‘Emo’ é um termo confuso e controverso. Ninguém até hoje conseguiu descrever precisamente o que ele significa, e isso se dá por causa da grande aversão a essa palavra pelas bandas da cena, sendo uma dessas bandas o nosso amado Paramore. A líder Hayley Williams é, então, a escolha ideal pra apresentar um podcast em celebração a esse subgênero do rock.

O BBC Sounds (que está lançando um podcast hoje) contatou Hayley Williams com a sugestão – a ideia nunca poderia ter vindo dela. “Por tanto tempo eu venho sendo inflexível sobre não ser rotulada em uma cena que essa ideia nunca teria vindo da minha cabeça,” ela conta à Rolling Stone UK. “Mas eu estou tão feliz que alguém tenha vindo até mim pra falar sobre isso, porque me deu a oportunidade incrível de ser uma nerd de música, mas também instigar a descoberta (de novas músicas) em pessoas que ainda não descobriram essa bandas maravilhosas que já vêm de uma longa linhagem na cena.”.

  • Traduzimos e legendamos na íntegra o primeiro episódio de “Everything is Emo”, que você pode conferir abaixo:

O resultado é um programa expansivo, que vai surpreender a maioria dos fãs – naturalmente, Hayley Williams conhece todas as histórias do gênero que formam o seu gosto musical. Mas (o programa) também é inclusivo onde fontes de informação relacionadas ao rock geralmente falham. Com a apresentação calorosa da vocalista e suas histórias pessoais de como ela se encontrou na música, como ouvinte, você não vai ficar com o sentimento de que deveria conhecer melhor esses artistas ou ter mais informações sobre eles se você fosse um emo de verdade.

Cada episódio vai ter por volta de 12 músicas e vai incluir faixas que são tangencialmente relacionadas ao emo ou suas várias eras ao passar das últimas décadas. As vezes serão apenas músicas de new pop punk que nunca poderiam ter existido sem os artistas emo (que vieram antes).

Aqui, a Rolling Stone UK conversa com Hayley Williams sobre o making of do podcast “Everything is Emo”, tentativas anteriores de tentar definir esse subgênero, e porque os filmes de Crepúsculo são emos e extremamente teatrais.

Rolling Stone: Eu amo o título – penso o tempo todo sobre como tudo é emo: música pop triste ou um animal mostrando emoção humana ou Phoebe Bridgers. Isso é algo que às vezes você também considera?

Hayley Williams: meu Deus, sim. Desde o primeiro dia, fiquei perplexa quando ouvi pela primeira vez sobre essa palavra ‘emo’. Pesquisei na internet e tentei entender porque estava ouvindo mais músicas que não eram populares nas rádios. Eu estava descobrindo todo esse outro mundo e queria entendê-lo melhor porque queria saber tudo, queria realmente estar por dentro. E o emo mudou muito ao longo dos anos. Mas uma coisa que nunca mudou desde o primeiro dia: as pessoas estão confusas sobre o que diabos é emo.

Um dos artigos que eu peguei naquela época, quando eu tinha 13 anos, tinha Ian MacKaye do Minor Threat e Fugazi dizendo ‘isso é tão estúpido, tudo é emo’. ‘Música punk é emo porque as pessoas estão expressando sua raiva ou frustração’ ou qualquer outra coisa. E eu vi isso evoluir ao longo dos anos, como você está dizendo, um minuto “emo” soa como pop punk e no minuto seguinte o “emo” soa como Phoebe Bridgers e Conor Oberst fazendo um projeto juntos. Onde chegamos agora, as pessoas estão muito mais abertas a muitas versões diferentes da palavra e acho isso legal.

RS: É essa qualidade que não tem a ver com o som, mas está mais próxima de um tipo específico de emoção. Muitas vezes você sabe se algo é emo e se não é, você simplesmente não sabe exatamente por quê.

HW: Isso é tão verdade. É uma coisa sentida não dita.

RS: Quando o Paramore estava em ascensão, eu lia revistas de rock e eles muitas vezes tinham bandas lá, incluindo vocês, dizendo ‘nós não somos emo, emo é uma merda’. Quais foram seus pensamentos sobre esse distanciamento que estava acontecendo?

HW: Cara, estávamos tão preocupados – especialmente eu – em não ser o que quer que a cena considerasse “poser” ou qualquer outra coisa. Especialmente como uma garota jovem, a pressão era muito grande para não ser considerado chata. Era como, ‘Bem, eu tenho que provar que sou 50% mais dura do que esses caras’ e tenho que não mostrar certas vulnerabilidades ou tenho que me entregar mais no palco, tenho que escrever letras melhores. Em 2004, Kelly Clarkson fez um álbum realmente grande [Breakaway] que era essencialmente composto por violão. Lembro-me de dizer: ‘as pessoas vão nos comparar com Kelly Clarkson’ porque temos violões e vocais femininos, sabe? Nem era realmente competitivo, eu estava apenas tentando me provar o tempo todo.

Definitivamente, mais de uma vez disse que não éramos emo em entrevistas. Nós também pensamos ‘não somos pop punk’. Nas entrevistas, acho que não queríamos ser nada específico. Porque sempre quisemos transcender o que quer que fosse. Quando começamos a tocar na Warped Tour, no fundo da minha mente, eu estava tipo, ‘eu quero ser a melhor banda nesta turnê e então eu quero me formar e então eu quero ser capaz de tomar qualquer próximo mundo que nós formos’. Mas obviamente nós saímos disso, e [emo] é apenas o mundo em que nos encaixamos. E nós nos ressentimos muito por isso na época, mas agora estou tipo, ‘tanto faz, apenas nos chame do que quiser, nós vamos fazer o que quisermos de qualquer forma’.

Emo tornou a música punk mais acessível, e então se tornou cada vez mais popular a ponto de bandas como nós estarem na MTV, e agora estamos tocando no rádio, e agora você tem a versão dessa geração em todo lugar.

É tão interessante para mim que as pessoas apenas façam  que o emo seja o que eles quiserem. Se eles querem que Phoebe Bridgers seja emo ou underground, então é isso. E se eles querem que o Paramore seja pop punk ou emo, só depende das pessoas. Nunca depende das bandas. Depende dos jornalistas e como as pessoas categorizam as coisas. E sinto que a diferença agora é que esta geração não parece se importar tanto com a compartimentação. Não há inibições sobre ‘não quero ser um poser se eu ouvir isso’.

RS: Quando eu era adolescente no Reino Unido, Paramore e MCR não eram as bandas emo mais populares, mas pelas lentes da nostalgia, é assim que nos lembramos. Para minha memória, era principalmente eu e apenas as outras garotas emo curtindo o Paramore.

HW: Cem por cento. Eu diria que as ondas de música mais populares são movidas por garotas adolescentes. Estou feliz por não haver realmente o mesmo tipo de filtros que havia antes. Eu acho que é preciso muita energia para ser um guardião dessa cena. Isso é uma coisa que, com o programa, estou tentando deixar claro é que não faz sentido bloquear certas pessoas. Eu posso até tocar algumas músicas que intencionalmente não são músicas emo. Há certas músicas e filmes e personagens e cultura pop que nossa cena realmente estava abraçando. E eu quero lembrar dessa energia onde, como amantes da música, devemos apenas estar empolgados com coisas legais e não significa que você tem que gostar de tudo.

Quando eu planejo essas playlists, tento manter isso em mente: tipo, não filtre essa cena porque você não quer se tornar um daqueles dinossauros malditos e rabugentos que dizem ‘isso não é punk’ e ‘isso não é emo ‘. Eu definitivamente tenho essa voz em mim, não me entenda mal, isso é uma falha fatal, talvez. Mas eu trabalho isso e mantenho isso sob controle.

RS: Falando nisso, eu adorei que você tocou música da trilha sonora de Crepúsculo no primeiro episódio. Essa franquia de filmes parecia o cânone emo da próxima geração de alguma forma? Os adolescentes logo depois de nós e os adolescentes de agora adoram.

HW: Você tem que olhar para nossa cena, nosso mundo e nossa música com um toque de humor. E para o excêntrico também. Crepúsculo foi o ápice do excêntrico para mim. E eu não sei se era para ser assim, mas acho que posso olhar para trás e pensar, ‘olhe para a maquiagem deste filme, olhe para a pele brilhante dessas pessoas que são tão pálidas que dá pra ver através delas’. Obviamente eles são vampiros, mas também exemplifica muito como muitas pessoas na cena pareciam naquela época.

Eu definitivamente tive dificuldades quando fizemos aquela trilha sonora. Havia uma parte de mim que lia os livros, eu os amava, eram de leitura fácil e divertidos. Foi: ‘puta merda, temos uma música em um filme’ – isso foi uma loucura. E então o ressentimento começou tipo, ‘meu deus, nós somos a banda de Crepúsculo’. Demorou muito tempo para superar aquela parte de mim que queria me dizer ‘você é um poser’. Eu meio que tive que ficar tipo, ‘não, foda-se, o Radiohead está nisso’. Isso é louco. Bon Iver está nisso. E não vamos fingir que Crepúsculo não catapultou nossa banda para uma rota diferente. Nós não éramos tão conhecidos antes que a trilha sonora fosse lançada. Isso nos abriu para uma série de fãs que provavelmente não nos dariam uma chance antes disso ou não sabiam que existíamos antes. Eu olho para trás agora como se isso fosse uma loucura. Kristen Stewart é a princesa Diana agora e Robert Pattinson é o Batman. E ainda somos uma banda, então todos estão indo bem.

RS: Você diz no podcast que Paramore – ‘I Caught Myself’ é uma das suas músicas favoritas do Paramore. Isso é em parte por estar nessa trilha sonora, junto com ‘Decode’?

HW: Essas músicas são muito especiais para nós. Quando Zac [Farro] voltou à banda depois de seis ou sete anos fora, fizemos um show local em Nashville que foi uma surpresa. E nós dissemos a ele, ‘você escolhe algumas músicas que você realmente sentiu falta de tocar porque este é seu primeiro show em muito tempo’. E ele disse: ‘Eu realmente quero tocar ‘Decode’, eu sempre amei tocar bateria nela porque eu posso só bater na bateria’. Ambas as músicas nós escrevemos na passagem de som durante uma das turnês da Riot. Elas realmente, para mim, significam muito para a nossa história como banda – elas vieram em um momento terrível quando não estávamos nos dando bem e eu penso nisso mais do que penso, ‘Como foi ir para a estreia de [Crepúsculo]?” Nós tivemos muita sorte que por mais que nossas vidas estivessem desmoronando pessoalmente, estávamos conseguindo fazer todas essas coisas loucas e incríveis que as pessoas sonham a vida inteira em fazer. Eu amo que elas estejam em um filme – elas não estão em um álbum do Paramore, mas elas têm uma casa. Isso me lembra quando eu comprei a trilha sonora de Batman Forever quando criança, e tinha Seal e todos esses outros artistas nela, e era muito dramático e sombrio. Tipo, estamos em uma dessas trilhas sonoras. Isso é ridículo. Isso é tão estúpido. E eu amo isso. Então, eu tive que incluir.

RS: Quando você se sentou para planejar este podcast, como você passou por esse subgênero e decidiu o que entra e fica de fora?

HW: Eu agonizo com cada playlist, mesmo que esteja apenas fazendo uma playlist para minha irmã. Eu fiz uma mixtape antes na minha vida que não sei quantas pessoas da minha idade tem. Eu coloco muita pressão em mim mesma para fazer as playlists parecerem que tem um arco emocional. Mas a coisa mais divertida para mim ao fazer essas playlists foi redescobrir músicas, porque nem todas essas músicas são minhas músicas favoritas no mundo. Estou tentando fazer justiça à época em que essas músicas foram lançadas, a cena de onde elas saíram. Então eu também estou tentando gostar de coisas novas para as pessoas descobrirem novas bandas como Wet Leg e Fontaines D.C., que provavelmente são muito maiores no exterior do que aqui, mas as pessoas precisam saber sobre essas bandas. Onde eles estariam se todas essas outras bandas e essas cenas punk e de diferentes subgêneros não existissem primeiro, sabe?

RS: Em nossa recente reportagem de capa com o Bring Me the Horizon, Oli Sykes disse que a emoção extrema desapareceu na música por 10 anos, e as crianças estão redescobrindo isso agora. O que você acha disso? Por que você acha que as crianças podem estar gravitando em direção ao emo depois de uma década tão longa que não é realmente popular ou legal?

HW: Ah, essa é uma grande pergunta. O que é popular é como um pêndulo em constante balanço de um lado para outro. E eu vejo isso em tudo. Política, música, moda: estamos sempre indo de um extremo ao outro sem nem mesmo levar em conta o cinza no meio. Acho que estávamos em uma área cinzenta e não acho que isso seja ruim.

Eu acho que muita coisa boa saiu nos últimos 10 anos, certo, e muitas coisas realmente emotivas também. Eu penso em músicas que escrevi nos últimos 10 anos que eu nunca teria escrito 15, 20 anos atrás, que apenas exploravam sentimentos mais sutis e não tão extremos. Isso me deu uma maneira de conhecer melhor meus sentimentos. Porque eu tive aquele problema em que eu estava tipo, ‘tudo tem que ser raivoso, eu estou com raiva o tempo todo’. E ainda estou com raiva. Sou uma mulher adulta e ainda tenho muita raiva em mim. Mas havia coisas para mim que eu precisava explorar que não eram apenas raiva, ou apenas desgosto, ou apenas perda ou tristeza. Há toda aquela confusão no meio também.

Mas olhe para o mundo – o mundo está tão fodido e não consigo imaginar ser um adolescente agora. Não consigo imaginar crescer em um mundo onde desde o dia em que você nasceu, tem câmeras na sua cara, e você está nas redes sociais, e você nem sabe o que está lá fora, mas você está lá fora com sua imagem e você tem acesso a todas essas informações e algumas delas são realmente prejudiciais. Mas por outro lado, os jovens estão realmente muito cientes de coisas que quando eu tinha 15 anos, não sabíamos que existiam. Não estávamos tendo conversas profundas sobre política de identidade, não estávamos tendo conversas profundas sobre a crise climática. Esse tipo de coisa é muita pressão e é lindo que as crianças se importem. E acho que eles precisam de um lugar para colocar a frustração e precisam de um lugar para colocar todos esses sentimentos extremos que provavelmente seus cérebros ainda não conseguem entender completamente. Você não pode esperar que um adolescente ou uma criança seja capaz de racionalizar todas essas coisas. Eles não deveriam, mas é o mundo em que vivemos.

“Everything is Emo” com Hayley Williams está disponível no Back to Back Sounds: Amplified, da BBC Sounds.

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2 Replies to “Rolling Stone: Hayley Williams fala sobre “Everything is Emo”, seu novo podcast”

  1. Nossa, obrigada por legendarem eu queria muito ouvir e entender kkk. O trabalho de vocês é incrível!!!.
    Please, me diz que vocês trarão os próximos episódios também

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