Hayley Williams estampou a capa da prestigiada revista e também concedeu uma entrevista exclusiva e reveladora. Nesta conversa, a vocalista discute em profundidade as inspirações cruciais que deram origem à faixa solo “Ego Death at a Bachelorette Party.” Mais do que a análise da canção, a entrevista revela como a temática da música se tornou um reflexo e um ponto de inflexão em sua vida pessoal e jornada artística.

Confira o texto traduzido abaixo:

Foto: Revista Clash

“Tudo realmente começou quando vi a luz no fim do túnel do contrato com a gravadora”, ela explica. Depois veio a oferta para fazer uma turnê mundial com Taylor Swift. “Foi tipo: vamos fazer esses shows enormes, vamos fazer parte da história da música desse jeito, e tudo isso era muito positivo, mas eu sentia muita tensão no meu corpo. Tipo, quem sou eu? Eu estava percebendo que havia tantas coisas que acho que nunca me deixaram superar porque ficamos presos nesse sistema por tanto tempo.”

De volta a Nashville, Hayley percebeu que o que estava sentindo era tão pessoal, tão único para ela, que não poderia ser expresso de forma coletiva. “Fazer isso parecia como fechar um ciclo”, ela diz, “voltar ao começo do que me fez me apaixonar por música. Estou me forçando e me desafiando a seguir em frente e dizer coisas que nunca disse antes.”

 

Uma palavra que sempre volta à mente de Hayley é ‘desconforto’, em vez de fugir de problemas ou conversas difíceis, ela está se agarrando a eles. “Tenho certeza de que sempre criaria, mas sem o desconforto não sei se teria o mesmo fogo na bunda para fazer! Eu preciso ter essas palavras no papel diante de mim para realmente entender o que penso sobre algo.”

“Essa experiência inteira tem sido um exercício de carregar muitas verdades”, ela acrescenta. “É uma lição à qual continuo voltando, e em 2025 é como um martelo. É como um tijolo na cabeça, sabe, e esse álbum foi minha maneira de atravessar tudo isso.”

De certa forma, “Ego Death At A Bachelorette Party” reúne algumas das composições mais delicadas de Hayley Williams, mas também as mais confrontadoras. Ela está enfrentando suas próprias pré-concepções, permitindo que sua mente e espírito finalmente se movam livremente. Daniel James esteve ao seu lado naquele estúdio em Nashville, enquanto palavra após palavra, música após música, jorravam. Chamar isso de enchente não é exagero, em certo ponto, ela escreveu seis músicas em uma semana, e todas entraram no álbum. “É uma sensação tão empolgante”, ela insiste. “Usar palavras como forma de terapia e como meio de expressão necessária. Foi uma semana que nunca vou esquecer. Nunca experimentei nada assim como artista.”

“Nas nossas sessões anteriores, Daniel era basicamente um recipiente para capturar todas essas coisas que eu estava escrevendo na época”, ela lembra. “Com este projeto, ele foi muito mais ativo, alguém que não apenas capturava, mas também refletia.”

Hayley vinha escrevendo durante toda a The Eras Tour, pequenas anotações no celular, trechos de letras e observações enquanto o Paramore viajava pelo mundo. Buscando perspectiva em meio às notas, ela peneirou os destroços e encontrou a base deste novo álbum. É composição vinda de um espírito em limbo, passando de uma sensação de certeza para um espaço desconhecido. “Não sei se vou ficar em queda livre para sempre no resto da carreira. Não sei se vou entrar em outro sistema e depois me arrepender também.”

“Havia muita dor no meu corpo”, ela diz de forma direta. “Por alguma razão, sinto que fazer 35 anos é entrar em um vórtice, como esse espaço liminar. Sou muito grata por ter essa perspectiva, mas estou tendo que escolher a mim mesma de maneiras que, antes na minha vida, me fariam pensar: caramba, estou sendo egoísta? Eu sou a vilã? São todas essas questões existenciais sobre quem eu sou e o que realmente importa para mim.”

“Então agora, onde estou: fico tipo, caramba, para onde isso está indo? E eu preciso estar bem com esse sentimento”, ela diz. “Ainda estou muito no meio do que tudo isso significa na minha vida. Eu queria ter uma bola mágica que realmente me dissesse que porra é isso.”

Uma coisa que Hayley abraçou, porém, é a contínua diversificação da cultura alternativa. Pessoas negras sempre estiveram presentes nos shows do Paramore, mas os últimos 15 anos viram uma grande mudança na comunidade como um todo. Hayley assistiu ao primeiro show das punks feministas The Linda Lindas em Nashville e cita momentos como esse como experiências de verdadeira catarse. “Comecei a me sentir menos sozinha”, ela diz. “Música é comunidade. Música sempre foi meu modo de viajar pelo mundo, e muito do mundo, para mim, é sobre comunidade, sobre como juntamos recursos, como nos unimos e trabalhamos em conversas que importam, e como nos elevamos mutuamente.”

Participar dessas mudanças e ser inspirada por seus resultados é parte essencial de sua identidade atual. “Minha coisa favorita dos últimos 15 anos tem sido assistir a cultura alternativa se resetar e recarregar.”

Foto: Revista Clash

‘Ego Death At A Bachelorette Party’ é algo fragmentado. É um abraço à feminilidade negligenciada, é uma rejeição às normas da indústria musical; é uma série de vinhetas pessoais, mas também é político. Poucas horas após nossa conversa, Hayley Williams apresenta ‘True Believer’ no Tonight Show com Jimmy Fallon, sua voz mordendo cada linha da letra. Uma música que fala sobre Nashville, gentrificação, os defeitos inerentes ao orgulho sulista e o legado torturado de um passado racista, é uma conquista artística incrível.

Quando a CLASH menciona a música, ela faz questão de escolher bem as palavras. “Eu quis escrever sobre isso por tanto tempo, e nunca soube como. E você não força acontecer, acontece quando tem que acontecer.” “Olha, é incrível ter orgulho do Sul”, ela diz. “É uma região linda não só do país, mas do mundo. É tão rica em cultura e significado, mas estamos focando na coisa errada.”

Música enraizada em seu contexto, ‘True Believer’ não recua diante de verdades feias, não importa o quão desconfortáveis elas deixem as pessoas. É esse tipo de coragem artística, e de alianças contínuas, que torna Hayley Williams tão amada pelo público negro, que constitui uma parte fundamental da audiência do Paramore. “Sempre me senti muito grata de a nossa banda poder fazer parte dessa conversa. É tão importante que as pessoas se sintam bem-vindas à festa.”

“Sempre disse que todos são bem-vindos nos nossos shows. Mas eu não quero racistas por perto, e não quero pessoas sexistas por perto, e não quero pessoas ali que acham que pessoas trans são um fardo. Acho que essa é uma linha dura para mim agora. Espero que aconteça naturalmente que pessoas que carregam essas ideologias nocivas não se sintam bem-vindas, porque vão entrar pela porta e perceber que a galera está toda aqui, unida em torno de algo positivo.”

“Todos são bem-vindos se você acredita que todos devem ser bem-vindos… Se você não acredita nisso, você não é bem-vindo!”, ela sorri.

Surpreendentemente, a veia criativa de Hayley não acabou. Ela admite que ainda está trabalhando, incapaz de desligar esse fluxo de ideias. “Muitas vezes minha escrita transborda tão rápido que eu não sei o que ela significa por um ou dois anos”, ela insiste. “Quero dizer, ainda estou entendendo coisas do último álbum do Paramore.”

Uma coisa de que ela tem gostado é uma colaboração com David Byrne. Hayley é uma grande fã de Talking Heads, sua música favorita é ‘Making Flippy Floppy’, e ela está adorando conversar com um artista que celebra o ecletismo e a invenção.

“Eu amo tanto esse homem”, ela diz. “Tenho sido tão inspirada por ele. Ele realmente acolhe artistas mais jovens, e eu valorizo isso. Sinto que ele se tornou um amigo musical de verdade. Estou aprendendo. Estou na indústria há tanto tempo, mas ainda sinto que não sei porra nenhuma!”, ela continua, antes de cair na gargalhada. “É isso que artistas devem fazer uns pelos outros; acho que deveríamos extrair diferentes lados uns dos outros e dar coragem para tentarmos coisas novas e aparecer de novas maneiras.”

Paramore Brasil
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