Zac Farro, o baterista do Paramore, é o novo destaque da Modern Drummer – revista internacional voltada para músicos, publicada mensalmente -, e falou sobre sua vida pessoal, sua carreira e o HalfNoise, além de revelar detalhes do processo de criação do álbum After Laughter em uma entrevista exclusiva.

Confira abaixo:

Antes de conversarmos sobre seu retorno ao Paramore, vamos voltar ao começo. Quando você começou a tocar bateria?

Quando eu tinha nove anos de idade. Minha mãe achou que eu estava entediado durante o verão então ela me inscreveu para essa turma/aulas de verão chamada Bach to Rock. O instrutor perguntou se alguém queria tentar tocar bateria. Eu deveria/devo citar que sou o tipo de pessoa que odeia ter o nome chamado na escola. Ainda assim eu me encontrei com a mão erguida como algum tipo de milagre contra minha vontade. O instrutor demonstrou uma batida, e eu fui capaz de tocar razoavelmente bem. De lá eu fui para casa e fiz uma bateria com tachos e panelas. Entretanto, eu odiei a ideia de aulas de bateria e sentar para treinar. Senti que eu era um aprendiz muito auditivo. Se eu escutasse eu conseguia tocar, mas tinha dificuldade para ler música.

Você foi um membro fundador quando apenas estava se tornando um adolescente, e saiu em 2010, enquanto a banda ainda estava em ascensão meteórica. Quão difícil foi tomar essa decisão?

Eu esbarrei em um obstáculo. Eu não queria sair e tocar, e se como um músico você não está se abastecendo para tocar na frente de 40.000 pessoas, então algo está errado. Quando a ideia de dirigir à um supermercado de volta de Nashville parece mais emocionante que tocar para um enorme público de festival você precisa se reavaliar. Eu precisava repensar minha vida. Sair da banda e ir para a Nova Zelândia me permitiu tempo e espaço para descobrir o que realmente me inspira.

O que te levou à Nova Zelândia?

A paisagem é insana, mas na verdade o que me atraiu sou simplesmente ter um ritmo de vida diferente. Viver na Nova Zelândia foi uma experiência transformadora. Eu vejo o mundo tão diferente agora, e eu cresci de várias formas. Quando saí da banda eu não tinha certeza se música era algo que eu continuaria fazendo. Eu sabia que continuaria voltando a isso mas não tinha certeza em que qualidade. Na maior parte eu trabalhei em viver a vida. Eu iria passar minha adolescência fazendo álbuns e turnês, o que era maravilhoso, mas eu senti a necessidade de reagrupar.

Quando HalfNoise começou?

Eu dividi meu tempo entre Nova Zelândia e Nashville por três anos, e durante esse tempo eu descobri meu amor por escrever música. HalfNoise começou em Nashville logo que eu saí do Paramore, produzindo de todos esses ciclos eu escrevia eu escrevia. Criando músicas com sons mais eletrônicos parecia satisfazer uma parte diferente do meu cérebro. Escrever música e produzir era um novo território. Então me mudei para a Nova Zelância e comecei a viver aquela vida. Uma vez que mudei de volta à Nashville por tempo integral, eu comecei a seguir com a HalfNoise. Eu fiz algumas turnês, mas eu ainda não tinha me decidido se era algo que eu queria prosseguir completamente, como eu havia feito com Paramore.

Quando HalfNoise performa ao vivo, você é o líder. Essa experiência mudou como você aborda tocar bateria de alguma forma?

Sim. É estranho para mim estar na frente, porque como baterista você se acostuma a literalmente se esconder atrás de todo mundo, o que cria esta zona de conforto. Ser forçado para fora da minha zona de conforto realmente me ajudou a tocar. Contudo, eu não percebi até Taylor [York, guitarrista] e Hayley [Williams, vocalista] me pediram para tocar no novo álbum. A última vez que toquei em um álbum do Paramore foi em 2009, e eu era um músico completamente diferente naquela época. As músicas antigas como “Misery Business” que nó ainda tocamos ao vivo são muito mais representativas no Zac adolescente. Mas seis anos escrevendo e co-escrevendo músicas, e produção abriram minha mente e ouvidos, o que me permitiu abordar After Laughter em uma forma mais muito mais musical.

Como assim?

Meu estilo de tocar é mais submisso, mas existe espaço para que eu o abra um pouco quando tocamos ao vivo. Eu também queria obter o melhor tom do conjunto, o que significou não bater a bateria tão forte o tempo todo. Quando aprendia como produzir eu percebi o quão difícil é juntar bem o som da bateria quando você está constantemente batendo nela e tocando preenchimento em todo lugar. Até no que se refere a partes da bateria, eu aprendi que há mais na banda do que apenas a bateria, algo que eu não considerava quando adolescente. Menos é mais. Eu escutei de perto às melodias da Hayley e suas letras e o que elas significavam, e toquei para aquilo.

A bateria em After Laughter é muito linear. Os padrões são cheios de ideia, certamente não são simples, e ainda assim sempre complementam guitarra, baixo e vocais.

Meu retorno à banda foi um processo muito orgânico. Me pediram para reintegrar a banda até a metade do processo de criação do álbum. Desde o início, não foi sequer muito sobre tocar com eles novamente, foi mais sobre se reaproximar de amigos. Isso foi muito mais importante para mim que qualquer outra coisa. Nós parecíamos ainda estar no mesmo caminho em relação a música, moda e arte, apesar de muito tempo ter se passado. Como amigos nós não perdemos tempo, mas tínhamos muita vida que não vivemos juntos para colocar em dia. Nós estávamos escutando bastante Talking Heads, Blondie, assim como Afrobeat dos anos 70. Nós estávamos apaixonados pelos padrões repetitivos e como eles eram travados. Uma coisa que mais se sobressaiu para nós foi quanto energia havia sem ser rock pesado.

Isso é interessante, dada a ausência de guitarras sobrecarregadas no álbum. Poderia ser descrito como um som mais vibrante e vívido.

Obrigado! Nós sabíamos que não poderíamos fazer 180 bpm completos musicalmente como banda. As músicas do Paramore são cheias de energia e vida, então nós queríamos manter isso, mas ao mesmo tempo parecia o momento certo para uma pequena melhoria. Então nós introduzimos mais do que estávamos escutando e nos inspirava recentemente neste novo álbum. É um tipo diferente de energia. Não é a energia de guitarras distorcidas e pratos de ataque tocados violentamente. A energia vem das batidas polirítmicas. Elas não são agitadas na proporção como se movem e têm um efeito extasiante.

Como trabalhar com o produtor Justin Meldal-Johnsen [Beck, Nine Inch Nails, M83] moldou suas performances?

JMJ é um dos melhores baixistas vivos. Nós construímos juntos no estúdio e formulamos todas as músicas. Embora ainda houvesse alguma produção feita – o álbum não é todo de gravações ao vivo. Mas ele é um baixista tão foda que me fez melhor. Eu foquei em fazer meu trabalho corretamente e não estragar as músicas tocando preenchimento em todo lugar. Foi um tanto estressante para mim, mas nós chegamos lá.

Eu ainda estou crescendo e aprendendo. Uma coisa que foi realmente legal que nós não conseguimos alcançar as batidas corretas para esta canção chamada ‘Caugh in the Middle”. Nós havíamos gravado todas as baterias no RCA Studio in Nashville, que foi realmente legal. Nós nunca haviamos feito um álbum em Nashville antes, apesar de ser nossa cidade natal. No finalzinho do processo de gravação, nós fomos ao estúdio de JMJ em Los Angeles para finalizar o álbum, mas nós não conseguíamos alcançar as batidas corretas para essa canção. Eu perguntei a ele se nós poderíamos tentar refazer as batidas no seu espaço. Eu montei um conjunto muito apertando e com som de encaixe em seu pequeno cômodo, e acabou sendo alguns dos meus sons de bateria favoritos no álbum. O restante do álbum foi feito em em um estúdio enorme. Até mesmo onde a canção está localizada no álbum introduz este som renovador, o que cria um bom impacto no arco do álbum.

Eu acredito que apenas tocar a música e garantir que os sons e partes da bateria davam perfeitamente certo para cada canção foi importante. Por exemplo, as baterias em ‘Idle Worship” são grandes e cheias. “Forgiveness” tem apenas uma batida de prato de ataque na canção inteira, então eu queria que fosse mais sobre a relação bumbo/caixa/chimbal/tom.

Musical e visualmente falando, o After Laughter é certamente uma composição artística bem executada. Você também dirigiu os vídeos de “Told You So” e “Fake Happy”. De onde veio esse seu lado de diretor?

Eu dirigi alguns vídeos para o HalfNoise. Quando nós estávamos pensando nos vídeos para o After Laughter, eu pedi para tentar fazer um, e eu fiz “Told You So”. As pessoas pareceram gostar, então eles me pediram para fazer outro. Mas com “Fake Happy” eu queria explorar uma visão mais cinemática, em vez da tradicional performance com a banda. Também foi o primeiro vídeo que gravei com um filme de 35 milímetros. A arte e a música sempre foram grandes coisas em minha vida – acho que elas podem te levar a bons lugares. Eu sempre quero ver minha vida de forma diferente e examinar diferentes perspectivas. Estou aprendendo que sou uma pessoa muito mais visual do que achava que era.

As performances recentes do Paramore contam com muitos músicos no palco, e parece que todo mundo está se divertindo.

O núcleo da banda agora é Hayley, Taylor e eu, mas o Paramore é, na verdade, a comunidade em volta da gente. Somos sete pessoas no palco quando tocamos ao vivo. O irmão do Taylor, Justin, toca a guitarra rítmica e faz os backing vocals; aí tem meu companheiro de quarto, Logan [MacKenzie], que toca teclado e guitarra. Joe Mullen, meu técnico de baterias, toca toda a percussão. E tem um baixista. É demais, porque tudo se completa. Nós preparamos o palco para que todos coubessem. Não é mais três pessoas na frente e o resto na parte de trás. Estamos todos juntos criando esse som incrível. Deveria ser orgânico e diferente todas as noites, porque é isso que faz com que as pessoas se conectem. Tocar em uma banda de novo me fez perceber que a conexão criada entre músicos é que é realmente especial. Eu posso estar muito conectado com o baixista e podemos estar cravados, mas todos nós nos movemos juntos, como uma unidade.

Tradução por Raíla Serra e Larissa Stocco, da Equipe Paramore Brasil.

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Na última quinta-feira (05), a banda de Zac Farro, o HalfNoise, lançou uma nova faixa, “All That Love Is“, que recebeu destaque especial na revista The Fader. Ouça agora:

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