Hayley Williams é um dos destaques do mês na principal coluna sobre música do The New York Times!
A jornalista Caryn Ganz passou algumas horas ao lado da cantora e seu cachorro Alf, visitando lugares que definitivamente marcaram as vidas dos integrantes do Paramore.
Mas não é só isso, a entrevista conta com declarações de Taylor York, boygenius e até mesmo o COO da Atlantic Records, sobre como Hayley Williams é uma artista única, com um dom para fazer música e ser uma performer! Confira a tradução na íntegra:

Um eclético, inesperado e ambicioso projeto solo permitiu à cantora-compositora exorcizar demônios e ampliar seus poderes criativos. Boa notícia para a sua banda de longa jornada.

Estava fazendo 16°C por volta do meio de novembro e Hayley Williams estava correndo nua pela floresta no Tennessee. Por mais longe que as metáforas possam ir, isso aconteceu de fato.

Paramore, a multiplatinada banda de pop-punk, que a cantora e compositora de 31 anos tem liderado pelos últimos 17 anos, terminou os trabalhos de turnê do quinto álbum, “After Laughter”, em torno de 1 ano mais cedo. Ainda sem saber, Hayley estava lidando com depressão e estresse pós-traumático. Williams ingressou em uma terapia intensiva logo após chegar em casa. Sua terapeuta a disse para escrever, então ela começou a esboçar o que futuramente seria o projeto solo que ela jurou nunca fazer. O processo envolveu mergulhar de volta em sua infância e seu casamento sofrido, enfrentando a origem de sua dor.

Ela ainda estava no processo de escavação profunda. Mas aí estava ela, nua, em uma floresta, gravando um vídeo para a primeira música que ela lançaria como Hayley Williams: uma faixa escorregadia chamada “Simmer”, que é ancorada pelos seus suspiros catárticos e inicia com a palavra “Raiva”. A primeira leva de músicas chegou em Fevereiro e tem mais vindo em breve; o álbum completo, “Petals for Armor” estará disponível em 8 de Maio.

“Eu realmente acreditei em mim mesma, se serve de consolo pra alguém”, Williams disse. Ela estava escondida em uma cabine em um café que ela frequenta perto de sua casa, abrindo-se no que seria a primeira de três longas conversas sobre o que alimentou sua decisão de dar um “sopro de esperança” em seu próprio nome. Seu cabelo era loiro, seus óculos cinza eram redondos, e o chapéu azul pálido protegendo seu rosto estava bordado com a letra de uma canção cínica dos “Descendents” sobre a entorpecente banalidade da vida suburbana: “Eu quero ser estereotipado/Eu quero ser classificado”.

Williams passou alguns anos tentando desempenhar o papel de esposa suburbana e quase desistiu de sua carreira por isso. Em público, ela era uma fera, uma presença magnética com cabelos de cor de doce e shows lotados. No privado, porém, ela estava presa em ciclos de desconfiança e vergonha. Foi uma desconexão difícil para uma artista que trabalha de forma transparente, e isso foi uma parte do que estava corroendo ela.

Mas nós não chegamos lá ainda. Tentando não consumir cafeína, ela conversou sobre como estava aterrorizada quando conheceu Shirley Manson, como estava orgulhosa de ter escrito muitos solos e melodias para o ‘Petals for Armor’ e como estava, em certo ponto, com medo de estar perdendo acesso a sua tristeza. Ela parou para conversar com um conhecido ostentando um cabelo arco-íris, cortesia da linha de tintas de cabelo veganas de Williams, Good Dye Young. Ela também fez referência ao livro “Mulheres que Correm Com os Lobos”, um livro de 1992 de contos sobre gênero, que era sua pílula vermelha.

York, 30 anos, um dos amigos de infância que é o alicerce do Paramore desde 2007 e ajudou a evoluir o som da banda, tornou-se seu co-piloto e produtor de ‘Petals For Armor’, esculpindo uma estética diferente das guitarras conhecidas da banda e do estilo new wave animado de ‘After Laughter’. Isso deu espaço para camadas complexas e obscuras, com funk arrepiante, um tom eletrônico industrial e vertiginoso e um pop brilhante. A voz gloriosa e flexível de Williams, que às vezes se esforça para ser ouvida no topo de sua banda, está em primeiro plano.

No começo, não era um projeto. Eu realmente pensei que iria escrever várias músicas de R&B por diversão”, disse Williams. Ela montou para York uma lista de inspirações: Solange, SZA e Erykah Badu, ao lado de Thom Yorke e Björk. York, que ainda não havia produzido um álbum por conta própria – ele havia contribuído nos dois mais recentes álbuns do Paramore – entendeu a profundidade das faixas, enquanto Williams continuava escrevendo. Isso não ajudou sua ansiedade, que se manifestou em pânico e psoríase.

“Eu não tinha ideia do que estava fazendo”, ele disse em um telefonema pensativo e modesto, diretamente de Nashville, no qual enfatizou a capacidade da sua antiga companheira de banda em acessar sua verdade: “Não é como se ela usasse a dor como uma espécie de artifício ou algum tipo de veículo, só para conseguir uma boa música. Ela realmente quer dizer alguma coisa.. As referências de Williams “canalizavam de uma maneira muito diferente. Como quando ela diz ‘Spice Girls’, de alguma forma ouço ‘The Knife*’..
*Referência à banda The Knife.

Williams, York e um pequeno grupo de colaboradores trabalharam de forma privada, antes que a cantora quisesse falar sobre isso com seus agentes ou à gravadora Atlantic. “Eu esperei por muito tempo, porque não queria estragar isso”, disse ela. Quando acabou escrevendo uma música chamada ‘Dead Horse’, ela ficou envergonhada: “Eu cheguei perto de sufocar o meu processo criativo, porque não queria corresponder às expectativas de como é quando uma mulher sai de uma banda e faz um projeto por conta própria.”.

No final, ela abraçou isso tudo. Ela até executou uma elaborada dança coreografada no vídeo de “Cinnamon”. E ela não deixou a banda.

Williams tem um cachorro de tons ouro e bege chamado Alf, a quem ela disciplina em uma voz gentil. Seu parque preferido é uma corrida em uma fazenda de cavalos em Franklin, a cidade nos arredores de Nashville, onde Williams e sua mãe se estabeleceram depois que deixaram o segundo marido de sua mãe no Mississippi. É também onde ela e Gilbert – a quem ela se refere apenas como “meu ex” – moravam e viveram momentos infelizes em que Williams pintou e repintou, decorou e redecorou.

“Sua garota gastou muito dinheiro naqueles anos tentando preencher um vazio que não era corrigível”, disse ela com um suspiro. Alf chegou até nós e e caiu aos nossos pés.
Quando ela começou o relacionamento no final da adolescência, “eu já estava tentando entender minha capacidade para construir um lar”, disse ela. “Acho que, durante muito tempo, quis criar o que meus pais não criaram para mim.”.

Tanto sua mãe, quanto seu pai, se casaram várias vezes; sua primeira memória de infância, de uma discussão entre eles, foi o tema de sua primeira terapia EMDR – dessensibilização e reprocessamento de movimentos oculares – onde ela visualizou-se segurando e protegendo o seu eu de quatro anos de idade.

Traições e discussões severas levaram ao divórcio e a forçaram a reconhecer uma vergonha que ela carregava há quase 10 anos, sobre a qual ela canta em “Dead Horse”: “Eu tive o que mereci / eu fui a outra mulher primeiro.”. Ela nunca foi capaz de ouvir “Lemonade”, álbum de Beyoncé, na íntegra; uma reprise da série “Friends” envolvendo alguma briga entre Ross e Rachel à levou às lágrimas. Desde o início da terapia, “Gilmore Girls” tem sido um espaço seguro para ela.

Mas a raiva que provocou “Petals For Armor” não se limitou à sua própria experiência; resultou de trauma que Williams descobriu quando o movimento #MeToo estava ganhando força. “Todas as mulheres da minha família, do lado da minha mãe” – uma linha de figuras fortes e impressionantes – ela enfatizou – “foram abusadas em quase todos os sentidos da palavra”. Ela percebeu que a dor estava subjacente a tudo em sua vida: “Sempre senti que havia algo de errado comigo, ou que era muito azarada, ou então que tinha algo a provar.”.

Seu desejo de fugir para a música se manifestou cedo, quando ela tinha cerca de 8 anos, assistindo à MTV, desejando poder “chegar aonde essas pessoas estão, porque parecem felizes.”. (Ela percebe a ironia disso agora.). Ela ansiava pela companhia de colegas de banda, porque “eu queria fazer parte de uma família, entende?”.

Quando ela estava se preparando para casar, Williams pensou em desistir da música. Ela pediu a Julie Greenwald, presidente e COO da Atlantic, que refizesse o contrato do Paramore para que ela pudesse entregar menos álbuns. Greenwald estava disposto a negociar, mas sugeriu que a cantora não precisaria escolher entre seu trabalho e sua vida pessoal.

“Hayley está na indústria da música porque é uma artista e seu amor pela música e pela performance está no seu sangue”, disse Greenwald, em uma entrevista por telefone, lembrando sobre o bate-papo da dupla em uma das salas do escritório da gravadora. “A única coisa que eu queria ter certeza de que ela entendesse, é que existem pouquíssimas pessoas que nasceram para se apresentar. Ela tem esse dom.”.

Dirigindo de volta para Nashville na sua caminhonete enfeitada com um pin da Björk sacudindo em um suporte de copos, Williams cruzou por uma série de marcos do Paramore. “Eu não acredito que eu estou prestes a dizer essas palavras: eu mal posso esperar para mostrar a vocês essa igreja que vamos passar daqui a pouco…” ela disse enquanto uma estrutura formidável surgia. Foi lá que ela e York tiveram seu primeiro contato.

“Eu os conheci aos 13 anos”, ela ficou maravilhada. “Você nunca consegue ser amigo das mesmas pessoas por toda a sua vida, quanto mais ter uma segunda chance com eles quando vocês se separam”, ela acrescentou, referindo-se ao retorno do baterista Zac Farro ao Paramore, para o álbum “After Laughter”, após sua saída em 2010. (Ele toca em algumas músicas de “Petals for Armor” também).

Ela apontou para o Walgreens, farmácia onde costumavam comprar doces e tintas para cabelo. Alf ofegou no banco de trás.

Fúria e tristeza podem ter sido o ponto de partida para “Petals for Armor”, mas são apenas uma parte da história: músicas posteriores tratam de empoderamento, um pouco de romance, solidariedade feminina e simplesmente prosperidade. Williams teve a colaboração desde o início de uma amiga próxima, a fotógrafa Lindsey Byrnes, que trabalhou como diretora criativa e a ajudou com os vários visuais — incluindo dos vídeos dirigido por Warren Fu — que deram às músicas dimensões vívidas. Junto às evidentes metáforas da natureza, um dos temas recorrentes é canela, a qual refere-se à casa aconchegante de Williams e ao seu mundo interior, uma feminilidade de sua própria construção.

“Eu acho que nós crescemos vendo o estereótipo do corpo feminino, da personalidade feminina, da vestimenta feminina, eu não me identifico com isso,”  Williams disse no dia seguinte ao parque de cães, sentada no chão da sua sala, usando um Converse branco feito por um fã para ela.

Ela passou metade da sua vida no cenário punk dominado por homens, onde ela se misturou bem o bastante a ponto de não perceber que parte dela estava desaparecendo. Ela se sentiu lançada contra outras mulheres em seu relacionamento e então parou de cantar o hit “Misery Business” do Paramore, ao vivo, pois era uma canção “ignorante” sobre rixas entre garotas que “eu simplesmente não me identifico” mais. Após o divórcio, ela focou em construir amizades maduras com outras mulheres.

Uma de suas confidentes, a cantora e compositora Julien Baker, disse que ela e Williams se uniram por “terem sido criadas culturalmente cristãs no sul dos EUA e então foram para o mundo” da música. “Ela tem uma conexão inata com o mais emocionalmente profundo e realmente quer explorar essas coisas de uma maneira honesta com as pessoas,” Baker disse em uma entrevista via telefone. “Mas também, ela é uma pessoa desarmante”. Baker, Phoebe Bridgers e Lucy Dacus — o trio boygenius — fizeram os backing vocals em uma canção do “Petals for Armor” sobre “mulheres murchas” indo em direção à luz.

A Hayley Williams que retornará ao Paramore florescerá também. “Parece como o início. Considerando que, honestamente, meses antes de lançarmos ‘After Laughter’ se parecia com o fim,” ela disse. No café, ela sorriu pensando em como ela e York saíram do hard rock naquele álbum de 2017 — “Nós estávamos tipo, ‘nós tentamos bater nossas cabeças e nosso pescoço doeu!'” — e agora eles sentem falta de uma sonoridade mais pesada.
Mas seja o que for que eles abordem no próximo álbum do Paramore, “Eu percebi que você não consegue matar isso”, ela disse e riu. “Está em nosso sangue.”.

Texto traduzido pela equipe Paramore Brasil.

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3 Replies to “The New York Times: Como Hayley Williams salvou a si mesma e o Paramore”

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