O portal de música Noisey publicou uma matéria onde fala sobre nossa vocalista Hayley Williams. Vários assuntos interessantes foram abordados, entres eles a força que Hayley possui no mundo da música, sua presença de palco, versatilidade, seu engajamento em questões feministas, e mais.

Confira a tradução completa da matéria abaixo:

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É impossível falar sobre o Paramore sem falar sobre Hayley Williams. Quando os membros fundadores, Zac e Josh Farro, deixaram a banda em 2010 após um discurso público desagradável, eles emitiram uma declaração onde reclamavam que “tudo estava em torno de Hayley”. Você pode ver porquê é que eles estavam dizendo isso. Se você olhar para qualquer capa de revista, entrevista, vídeo, ela é o ponto de foco; os outros membros são apenas um borrão no fundo, ou simplesmente não estão lá. Ainda assim, é inegável que, para muitos, Williams ainda continua sendo o aspecto de maior inspiração da banda — mas por razões muito maiores que sua cartela de cores de tinturas de cabelo.

Ela é mais que apenas uma vocalista. Desde que começou a cantar no Paramore aos 15 anos, ela comandou um nível de atenção que tem se tornado uma bola de neve até uma adoração global inesperada. Apelando a todos, desde crianças que têm necessidade de ter um ídolo até adultos com renda suficiente para lançar coisas desse tipo, o Paramore rapidamente se tornou uma das maiores bandas alternativas do planeta. Em algum lugar entre ser a mais jovem banda a estar na Warped Tour e esgotar os ingressos da Wembley Arena em dez minutos, ela parou de ser apenas uma vocalista em uma banda para se tornar uma mulher de poder em uma escala que a música alternativa já não via desde que Gwen Stefani usou calças largas e suspensórios pela última vez. Confirmando o que já sabíamos, este mês ela foi anunciada como a primeira pessoa que receberá o novo Trailblazer Award no Women In Music Awards da Billboard, este ano. Mas como é que foi exatamente que uma jovem com cabelo da época do MySpace conseguiu chegar a um nível em sua carreira onde está recebendo prêmios ao lado de Taylor Swift e Ariana Grande?

Inicialmente, Hayley Williams representava o estranho e o esquisito; as crianças que usam camisetas de banda nos dias onde o uniforme não é necessário, raspam partes aleatórias de seus cabelos e passam seus finais de semana chorando no DeviantART. Ela é basicamente a Avril Lavigne da geração Angry Birds, mas ao invés de entrar em queda livre espetacularmente em uma decepção sem fim à medida em que crescia, Hayley evoluiu com seu púbico e começou a apelar à uma demografia que foi além da dos defensores do pop-punk.

Com o lançamento do ‘Paramore’, seu quarto álbum, Williams plantou um novo pé no pop comercial, mas o outro permaneceu fortemente enraizado no punk comercial, e ela ficou em cima do muro entre os dois de uma forma que nenhuma mulher já havia feito antes — pelo menos não com tamanho sucesso. Na rara ocasião em que uma banda punk que é liderada por uma mulher torna-se grande, elas lutam para fazer isso em um terreno dominado por homens e tendem a fazer melhor se rivalizarem com as convenções desse terreno. Pense no The Distillers ou — a uma medida — no Hole, onde tanto Brody Dale quanto Courtney Love foram (e ainda são) consideradas inerentemente “masculinas” porque elas fazem o diabo em cima do palco, bebem, e agem assertivamente. Sabe, como se supõe que os homens façam.

A indústria do rock ainda é muito duas caras, com um lado que diz “é assim que você deve ser para ter sucesso”, e com a outra que quantifica dizendo “mas nós iremos te julgar massivamente por isso se você for uma mulher.” E a despeito de quão bem elas o fazem, tanto Brody quando Courtney geralmente são taxadas de “vadias loucas”, onde alguém como Billi Joe Armstrong ou Patrick Stump seriam considerados legais por agirem da mesma maneira. E talvez é por causa disso que existem tão poucas mulheres na indústria da música alternativa. Apesar das mulheres estarem dominando as paradas do pop, hip-hop e R&B este ano, o rock e todos os seus sub-gêneros ainda têm um enorme problema com as mulheres — o problema em dizer que não há nenhum problema, e aqueles que estão segurando as pontas de estarem no meio, estão sob grande pressão e estigmatização.

A indústria do entretenimento sempre fará uma escolha seletiva de pessoas e irá as tornar em figuras do entretenimento. Então, independentemente se você é uma Courtney Love, ou uma Nicki Minaj, ou uma Hayley Williams, porque você é uma figura proeminente na música, você vai acabar na capa de uma revista feminina cercada de manchetes sobre exatamente a o quê você precisa se submeter para agradar o seu homem.

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Quanto mais você tentar evitar isso, ou mais legítima a entrevista parecer, eles sempre irão editar em um modo mais conformativo, mastigado (e por isso mais fácil de ser vendido) o que deixa de lado sua verdadeira carreira como artista. Mas, na maioria das vezes, Hayley tem administrado esta indústria de modo que ela toma conta das rédeas. Ela ainda conseguiu antecipar o inevitável fazendo piadas sobre seus próprios peitos, antes de um hacker vazar uma foto da cantora de topless e, ao mesmo tempo, lidar com o infortúnio de ser a única mulher no rock alternativo que já teve que lidar com esse aspecto da fama em primeiro lugar.

Porque Hayley, em certa medida, tem se inserido na parte da cultura de celebridades, na qual envolvem capas de revista e eventos com tapete vermelho. Ela também encontra-se em uma arena de exposição em massa, tipicamente ocupada por pessoas como Kim Kardashian e Paris Hilton. O fato é que ela tem sido sujeita à mesma horrenda invasão de privacidade, geralmente reservada para alguém com uma estrela de Hollywood, sendo incrivelmente estranho (e, obviamente, triste), mas também diz muito sobre onde ela se insere na escala de interesse público.

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É autodestrutivo o fato de Hayley ser uma vocalista feminina em uma área dominada pelos homens, também é injusto subestimá-la por isso. Para uma grande turnê que vendeu meio milhão de ingressos nos Estados Unidos e Canadá no ano passado, e que possui uma grande base de fãs feminina, você deveria pensar que o percentual de representação feminina no palco excederia seis por cento, mas na realidade a música alternativa ainda é predominantemente constituída por homens, e por isso pode criar um ambiente difícil para as mulheres jovens que esperam para atravessar as barreiras da multidão e ser consideradas legítimas artistas. No início de sua carreira, Hayley tinha que lutar contra o assédio dos músicos do sexo masculino 10 anos mais velhos que ela, corrigindo também através de postagens em blog, artigos que focavam em suas curvas ou como os outros membros do Paramore eram “suas vadias”. Ela lutou para ser levada a sério por uma multidão não acostumada a ver uma mulher no palco, e que não sabia o que gritar a ela além de “tire sua blusa!”. Hayley tem lidado com isso desde os 16 anos e continua a se abrir sobre o sexismo na música atualmente.

Basicamente, toda a sua importância comercial é um enorme “foda-se” para as convenções. Em uma cena onde se espera que as mulheres ocupem o menor espaço possível, ela está gritando mais alto que todos com um alcance vocal que abrange três oitavas. Ela é a pessoa que disse “Foda-se, vou ser a única pessoa no mundo que já tocou na Warped Tour e que também tem sua própria linha de cosméticos, porque colocar mulheres em caixas é estúpido e se preocupar com moda e gostar de música pesada são dois termos que não se excluem mutualmente. Vou andar até a gravação de um de nossos vídeos com tons pastel e neon, e uma camiseta com “Panaca” [DWEEB] escrito na frente, e de alguma forma parecer o oposto do que um panaca é, porque isso inspira pessoas jovens a ter confiança para vestir o que eles quiserem, mesmo que seja uma meia-calça horrível com falsa tinta amarela que dá a impressão de escorrer pelas pernas. E eu não me importo se os membros fundadores chamarem o Paramore de “produto manufaturado” porque mesmo assim lançaremos nosso álbum autointitulado e ele será ouro em três países, e nós iremos fazer um cruzeiro insano. E finalmente ganharei um Trailblazer Award, por causa de todas as coisas que fiz.”

Contra todas as probabilidades, Hayley Williams conseguiu navegar na indústria que tentou dar o seu melhor para transformá-la em um veículo para vender coisas, sejam revistas, maquiagem, ou música. E ela pode ter vendido todas essas coisas de alguma forma, mas ela o fez de uma forma que criou uma voz para pessoas jovens que se sentiam como se não se encaixassem. Ainda melhor, ela abriu um caminho para jovens mulheres adentrarem o mundo da música alternativa, que tipicamente só faziam parte desse mundo assistindo a tudo de fora.

*Esta matéria foi co-escrita pelo redator Luiz Barboza.

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2 Replies to “Hayley Williams já é uma das lendas do rock alternativo e prova ser muito mais do que uma cantora”

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