Hayley divulgou hoje (1 de agosto), em seu website, um link para seu Substack, uma plataforma em formato de blog na qual a vocalista tem escrito artigos desde o mês de março. Na plataforma, Hayley busca retomar o contato com os fãs, assim como fazia antigamente no LiveJournal da banda – esse é, inclusive, o título de seu blog no Substack.
Em março, ela publicou um texto sobre a saída do Paramore da Atlantic Records, escrito em 2023, quando a banda apresentou o último show previsto em contrato; confira a tradução abaixo:
contratos 360
quando o ciclo de um contrato se encerra
rascunho original: 21 de Novembro de 2023, de Brisbane, Austrália
Enquanto nos arrastamos até o fim (e realmente digo “nos arrastamos” – lentamente, dolorosamente), sinto a necessidade de me despir completamente. Acontece que, completar uma missão de 20 anos, iniciada por uma versão sua, ahem, de 15 anos, não é muito animador. É algo grosso… lamaçento… coberto por algo como cabelo. Parece impossível se desvencilhar ou repicar um pouco sem perder mais do que você esperava.
O luto me surpreendeu. Por um ano, precisei abrir espaço para todos os novos tipos de raiva ou explosões ou desencantos. Meu corpo se transformou em um novo ‘cu’. Não, de verdade, eu tenho um ‘segundo cu’ (como tenho adoravelmente chamado). Tudo começou com uma injeção de esteroide ruim em um dia excepcionalmente doloroso. Um buraco perfeito no lado esquerdo dos meus glúteos é uma das casualidades mais óbvias do Rock. Meu pescoço tem passado por tudo, exceto estar quebrado, meu sistema se revoltou… O que devo fazer para sair desse pântano?
Algumas indicações ao Grammy? Bom, com certeza. A questão é que, com ou sem vitórias, qualquer um que esteja do mesmo lado que a Fiona Apple no “This-World-Is-Bullshit” [Discurso do VMAs de 1997] sabe que prêmios não fazem quase nada para melhorar a qualidade de uma vida. Não digo isso partindo de um lugar ignorante ou arrogante. Tenho local de fala. No mesmo ano em que ganhamos nosso primeiro Grammy, eu deveria me casar. Em vez disso, descobri que meu parceiro de 9 anos estava me traindo com uma amiga nossa, o tempo todo. É claro. Eu meio que sabia dessa sacanagem. Mas. Dessa vez eu podia provar, então eu fiz o que qualquer mulher forte, independente, faria: adiei o casamento por alguns miseráveis meses, junto com meu sofrimento, e então me casei mesmo assim! Naquele mesmo ano, eu também perdi um amigo próximo… não para a morte, mas para o que só consigo descrever como arrogância e doença mental. A segunda coisa, algo que estou mais equipada para lidar hoje em dia. Eu não seria diagnosticada com TEPT e depressão até 3 anos mais tarde. Nosso primeiro Grammy nos deu muitos tweets de parabéns, algumas manchetes na indústria, e um troféu empoeirado que tem meu nome, mas que na verdade, não é meu. (Eles são emprestados, para que os vencedores não possam legalmente vendê-los).
Se eu puder ser totalmente honesta— e eu posso, porque esse é meu pequeno lugarzinho e, por enquanto, ninguém sabe sobre ele: estou cansada, ressentida, um pouco grata (hoje), mas também um pouco mais amedrontada. O contrato que assinei aos 15 anos com os olhos largos de esperança por poder apoiar o meu sonho E a minha realidade e a dos meus amigos vai acabar completamente. O medo não é de ficar sem esse sistema de apoio. Nós provavelmente teríamos cortado nossos laços há um tempo… é a ansiedade de tremer joelhos de ter muitas possibilidades na sua frente. É o não saber. Algumas pessoas se divertem com as possibilidades infinitas. Eu achava que eu seria assim. Agora não tenho muita certeza.
E se eu quiser descer dessa esteira? E se eu não quiser “expandir”, como a vidente com quem falei mais cedo mencionou? E se eu quiser expandir mas não quiser me matar para fazer isso? Ainda seria possível? Algo disso importa?
Algumas pessoas nos dizem que estamos no ponto alto de nossas carreiras, aqui e ali. É engraçado, sinto que ainda estamos na mesa do recreio. Presos dentro de casa, talvez? Eu não “sinto” mais sucesso. Claro, eu consigo ver os números e status, mas não sem ver por lentes disléxicas para números. Eu não poderia ligar menos para os números. Nunca liguei, nunca vou. Talvez seja por isso que nossa gravadora nunca me viu como uma boa mulher de negócios.
Deveria ser óbvio, embora eu saiba que já falei o suficiente: estou mais do que pronta para dissolver o contrato. Foi o primeiro acordo 360 da indústria da música e ele agora está completando seu ciclo, se encerrando. Vamos dissolver a companhia e todas as predefinições que vieram com ela. Vamos recomeçar em nossos próprios termos, como adultos. Vai ser algo que a eu de 15 anos – precoce, mas também muito ingênua – ficaria orgulhosa por saber que ajudou a preparar o caminho. Ela acreditou nesse momento, por ela e pelos amigos.
Nas últimas semanas, enquanto vou consumindo este corpo até o último fio de energia, vou tentar encontrar formas de me desprender energeticamente. Deixar que os vapores de toda a minha raiva passada e espanto se dissipem de mim. Será que eu posso, depois de tanto tempo, voltar a pertencer só a mim?
Alguém que mudou minha vida para melhor um dia me disse, “você precisa cortar as partes mortas para que possa crescer”. Acho que vou cortar fora essas pesadas (FIGURATIVAMENTE) tranças, carregá-las em um saquinho, e jogá-las em uma fogueira. Isso dá um novo significado à imagem de “cabelos de fogo” sempre associada ao meu nome. Quando dermos adeus e o último público estiver indo para casa, eu estarei correndo com tesouras, nervosa e sorridente, livre por fim. Estou pronta para que a nova vida possa crescer e quase não me importo com como vou ficar.
Tradução: Larissa Stocco (Equipe Paramore Brasil)
Paramore Brasil
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