Hayley Williams estampou a capa desse mês da AltPress como a artista do ano de 2025. Em comemoração, a revista lançou uma entrevista com nossa ruivinha favorita em versão escrita e em vídeo, ambas realizadas por Anna Zanes, editora-chefe da Alternative Press.

Uma hora depois da divulgação da entrevista, foi lançado também um pacote de colecionador de Hayley contendo uma zine de fotos, algumas polaroids, cartões postais, adesivos e um chaveiro. O pacote esgotou no mesmo dia. A AltPress esteve em contato com fãs conhecidos do fandom para solicitar artes para o pacote sem lhes oferecer compensação financeira. Quando os fãs questionaram a revista sobre isso, a colaboração foi cancelada. Os fãs reiteram que a equipe de Hayley provavelmente não está ciente sobre a posição da revista, e escreveram em conjunto um texto pedindo para que a AP passe a valorizar fãs e artistas. Leia o texto (em inglês) aqui.

Confira os itens do pacote:

 

Leia abaixo a entrevista traduzida na íntegra:

Sentada no chão, em algum lugar ensolarado do Tennessee, faço uma pergunta que já fiz a outros artistas antes, embora ela seja reservada para aqueles cujos corações estão presos na manga, mesmo quando partidos. “Você acha que uma grande obra de arte exige dor?”

Envolta em um suéter grosso e segurando uma caneca de chá — cultivado pela esposa de David Byrne —, minha amiga de cabelos amarelos faz uma pausa. “Não. Eu realmente não consigo acreditar nisso, porque aí eu sinto que vou continuar a me sabotar… Acho que uma grande obra de arte na verdade vem da disposição para ser ensinada, moldada, crescer e estar errada. Acho que muitas vezes, quando estamos errados ou realmente limitados em algo, somos forçados a inovar — e isso é criatividade. Então, não acho que precise ser dor.”

Conheci Hayley Williams há anos. Ela é forte, leal e sensível, tanto apesar do mundo que a criou quanto por causa dele, com toda sua criação inconsistente — jogando-a aos lobos e, em seguida, abraçando-a com força. Embora eu não a conheça desde o início, enquanto a vida aplica suas lições implacáveis, com cada música, show, post no Substack, Williams cresceu e se realizou — e parece que partes daquela jovem estão emergindo do bunker. Esta pessoa fervorosa, sábia, engraçada e cuidadosa está fazendo as pazes com seu passado enquanto processa o presente. Para mim, e provavelmente para você, estou fazendo essa jornada incômoda sozinha. Só posso me considerar sortuda por alguém como Williams ter fornecido exatamente a trilha sonora certa para eu cantar, chorar e balançar junto.

Hoje, estamos na sala de estar da casa de Williams, que foi esvaziada e está em reforma. Para Williams, parece que tudo tem significado — embora, ela admite, muitas vezes ela não perceba até depois do fato. Por mais camadas que nosso cenário possa ter hoje, a mais evidente é o desejo de se sentir segura e “confortável”, como ela descreve. Autocuidado. Amor-próprio, até. Ela trouxe sua própria chaleira, canecas, os sachês de chá especiais já mencionados e algo para usarmos enquanto bebemos: uma escrivaninha bordô, que sua mãe, Cristi, trouxe de uma viagem ao Japão quando Williams era jovem. A apenas cerca de trinta centímetros do chão, ela parece carregar um peso espiritual, energético, que superou em muito sua pequena estatura. Mais tarde, enquanto arrumamos nossas coisas, Williams menciona casualmente que muitas músicas do Paramore, agora certificadas como disco de ouro, foram escritas exatamente naquela mesa.

Tem sido um ano agitado para Williams, para dizer o mínimo. Ela cantou e dançou em palcos por todo o país com artistas que vão do Deftones à Rico Nasty, colaborou com artistas como Byrne, Turnstile, Jay Som e lançou um álbum completo, Ego Death at a Bachelorette Party, “no último minuto”. Tendo acabado de cumprir seu contrato com a Atlantic, após o lançamento de This Is Why do Paramore, e armada com uma carga de raiva, luto e dor — Williams teve que seguir em frente, usando o que tinha à mão. Colocando a caneta no papel, ao lado do produtor e amigo Daniel James, EDAABP nasceu. Foi um trabalho de triagem, medicinal e imediato no início — lançado como uma coleção de singles aparentemente desconexos. No entanto, com a recepção ansiosa dos fãs, que moldaram as músicas em um álbum próprio, ele seguiu um novo caminho. Um caminho trilhado não apenas por Williams e seus fãs, mas também por seu “huddle“: o grupo de amigos unidos — como Elise Joseph James, Zachary Gray, Brian O’Connor — que se reuniram em torno dela criativa e emocionalmente, durante um ano que trouxe imensa tragédia e imenso triunfo.

Alguns dias depois do nosso chá, acordei com uma mensagem de Williams. Ela vinha refletindo sobre minha pergunta favorita e precisava compartilhar um novo insight: “Eu tinha que te contar, mudei de ideia. Acho que você precisa de dor para fazer arte — a dor é a única promessa que temos em todo o mundo. E a arte é a transmutação dela. Fazer música é alegria e a resiliência que, para mim, nasce dela e então desafia a própria dor.” Ela continuou: “Estou apenas reassistindo Sinners, o que me lembrou da sua pergunta. Acho que você pode ser feliz e ainda fazer uma grande arte. Mas felicidade e dor não são mutuamente excludentes. Estou mais feliz do que nunca em muitos aspectos. Mas senti e vi mais dor neste último ano do que na maioria dos anos da minha vida. Talvez, quanto mais velha fico, maior seja minha capacidade de incorporar paradoxos como esse.”

Onde estamos? Qual é a história desta casa em que estamos?

Comprei esta casa logo após o contrato terminar. Senti que precisava de algum tipo de lugar para canalizar energia, que essencialmente abrigaria música e pessoas quando precisassem de um lugar para ficar. Talvez pudesse servir como um tipo diferente de lar para mim do que realmente conheci antes, com a porta mais aberta. Só a energia da casa, quando a encontrei, parecia muito comunal, e estou animada. Tipo como os caras do American Football ajudaram a recomprar o lugar deles e agora pode ser um esforço comunitário. Acho muito importante os artistas se sentirem apoiados por outros artistas. Se esse lugar puder se tornar isso, seria o objetivo final. Mas estou aberta a outras coisas. Temos que ver como se desenrola.

Esta comuna de artistas, ou um contexto tipo Dischord House, é algo que você sempre quis? Ou você sente que é meio que onde chegou ou se abriu agora?

Provavelmente ambos. Não sei se teria pensado em quão possível ou real poderia ter sido, mas acho que sempre valorizei muito a ideia de família escolhida e de pessoas poderem se unir com o que são boas, com o que amam e com que lhes dá um senso de propósito. Quer dizer, isso provavelmente esteve na minha cabeça de uma forma ou de outra desde que eu era criança e meus pais se separaram. Realmente acho que tudo remonta a apenas querer manter a família por perto.

Tenho certeza de que a definição de “família escolhida” muda com o tempo para você. Às vezes é [o Paramore]… e às vezes isso se transforma?

A banda tem sido a família escolhida. É o veículo — a van — na qual todo mundo se amontoou, e seguimos em frente e aprendemos todas as lições que precisávamos aprender. Agora, parece como quando você consegue colocar seu propósito ao lado de alguém ou daquilo pelo que é apaixonado e é maior do que a soma das partes.

Consigo ver você vivendo isso, só neste ano, na quantidade de colaborações e aparições no palco que fez. Você definitivamente está alcançando essa rede mais ampla. Como isso aconteceu — você estava mais aberta ou procurou as pessoas?

Estou mais aberta do que estava. Quando passo por algo emocional ou com muito luto, tento me manter ocupada, e acho que isso é uma coisa boa e ruim — mas desta vez tenho achado mais saudável do que em qualquer outra época da minha vida em que me joguei no trabalho. Quer dizer, ainda estou aprendendo em tempo real, neste ciclo de promoção do álbum, que há mais coisas que eu poderia fazer para corrigir e cuidar de mim mesma e me dar mais descanso. Mas a parte em que vou a shows e apoio amigos, ou canto no palco com eles, ou entro no estúdio com eles, isso tem sido muito terapêutico para mim.

O que fiz este ano com amigos realmente começou nesta época do ano passado. Fui para Los Angeles, estava hospedada com Dan e Elise e isso foi meio que o começo de eu pensar em fazer música. Não tinha certeza de como ainda — e então David Byrne entrou em contato e quis que eu ajudasse a escrever uma música para o filme The Twits. Eu estava em um lugar tão perdido na época, sem realmente entender o que fazer — tenho trabalhado desde criança — será que eu quero simplesmente cagar e andar e não trabalhar, nem pensar em trabalho ou coisas públicas? Mas quando David Byrne, alguém que é seu herói, aparece do nada para te oferecer algo… Sinto que havia um fio universal me puxando para isso. E se eu não tivesse feito aquilo, realmente não sei quanto do último ano teria acontecido. Isso me deu muita coragem e me colocou no caminho de “provavelmente preciso dizer ‘sim’ um pouco mais do que tenho dito e sair de casa um pouco mais do que tenho saído”. Tem sido ótimo. Shows são muito gratificantes para mim. Mesmo só assistindo, não preciso estar no palco. Apenas ir a um show e ficar no fundo e me sentir incrivelmente normal é muito terapêutico.

Realmente é. O que mais amo em shows e me permite desligar do “trabalho”, além até da música em si, é ver os fãs realmente engajados com o trabalho, cantando junto ou fazendo mosh. É a coisa mais louca de se testemunhar, se você parar para pensar. É como uma coisa espiritual.

Exatamente. Tenho usado muito essa palavra para isso. Acho que é a coisa mais espiritual que já vivenciei — e eu cresci na igreja. É muito conectado, e também acho que o som é tão bom para nós. A ciência literal disso. É ótimo para nós experimentarmos isso em conjunto com outras pessoas. Isso realmente muda o ar ao nosso redor. Não acho que vou me cansar de ir a shows, mas acho que passo por fases da vida em que perco uma parte de mim — e pode ser por causa do trabalho que fazemos. Talvez eu fique esgotada. A forma como este ano tem sido tem sido muito mais saudável para mim. Parece que estou encontrando meu chão, e talvez seja a idade. Não sei, mas tem sido divertido.

O que você diria que é a maior coisa que aprendeu com David Byrne?

Ele é tão curioso — sobre um som na rua quando está andando de bicicleta no meio da noite ou sobre uma cultura… Aprendendo sobre Talking Heads quando era mais jovem e especialmente quando fiz um mergulho mais profundo enquanto fazíamos After Laughter, li sobre como ele foi realmente influenciado por uma gravação específica de um pastor que fazia aquela coisa em que você meio que parece bravo, mas está falando uma palavra, e [Byrne] faz isso em “Once in a Lifetime”. Isso inspirou como minha interpretação em “Hard Times” aconteceu. E acho que isso realmente se resume a [o fato de que] ele está interessado e permanece interessado nas pessoas e naquilo que não sabe. Esse é um lugar muito humilde para se viver a vida, e aprendi muito sobre isso este ano.

Especialmente sendo a mais nova na sala crescendo, você tinha que ter a postura de saber do que estava falando o tempo todo, e é incrível como isso pode permanecer no sangue, nos ossos. Há tanta coisa que ficou entranhada, que deixou um gosto amargo ou uma impressão negativa de ser aberta, ser vulnerável, permanecer aberta, ou se permitir ser completamente moldada e mudada por suas experiências, em vez de sempre ter uma armadura erguida. Ele está tão pronto para o mundo fazer ou mostrar qualquer coisa a ele. E eu adoro isso. Isso me deixa mais animada em envelhecer como artista também — espero poder simplesmente ficar mais estranha e fazer mais. Adoro a carreira dele.

Falam sobre essa ideia em espaços de autoajuda. A coisa mais poderosa é reconhecer: “Eu não sei”. Então envelhecer e simplesmente saber menos, talvez esse seja o objetivo geral.

Tem uma [letra do] Operation Ivy que diz: “All I know is that I don’t know nothing” (Tudo o que sei é que não sei de nada). Eu provavelmente tinha 19 anos quando comecei a gostar deles, e [“Knowledge”] era minha música favorita, acho que é porque gosto quando as pessoas admitem não saber das coisas. Adoro a ideia de você me fazer uma pergunta e eu dizer: “Não sei”. É, não sou boa nisso. Ainda estou aprendendo a fazer isso.

Você disse que trabalhar com David meio que deu o pontapé inicial [neste ano] para você — como acha que essa curiosidade e “não saber” acabaram entrando no EDAABP?

Significou que eu poderia escrever e criar coisas bem no momento, apenas pela alegria ou pela necessidade do exercício, sem pensar: “O que vou fazer com isso? Vou levar isso em turnê? Isso vai virar um álbum?” Realmente não respondi a maioria dessas perguntas até nos aproximarmos do fim de tudo no estúdio, e é por isso que tantas coisas foram de última hora. Nunca fiz um álbum assim, e o “não saber” é a mágica disso. É por isso que cada música é meio diferente uma da outra. É realmente uma jornada, mas acho que o que a mantém mais coesa é a abertura para: “Bem, para onde vamos hoje?”, aí você tem “Negative Self Talk” e “Ice in My OJ” no mesmo álbum. Isso é divertido.

É incrível. Acho que representa todo o espectro emocional, o que remete ao que você mencionou antes — como o som afeta tudo, especialmente o cérebro e nossa psicologia. Você e Dan fizeram um trabalho tão bom. E sei que vocês são próximos, então imagino que tenha parecido mais seguro. Só trabalhando na sessão de fotos da AP com você e sua escolha de se estilizar, com a Elise ajudando… pareceu que todo mundo no seu ‘huddle‘ se apoia para ser eles mesmos. Até a direção que seu estilo tomou, em geral — você sempre estava incrível — realmente parece que você está sendo você.

Obrigada. Estou confortável. E isso significa muito, porque é meio que uma loucura crescer do jeito que crescemos. Essa foi uma das minhas maiores lutas crescendo sob qualquer forma de olhos públicos. Houve momentos em que éramos mais populares e momentos em que talvez menos pessoas estivessem prestando atenção, mas sempre lutei da mesma forma com isso. Eu só sentia: “Por favor, não me defina.” É realmente desconfortável. No entanto, vivemos uma carreira e um estilo de vida definidos por “eras”, onde você olha para um álbum e pensa: “Essa é quem eu fui por alguns anos, e essas são todas as lições que estava aprendendo.” A única com que realmente não consegui fazer isso por muito tempo foi This Is Why — até duas semanas atrás — quando pensei: “Ah, é sobre isso que esse álbum é.”

Sério? Vai me contar sobre isso?

Bem, levando a tudo o que essencialmente tornou o EDAABP possível, a ser uma artista independente, aqueles últimos seis meses na Atlantic e aqueles últimos seis meses com This Is Why, foi difícil. Foi difícil, e não era só eu, mas eu estava tendo minha própria experiência do que a vida dele tem sido dessa forma e eu sabia que estava chegando ao fim e estava tão pronta para isso, mas por causa disso, não estava realmente presente para onde estávamos no momento. Acho que é por isso que não consegui incorporar totalmente: “O que estou dizendo e do que estou realmente falando nessa música?” “Thick Skull” sempre foi minha música favorita no disco, porque acho que mostra o melhor de cada um de nós. Mas eu pensava: “Essa é uma música muito triste. Por que é minha favorita?” É uma luta honesta de uma música e eu simplesmente tive que aprender a mesma lição várias vezes, e na indústria e nos relacionamentos, nos grupos de amigos, acho que é muito difícil aprender a se defender. Eu olho para aquele disco e penso: “Eu estava aprendendo coisas de que não gostava em mim mesma e tentando trabalhar nelas” — como em “Running Out of Time” —, mas eu só tinha muita raiva dentro de mim que não saiu.

Então, pulamos para a parte de ser um artista independente que pode fazer o que quiser, quando quiser, e essas são as músicas que saíram. Quando “Showbiz” saiu outro dia, pareceu a purga final, e eu pensei: “Ah, por favor, esteja pronta para seguir em frente.” Mas então tenho que fazer a coisa de novo, onde me certifico de que estou permanecendo presente e não estou tentando simplesmente pular para frente para descobrir o que acontece a seguir. Acho que a parte da curiosidade tem que voltar a entrar em jogo, com o que está bem ao meu redor, agora. Björk tem uma ótima citação sobre como se apaixonar pode fazer as mesmas ruas que você percorre um milhão de vezes parecerem totalmente novas, e sinto que certamente podemos encontrar isso o tempo todo. Não acho que precisamos necessariamente ter esses químicos específicos ativos para ver romance e magia e todas as palavras clichês.

Voltar para Nashville também me forçou a isso. Eu pensava: “Eu queria estar na Califórnia. Agora estou de volta aqui, cresci aqui e não parece mágico, parece que todo mundo está perdendo seus direitos, estou aqui atrás das linhas inimigas, essencialmente.” Então comecei a ver o que eu amava nisso aqui enquanto crescia e ajuda ir a shows e ver a cena local em ação. Ajuda a se envolver e entender o que está acontecendo localmente, politicamente. Esse tipo de coisa é o que me mantém com os pés no chão o suficiente para não tentar pular muito para frente.

Uau. Tem muita coisa aí. Adoro isso. Bem, preciso dizer que notei as migalhas em This Is Why que se ligam ao novo álbum. “C’est Comme Ça” é uma grande, “Thick Skull”, como você mencionou…

Uau, OK. Então não sou louca.

De jeito nenhum. Liricamente, você pode ver os padrões que perpassam todo o seu trabalho, como a água, mas os projetos mais recentes se aprofundam mais em sentimentos e na raiva, como você disse. Lembro-me de quando conversei com você [e os caras] na época de This Is Why e você disse: “Esta é a primeira vez que estamos nos tornando tão [liricamente] políticos e tocando nesses outros novos temas”. Então faz todo sentido para mim. Você estava chegando lá. Também estou interessada na sua volta para Nashville e nessa mudança de perspectiva — como alguém que também se mudou para LA e voltou para casa algumas vezes.

É difícil. Eu continuava pensando da última vez que estive [em LA]: “Isso sou eu tentando voltar para alguém que sei que não é bom para mim.” É assim que LA me parece. Quer dizer, vou trabalhar lá se estiver fazendo música, provavelmente bastante, mas acho que queria fincar uma estaca lá e dizer: “Esta é a minha casa. Esta sou eu, independente de tudo ao meu redor onde cresci.” Acho que guarda muitas memórias incríveis, mas sei no meu íntimo que não é meu lar, e Nashville é. Estou aberta a procurar outros lugares enquanto o mundo está desmoronando. Mas realmente acho que lugares como Nashville e seus arredores também precisam que os moradores fiquem e tentem contribuir mais ou apenas fazer parte dela.

Quanto ao que você disse sobre estar atrás das linhas inimigas, imagino que também seja um lugar onde você pode sentir que sua voz é mais necessária ou apreciada do que na bolha de LA?

Certo. Pensei muito nisso, na verdade, durante a turnê de This Is Why. Eu dizia coisas no palco e pensava: “Bem, a maioria das pessoas aqui provavelmente concorda comigo.” Quer dizer, se for chegar a pessoas que discordam, provavelmente será por um vídeo do celular de alguém. Mas ao mesmo tempo, estou cansada de falar sobre as coisas, e sinto isso desde que me mudei de volta para cá e soube que é aqui que vou ficar. Só quero minhas mãos um pouco mais sujas e quero estar mais cara a cara. Acho que a internet, a fadiga das redes sociais, é só… Estou realmente me preparando para largar. A equipe vai me matar, mas não acho que eu esteja fazendo o que precisamos que seja feito. Em termos do ativismo, estou mais interessada no que realmente posso realizar do que no que posso dizer de um palco para, novamente, provavelmente pessoas que concordam comigo — mas a solidariedade também é importante.

Então, que tipo de coisas você tem feito ou está procurando participar?

Estou muito interessada em justiça alimentar, e isso vem depois de anos trabalhando com a Support + Feed e sentindo que eles realmente entendem muitos lados dessa luta, parece que vou ter que estudar isso, mas o Deputado Justin Jones, que é daqui, também está trabalhando com agricultura. Ele me contou algo sobre trabalhar com agricultura aqui e tudo o que sei é que isso tocou algo em mim. Ainda não está claro, e sinceramente não estive em casa o suficiente para me aprofundar, mas estou animada para descobrir. Também sou muito apaixonada por tentar direcionar as pessoas para shows ou lugares daqui que possam apoiar em sua região e é meio que por isso que quero tocar em locais menores também. Quero incentivar que você não precisa tocar nos maiores lugares do mundo e o que Jack White e André 3000 disseram [no] Rock and Roll Hall of Fame [indução]: coisas grandes começam em salinhas. Acho que ser capaz de direcionar jovens para esses espaços ou direcionar pessoas mais velhas que tenham recursos e possam querer fazer parte disso e se reconectar. Talvez eles tenham amado música quando eram mais jovens e se sintam desconectados. Essa é uma chance para as pessoas aprenderem como é a comunidade, com os pés no chão, através da música. Então essas duas questões, acho, são as que ficam comigo. Obviamente, o racismo é uma questão muito grande para mim, mas isso é tão interseccional se relacionando com saúde mental e tudo isso. São todos tipos de sementes agora que foram plantadas e não me importo em me tornar um artista cada vez maior. Me importo em tentar descobrir como viver uma vida real como artista, o resto é: “O que posso fazer pessoalmente para tornar minha comunidade mais legal?”

Até o que você estava falando sobre esta casa faz parte disso. Foi mencionado antes, mas queria falar sobre a turnê. Você se sente mais animada com isso do que o normal?

Sim, me sinto. Quer dizer, não sei dizer se é porque também estou muito nervosa e é apenas um zumbido de ansiedade que está acontecendo em mim o tempo todo agora. Mas estou animada para tocar instrumentos de novo. Estou animada para sentir que estou em uma colaboração constante — e talvez as [músicas] evoluam ao longo da turnê. Ainda não sabemos. É aqui que eu vou ser artista. A diferença para mim que me deixa nervosa, mas animada, é que não quero aparecer como a pessoa que lidera o Paramore. Quero aparecer um pouco mais eu mesma, seja como for. E acho que esse é o ponto de interrogação que me deixa nervosa — como isso realmente é?

Além disso, apenas ganhar um pouco mais de confiança tocando todo dia. Só tocar violão, em pé, cantando atrás de um microfone de pé é completamente diferente de como cresci me apresentando. A última vez que toquei violão com o Paramore nos sentamos em bancos e tocamos. A maior parte da minha carreira foi sobre projetar toda essa energia para fora e quero trazer a energia de volta para cá, então espero que as pessoas que vierem ao show estejam dispostas a deixar eu vê-las dançar e curtir. Sinto que ainda vai ser uma festa, mas o que estou me desafiando a [fazer] é não performar… [Risos.] Se este não pode ser o álbum da minha vida que me permite aprender como é quebrar a necessidade de agradar as pessoas, não sei o que ele fará por mim…

Parte de mim ficaria muito feliz apenas cantando em um bar e indo para casa todas as noites. Isso é uma coisa idealista. Além disso, o privilégio que é necessário para eu poder até dizer isso é loucura, mas gosto de uma vida romântica e me preocupo às vezes que com o Paramore, eu pensava: “Bem, o que mais podemos fazer, porra?” Literalmente, a banda continua crescendo, e não sei o que fazer com isso. Parece pressão? Sim e não. É emocionante porque você quer deixar um legado de que todos são bem-vindos e que é um bom momento, mas não sei. Com minha música, há muita verdade em mim dizer: “Gostaria que este fosse o último álbum de Hayley Williams.” Não estou muito interessada em continuar vendo meu nome em luzes. Estou mais interessada nas coisas que acontecem nos bastidores, até mesmo com outros artistas, sendo mais criativa dessa forma e podendo ajudar dessa forma. Há muito mais que pode ser feito e muito mais realização que acontece fora dos holofotes.

Isso só me faz pensar em você saindo de LA, voltando para Nashville, tentando, como você disse, sujar as mãos e se envolver na comunidade. Isso não é necessariamente tornar seu mundo menor, mas talvez seja mais como estar no mundo e não no seu mundo.

Totalmente. É uma ótima forma de colocar. Realmente sinto que tenho estado mais “fora” desde meus vinte e poucos anos e acho que tem sido indo e cantando no palco com amigos. Isso não é uma viagem de trabalho para mim. É como se eu pudesse liberar essa versão adolescente de mim que simplesmente adorava ir a shows. Eu entrei no Substack no início deste ano. Postei umas fotos que encontrei aleatoriamente de quando tinha 14 ou 15 anos no acampamento da igreja e pensei: “Este ano é para ela — porque este foi provavelmente o último ano normal da vida dessa pessoa.” Os shows e todas essas coisas extras de estar fora alimentaram o trabalho e fizeram o trabalho parecer… alivia os dias ruins de um trabalho que pode ser difícil.

Algo no termo “criança interior” me deixa enjoada, mas sinto que ir a shows é quando me sinto mais próxima do meu eu mais jovem. Parece que há muitos momentos de realização acontecendo [com você]. Na minha experiência, passar por muita dor é geralmente a forma como chegamos lá.

O luto te ensina como ninguém.

A dor é a maior motivadora.

É. E também a raiva. Infelizmente para mim, sou alguém que, quando fico muito magoada ou quando qualquer coisa chega no ponto de abandono no seu corpo, a raiva geralmente é o que vem primeiro, porque está tentando me proteger, mas eu não sei como. É por isso que canto tanto sobre querer continuar aprendendo o que a suavidade significa. Não acho que seja simples e tantas pessoas falam assim em podcasts que começa a não significar nada, mas para mim, tem sido uma lição tão longa que eu fico: “Quando vou chegar ao fim?” Porque a raiva também causou alguns dos melhores momentos da minha vida, onde fui motivada o suficiente para fazer algo que pensei que pudesse ajudar a fazer a diferença, seja ativismo ou até mesmo apenas escrever música para mim mesma, para o luto, a dor, a raiva, todas essas coisas. Tenho que encontrar meu caminho para a vulnerabilidade real por baixo de tudo isso primeiro. Adoraria chegar lá mais rápido… Na verdade, vou me dar isso. Acho que esse álbum soaria muito diferente se eu não tivesse aprendido a olhar por baixo da raiva.

Sinto que isso é bastante evidente como ouvinte, ou talvez porque conheço você bem.

Obrigada. Isso é encorajador. Tem sido uma parte tão grande da minha própria história como escritora porque as pessoas me conhecem como… Há uma imagem de mim com um microfone e eu com uma cara brava. Se me procurasse no dicionário, seria isso. Isso também vem com ser mulher. Você não pode mostrar nenhuma emoção sem ser histérica — mas quer saber? Toda vez que tive um momento muito revelador comigo mesma que envolvia minha raiva, como em Brand New Eyes ou em meu primeiro álbum solo, mudou a química do que estava acontecendo no momento. Sem essa raiva, não sei o que o Paramore teria feito durante o Brand New Eyes se eu não tivesse conseguido escrever e passar por isso e termos conversas sobre as situações. Então é um vai-e-vem de aprender o valor [da raiva] e aprender a não ter vergonha dela — e também aprender a passar por ela. Mais rápido, espero.

E aprender a usá-la, pelo que parece.

É meio como ter que aprender a manejar um poder. Se você nasce com um superpoder, digamos, e não sabe como usá-lo logo de cara, leva tempo, e — mais para o ponto de nós falarmos sobre curiosidade e permanecer aberta — é sobre deixar a vida te ensinar conforme você avança. Ainda não acho que entendo completamente a profundidade ou a raiz de por que a raiva e a paixão e a paixão por injustiça e todas essas coisas são tão grandes, mas também não estou reprimindo.

Tenho que dizer algo. Conversamos [antes] sobre você se sentir desconfortável falando sobre si mesma, acostumada a falar sobre “a banda” e falar da perspectiva do Paramore como uma unidade. Acho que você fez um trabalho muito bom [hoje].

Ah, meu Deus. É muito difícil. Quer dizer, quantas vezes já disse em uma entrevista: “Nós apenas tiramos um tempo para descolar nossas identidades da banda”? Essa porra me possuía. Preciso de um exorcismo, para ontem.

Preciso conseguir olhar no espelho quando estou em um restaurante lavando as mãos sem pensar: “Isso vai virar uma foto na internet depois?” E mesmo que não seja sobre a internet… Paramore tem sido minha única história desde os 13 anos. É uma loucura pensar nisso e é um grande presente. Quer dizer, caramba, sinto que tenho tanta sorte de ter estado em uma das minhas bandas favoritas por toda a vida.

Nunca vou deixar de ser a vocalista do Paramore — mas realmente preciso entender quais outras histórias sou e como é a vida quando não estou vinculando tudo á banda. Penso no clipe de “Thick Skull” o tempo todo ultimamente. Não consigo parar de pensar nisso, e acho que foi uma imagem perfeita do que precisava acontecer, para eu desmoronar o suficiente para me abrir de novo. Quer dizer, ainda não estou descolada.

Tradução por Rita Nogueira, da equipe do Paramore Brasil.

Assista ao vídeo (em inglês) da entrevista:

 

Hayley Williams para o photoshoot da Alternative Press, por Zachary Gray 📷:

Hayley Williams nos bastidores, por Elise Joseph 📷:

 

Paramore Brasil
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