Hayley divulgou hoje (1 de agosto), em seu website, um link para seu Substack, uma plataforma em formato de blog na qual a vocalista tem escrito artigos desde o mês de março. Na plataforma, Hayley busca retomar o contato com os fãs, assim como fazia antigamente no LiveJournal da banda – esse é, inclusive, o título de seu blog no Substack.

Em março, ela publicou um texto sobre sua vida nas turnês com o Paramore, escrito em 2023, quando a banda estava encerrando seu contrato com a Atlantic Records; confira a tradução abaixo:

só mais um

negociando com meu bebê adulto interior

rascunho original de 25 de novembro de 2023, de Sydney, Austrália

“só mais 4 shows.”
Poderia ser só mais 1 e meu corpo não saberia a diferença. O desconforto ensina, de fato. Mas quanto mais eu preciso aprender sobre coisas como fáscia, cortisol, terminações nervosas, bruxismo, a ciência da alimentação e regimes de suplementação? Eu não poderia aprender coisas mais simples, mais doces agora? Como fazer pão na minha própria cozinha, com bastante tempo para cometer erros e recomeçar. Ou comprar uma inscrição de algo – e não apenas para poupar 15 ou 20% e depois cancelar imediatamente. Gostaria de me sentir segura com minha guitarra novamente. Tirar a poeira dos pianos. Fazer coisas, sem pressa.
Já faz anos que eu pessoalmente deixei minhas próprias roupas na lavanderia, lavei o carro normalmente, ou pude visitar minha terapeuta pessoalmente por mais de 3 semanas na sequência. Não me sinto regulada, equilibrada ou estabilizada. E isso diz muito, considerando que, no momento, pelo menos 3 pessoas ao meu redor são pagas para me ajudarem a fazer coisas (nosso assistente de turnê acabou de sair do meu quarto de hotel depois de deixar uma mistura de ervas Chinesas que parecem ser a única cura para minha voz no momento). Mas não é o cuidado das pessoas que eu quero. Eu quero o cuidado que só eu posso me dar. É sobre limites e confiar em minha intuição e dizer “não” mesmo quando a cenoura balança diante de mim, cada vez mais brilhante.
Meu corpo protestou todas as viagens longe de casa nos últimos 2 anos de formas infinitas. Demorou todo esse tempo para perceber que essa infinidade de coisas estava entrelaçada o tempo todo. Sabe quando as pessoas dizem que não sentem que estão no banco de motorista das suas próprias vidas? Acho que sou uma delas, no momento. Não é que eu não sinta uma gratidão profunda ou que eu não tenha felicidades na vida. Eu só sei, no meu âmago, que eu não tenho feito muito para proteger meu próprio senso de segurança, saúde ou conectividade às coisas que importam para mim. Provavelmente por mais tempo do que percebi.
Incongruência, minha mãe ensina para seus alunos, é quando suas crenças ou ações não se alinham; Quando a pessoa que você acredita (ou deseja) ser não se reflete nas escolhas que está fazendo. Resumindo: as ações não combinam com as palavras. Poderíamos passar uma vida inteira idealizando uma vida e a pessoa que gostaríamos de nos tornar… mas essa vida não vai se materializar sozinha. Há passos e muitas vezes sacrifícios substanciais que vêm com o crescimento.

A vida que eu imagino é muito mais simples do que a que tenho desde que as turnês se tornaram meu principal trabalho, aos 16 anos de idade. Sim, fazer o que eu faço é incrível. Sim, eu vi coisas muito legais e conheci pessoas selvagens, do mundo todo. Há um valor imenso em sair do conforto da sua casa e explorar além da sua cultura. Conforme cresço, mais e mais espero poder fazer isso sem as dificuldades das agendas de turnê e sem as demandas físicas que essa indústria nos impõe. Idealizo uma vida em que faço decisões baseadas no que eu sei que vai servir à toda a minha vida e às pessoas que eu amo. Não apenas a pequena garota dentro dos meus ossos que deseja graciosamente por segurança e por uma comunidade – que encontrou (de vez em quando também graciosamente) em sua carreira, junto com uma família escolhida. Tenho a sensação de que, para seguir essa carreira de uma forma sustentável, preciso aprender novas formas de fazer isso.
É engraçado, tenho dívidas com todos os shows que já fizemos. Cada um deles me deu a liberdade para me tornar. Mas, se puder ser completamente honesta, sinto que os shows devem a mim, igualmente. É uma daquelas coisas “ou/e” novamente [referência ao poema escrito por Hayley que serviu como abertura para as turnês do Paramore]. O todo-poderoso Paramore dá e também tira. Essa vida me deu espaço para explorar, experimentar, conectar… e me deixou com o sistema nervoso de um filhote de animal enjaulado.
No início deste ano, eu fui perseguida para dentro de um hotel por 2 caras do eBay enquanto andava do ônibus da turnê para o quarto com meu cachorro. Sendo sincera, não sei se foi para proteger o meu cachorro ou para me proteger que eu soltei minhas feras nesses homens. Ali estava eu, nas minhas calças de moletom com os bolsos cheios de pastilhas de zinco, fazendo uma sutil caminhada-corrida apenas para passar com segurança pelas portas de um lugar que é meramente a substituição de uma casa. Eles correram atrás de mim enquanto eu e o Alf passávamos pelas portas de vidro. Quando eles nos alcançaram e começaram a puxar as maçanetas, eu virei para trás, com os olhos pretos, e eu soltei um som que eu só ouvi falar sobre quando li Mulheres Que Correm Com os Lobos. Acho que foi uma linguagem que eu não falo. Apenas feroz.
Eu sei que, para além desses shows, em algum lugar, de alguma forma, de algum jeito, eu preciso parar de negociar com meu corpo e com todas as partes dele. Minhas cordas vocais não são mais valiosas do que as vértebras do meu pescoço que não são mais valiosas do que meus níveis de cortisol e assim vai. É tudo um corpo só. Um sistema, sob uma liderança, que infelizmente, sou eu. (Essas vírgulas estão nos lugares certos? Com certeza não).
Está tudo bem admitir que quero alguns confortos básicos agora? Talvez eu queira alguns confortos que não são básicos — vamos chamá-los de pequenos luxos. Qualquer coisa que a versão mais amorosa minha possa pedir sem nenhuma qualificação. Trabalhei muito para poder dar ao meu corpo apenas um pouco do descanso e conforto que neguei a ele por tanto tempo.
Se eu me der essas coisas simples, meu corpo vai finalmente acreditar que me importo com ele?
Continuo pensando, “só mais 4 shows… é apenas uma semana de dias *corridos*, e depois você pode relaxar esse aperto de morte… você não é um animal em perigo… você não está indefesa. Apenas diga o que você precisa e dessa vez, eu prometo, eu vou ouvir.”

Tradução: Larissa Stocco (Equipe Paramore Brasil)

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