos a conhecê-la muito melhor este ano.

Parte dessa honestidade vem do fato de ela estar lidando com a cena musical na qual entrou em meados dos anos 2000 — um período do pós-punk em que bandas e fandoms eram incrivelmente cruéis com as mulheres jovens ao seu redor (“jogaram camisinhas em mim [na Warped Tour]”, ela relembrou em 2020). Mas as pessoas boas se destacavam, diz Williams.
“Como éramos muito mais jovens do que a maioria dos outros artistas, a gente não convivia muito com muita gente. Mas foi bom se conectar com pessoas que não nos descartaram imediatamente por causa da nossa idade ou porque crescemos no Sul e na igreja.” Bandas como Underoath, The Chariot, The Starting Line e mewithoutYou entenderam isso e abriram espaço para o Paramore.
“Não havia garotas da minha idade por perto”, ela lembra. “Hoje, olhando em retrospecto, sei o quanto isso foi difícil pra mim e o quanto provavelmente me machucou. É muito parecido com a forma como me sinto sobre ter crescido na igreja. Ir ao grupo de jovens me deu um senso de comunidade numa cidade onde — não existiam shows para todas as idades logo ali na esquina, onde minha mãe pudesse simplesmente me deixar. Esses shows eram no centro. Tenho uma relação de amor e ódio com a forma como cresci, e é mais ódio do que amor, mas também preciso reconhecer as boas bases que isso me deu.”

Paste: Gosto de imaginar que as pessoas da nossa idade ficam felizes por termos crescido juntos.

Williams: Eu gosto de imaginar isso também, porque isso me faz sentir menos sozinha. Me faz sentir que existe uma família escolhida que eu ainda nem conheço, espalhada por aí.

A maioria das pessoas que Hayley Williams conhece são estranhas para ela. Mas todas estão aqui, e a música as conecta. A música sempre nos conectou. Ela tem uma frase que repete o tempo todo: “A vida é longa”. Em nenhum lugar isso é mais evidente do que em Ego Death At A Bachelorette Party — um sinal do futuro que existe além do Paramore para Williams quando ela precisar, mesmo que o Paramore não vá a lugar nenhum tão cedo.
Vinte anos atrás, ela e sua banda eram os músicos mais jovens em todas as turnês das quais participavam. Mas ficou claro para ela desde cedo que jovens da mesma idade iam vê-los tocar.
“Eu lembro de como isso era, e tem sido muito incrível crescer junto com muitos dos nossos fãs de longa data”, diz Williams. “Eu vi alguns deles em um dos eventos EGO NITE que fizemos recentemente, e eu me emocionei. Todos nós parecemos mais velhos, e todos temos coisas muito sérias acontecendo em nossas vidas. Mas quando nos vemos, há todas essas atualizações. Realmente parece que você está crescendo junto. Eu valorizo muito isso.”

Quase toda pessoa que conheço tem alguma conexão com Hayley Williams. Talvez tenham conhecido o trabalho dela pela primeira vez na Eras Tour. Talvez fossem uma criança trans no armário nos anos 2000, assistindo-a desafiar a feminilidade antes mesmo de qualquer um de nós saber o que era um binário. Talvez fossem um atleta em uma cidade pequena e conservadora, com “Misery Business” em uma playlist. Talvez agora sejam fãs de TURNSTILE, Rico Nasty, Moses Sumney ou David Byrne. Rappers a amam, mães a adoram.
Ela é o Steph Curry do Golden State Warriors e, mesmo que “Ain’t It Fun” fosse sua única música, ainda assim seria a maior frontwoman do século XXI. Ela é uma artista que ninguém quer fazer gatekeep — porque ela derruba a cerca. Seja ajudando artistas a lutar por contratos de gravação melhores, desafiando Morgan Wallen a resolver as coisas no braço no Whole Foods, provocando sua antiga gravadora ao lançar seu álbum como “Post-Atlantic”, ou cantando “the South will not rise again ’til it’s paid for every sin” cercada por um conjunto de cordas negro e uma placa “Mississippi God Damn” no agora apolítico programa do Jimmy Fallon.
Ego Death At A Bachelorette Party confirma para o mundo o herói que Hayley Williams sempre foi.

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